A gente já sabe que os amigos de Jó foram severos com ele. O próprio Deus reprovou as palavras de Elifaz, Bildade e Zofar. Mas numa coisa eles acertaram. Quando eles souberam do que acontecera ao seu amigo, cada um saiu do seu lugar e os três combinaram de ir juntos se condoer com Jó, que acabara de passar pela maior tragédia de que já ouviram falar. Eles se encontraram e partiram juntos para consolar seu amigo.
A Bíblia diz que, de longe, eles veem Jó, que de tão desfigurado pelo sofrimento, não pode ser reconhecido por eles. Cada um levanta a sua voz em choro, rasga as suas vestes e lança pó sobre sua cabeça, em sinal de profunda tristeza e desespero. Eles se condoeram no sentido mais visceral que essa palavra possa ter. A dor do outro doeu neles também.
Quando finalmente conseguiram se recompor e chegar perto de Jó, não souberam o que dizer. Por sete dias e sete noites, aquele grupo de quatro homens permaneceu ali. Sentados juntos por uma semana inteira, ficaram em silêncio, apenas sentindo a dor. Eles não estavam doentes; Jó é quem estava. Mas ali, sentados na terra, os quatro estavam nivelados pelo doer e condoer; todos calados, chorando e sofrendo, emudecidos diante da dor, porque era muito grande.
Passados os sete dias, Jó é quem rompe o silêncio. Talvez o aconchego criado naquele ambiente em volta da terra, tenha dado a ele a segurança e a coragem de que precisava para começar a desabafar. Ele finalmente fala! Bota pra fora! São palavras de adoração agora? Não, são palavras de dor. Mas em vez de encontrar consolo nas palavras que iria ouvir, Jó é rebatido por vozes de repreensão. Em vez de acalento, ele só ouve acusação nas palavras de seus amigos, daqueles que sabem chorar junto, mas não sabem o que dizer pra consolar.
Agradeço a Elifaz, Bildade e Zofar por essa valiosa lição. Quando não soubermos o que falar para consolar, é melhor não falar nada. Nossas palavras podem só aumentar a dor e despertar um sentimento de revolta no sofredor que as ouve. O melhor consolo é sentar-se com quem está chorando e chorar junto. É trazer alento à alma sofrida e desgastada, com um abraço em silêncio. É não desistir de estar ali do lado, até que passe a tormenta. Os amigos de Jó não souberam usar bem as suas palavras para consolar. Nós os condenamos, mas muitas vezes também não sabemos. É nessa hora, que devemos continuar ali, quietinhos, sentados no chão com quem está sofrendo, e pedir ao Espírito Santo, que não à toa, é chamado de Consolador, que faça o seu papel. Quando não soubermos o que falar pra consolar, é preciso reconhecer nossa fragilidade, chorar com quem chora e abrir espaço para que o Consolador entre em ação e todos sejamos alcançados pelo seu agir.