Talvez, aquele fosse mais um dia como outro qualquer. Uma mulher em casa, na companhia de seus filhos, envolvida nos afazeres do dia a dia. De repente, a família é assaltada pelo dia mal que, como de costume, bate à porta sem pedir licença. Rispa vê seus dois filhos sendo arrastados da segurança do lar em direção à morte. Culpados? Não. Eles não fizeram nada de errado, mas estavam pagando com a própria vida pela imprudência de seu pai, Saul.
Seus filhos são executados e desde então a história de Rispa é a personificação mais verossímil do que Paulo define como ‘combates por fora e por dentro, temores’. Durante meses essa mãe luta incessantemente, dia e noite, para proteger os corpos de seus filhos já mortos. Será que não teria sido menos árduo empregar tanta energia enterrando seus mortos do que insistir no combate contra as aves do céu e as feras da terra? O que faz uma mulher se empenhar em manter-se agarrada à dor? Por que não deixar partir? Romper os laços com o passado e recomeçar não parecia ser uma opção para ela.
Talvez nunca tenhamos resposta para o caso de Rispa. No entanto, fato é que ainda hoje, muitos reproduzem esse ciclo de autodestruição. Pessoas que não conseguem superar suas perdas, enterrar os seus mortos, voltar para casa e seguir em frente. Talvez, não porque tenham qualquer tipo de apreço pelo sofrimento, mas porque, simplesmente, não têm recursos para vencê-lo. Tornar-se vítima da sua dor e estacionar a vida, ou deixar pra trás o que passou e seguir em frente é escolha nossa: o esforço é o mesmo.
A boa notícia, é que nenhuma dor, por mais dilacerante que seja, precisa durar pra sempre.
Um dia alguém deu notícia da dor de Rispa para o rei. Tudo o que ela conseguia fazer pra lidar com aquela situação era continuar presa em seu ciclo de dor. Só um poder maior que o dela seria capaz de pôr fim aquele luto interminável.
Você tem uma vantagem que Rispa não tinha: ela dependeu de alguém para dar notícia de sua dor ao rei. Você tem livre acesso ao trono da Graça. Quando você se aproxima de Deus, Ele reage vindo em sua direção. Encare as fraquezas como oportunidades para Deus aperfeiçoar o poder Dele em você. Acredite: Ele tem total interesse nisso! Limite-se em contar apenas ao rei o que te faz sofrer. Dispense os mensageiros; você não precisa de intermediários. Permita que Ele cuide de você e te ajude a seguir em frente. Vale a pena se entregar aos cuidados Dele. Entregue a Deus suas impossibilidades, suas fraquezas e suas incapacidades. Ele sabe o que fazer com elas. Por mais penoso que seja se desvencilhar das dores do passado, lembre-se de que recomeçar é preciso, romper é imperativo, reerguer-se é urgente! Não se preocupe se te faltarem forças pra tentar: é justamente a nossa fraqueza que abre o caminho para o aperfeiçoar do Seu poder em nós, pois quando estamos fracos, aí é que somos fortes.
Não existe nenhuma surpresa no dia seguinte lá no alto da rocha. Todas as manhãs anunciam a rotina das mesmas lutas. A novidade está em ousar descer e criar coragem para fazer o caminho de volta para casa. Deixe o passado pra trás e acredite no Deus que faz novas todas as coisas! Elas já estão saindo à luz: abra os olhos para enxergá-las e o coração para viver um novo tempo.