A distinção entre o cristão ativo e o cristão ativista revela não apenas nuances comportamentais, mas sobretudo distintas compreensões teológicas e antropológicas da vida cristã. O termo “ativo” deriva do latim activus, que remete àquele que age com eficácia, enquanto “ativista” provém do mesmo radical, acrescido da ideia de militância ou empenho constante em uma causa. No contexto cristão, essa diferença etimológica ganha relevo: o cristão ativo é aquele cuja vida espiritual é integrada de forma orgânica à prática cotidiana,
em um equilíbrio entre contemplação e ação. Seu compromisso com o Reino de Deus não se resume a uma agenda de tarefas religiosas, mas nasce da interioridade cultivada pela oração, pelo estudo das Escrituras e pela comunhão com Deus.
Nesse sentido, sua atuação é expressão de uma fé encarnada, mas não instrumentalizada, marcada pela humildade e pelo discernimento, em que o termo discernimento, no grego bíblico diakrisis, carrega o sentido de separar, distinguir com clareza espiritual aquilo que provém do Espírito e aquilo que é da carne (1 Coríntios 12:10). Aqui, o Espírito Santo não é apenas uma doutrina, mas uma Pessoa viva que orienta, consola e impulsiona o cristão a agir segundo o coração de Deus. A oração em línguas, a escuta sensível à voz do Espírito e a prática constante da presença de Deus são marcas de uma vida que flui do altar para o mundo.
Por outro lado, o cristão ativista, embora muitas vezes movido por intenções legítimas, pode incorrer no risco de uma hiperatividade desprovida de raiz espiritual profunda. O ativismo, entendido aqui como excesso de ação dissociada da intimidade com Deus, tende a exaurir a alma. Seu engajamento, frequentemente moldado por demandas externas ou por imperativos ideológicos, valoriza a produtividade e a visibilidade em
detrimento da interioridade. O termo “interioridade” pode ser compreendido à luz do hebraico leb (לב), que significa coração, centro do ser, sede da vontade e da comunhão com Deus. Quando essa dimensão é negligenciada, a espiritualidade corre o risco de tornar-se funcional, subordinada a causas, ainda que nobres, mas que desfiguram o caráter contemplativo da fé cristã. A ação, quando desconectada do ser, pode se tornar estéril ou mesmo fonte de orgulho espiritual.
Essa tensão remete à célebre narrativa evangélica de Marta e Maria (Lucas 10:38-42), na qual Jesus confronta a lógica do fazer pelo fazer, afirmando que “uma só coisa é necessária”, a escuta atenta e reverente à sua presença. A crítica de Jesus não visa desqualificar o serviço, mas denunciar a inversão de prioridades que ocorre quando o ativismo sufoca a intimidade. Maria não apenas sentou-se aos pés de Jesus, mas permaneceu ali, atenta – um gesto que remete à postura de quem deseja não apenas ouvir, mas absorver, internalizar e obedecer. Nesse sentido, o cristão ativo reconhece que sua força provém da permanência em Cristo (menō no grego, João 15:4-5), enquanto o cristão ativista corre o risco de operar desvinculado da seiva espiritual que sustenta a verdadeira missão.
Portanto, a diferença entre essas duas figuras não está apenas no volume de suas ações, mas na fonte que as alimenta. O cristão ativo age como um ramo que permanece na videira (João 15), frutificando naturalmente em tempo oportuno; o ativista, por sua vez, pode se assemelhar a um ramo cortado, que ainda aparenta vitalidade por algum tempo, mas carece de vida duradoura. Em tempos marcados por sobrecarga, visibilidade e desempenho, recuperar a centralidade do “ser em Cristo” é não apenas um imperativo espiritual, mas também um gesto profético contra a lógica mundana de ativismo desenfreado. Mais do que agir para Deus, o chamado é viver em Deus – cheios do Espírito (Efésios 5:18), movidos pela Graça e não pelo esforço próprio, lembrando sempre que “não é por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor” (Zacarias 4:6).
Vamos orar juntos sobre isso?
Senhor,
ensina-me a viver em Ti antes de agir por Ti.
Guarda meu coração da pressa, do ativismo vazio,
e leva-me de volta ao lugar secreto onde a Tua presença é tudo.
Que meu serviço, a essência da mordomia cristã em mim, nasça da intimidade contigo,
e que meu fruto venha da Tua seiva, não do meu esforço.
Dá-me discernimento para não trocar comunhão por desempenho humano,
nem Tua voz por eco vazio das obrigações puramente religiosas.
Espírito Santo, sopra em mim o equilíbrio entre contemplar e servir,
para que eu não apenas fale de Ti,
mas viva contigo todos os dias.
Em nome de Jesus em oro e Te agradeço,
Amém e amém.