Quando Jesus envia os discípulos em missão, Ele não lhes promete facilidade, mas verdade. Suas palavras são diretas: “Eis que eu os envio como ovelhas para o meio de lobos; portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mateus 10.16). A imagem é desconcertante. Ovelhas são frágeis, indefesas, incapazes de lutar contra lobos. E, ainda assim, é nesse cenário de vulnerabilidade que Jesus define a identidade de quem o segue. O discípulo não é chamado a usar a mesma lógica dos lobos, mas a permanecer como ovelha, dependendo do Pastor que guia.
A tensão que Jesus propõe é profunda: prudência e simplicidade. Ser prudente como a serpente significa discernir as intenções ocultas, compreender os tempos, perceber o perigo sem ingenuidade. Ao mesmo tempo, ser simples como a pomba aponta para um coração sem duplicidade, marcado pela pureza, pela integridade e pela transparência. Trata-se de um equilíbrio delicado: não ceder à malícia do mundo, mas também não se deixar vencer pela ingenuidade. O discípulo de Cristo aprende a viver entre a esperteza que não corrompe e a inocência que não é tola.
Jesus continua e diz: “Quando os entregarem, não se preocupem com o que dizer ou como falar, pois naquela hora lhes será concedido o que deverão dizer. Porque não serão vocês que falarão, mas o Espírito do Pai falará por meio de vocês” (Mateus 10.19-20). Aqui se revela uma promessa extraordinária. O Senhor não envia seus seguidores desarmados, ainda que sejam ovelhas em meio a lobos. Ele garante a presença constante do Espírito que inspira, fortalece e coloca palavras vivas na boca de quem confia. Não se trata de retórica, eloquência ou habilidade humana, mas de dependência de uma presença maior que sustenta e conduz.
Nos dias de hoje, esse chamado é igualmente urgente. A hostilidade pode não vir de tribunais ou prisões, mas das pressões no ambiente de trabalho, das conversas difíceis em família ou da resistência de uma sociedade que valoriza mais a imagem do que a Verdade. Em tais momentos, ser prudente é não agir de forma precipitada, é discernir antes de falar, é perceber o ambiente. Ser simples é viver com autenticidade, sem máscaras, sem duplicidade, permitindo que a vida seja coerente com aquilo que se crê. E confiar no Espírito é descansar na promessa de que, no momento certo, virá a palavra necessária, ainda que a mente humana se sinta incapaz.
A missão que Jesus confiou aos discípulos continua a mesma para nós. Ele ainda nos envia como ovelhas em meio a lobos, e o desafio permanece em equilibrar sabedoria e pureza, discernimento e transparência, coragem e dependência. A segurança não está em nossa força, mas na certeza de que o Espírito fala por nós. Quando faltam as palavras, Ele supre. Quando os cenários parecem hostis, Ele guia. Quando o coração hesita, Ele fortalece.
Assim, cada seguidor de Cristo é chamado a viver essa tensão com confiança. Não é pelo poder da espada nem pela astúcia dos lobos que o Reino avança, mas pela fé daquele que, mesmo frágil como uma ovelha, aprende a depender totalmente do Pastor.