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A Soberania de Deus no Governo Humano

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Diversos textos bíblicos dos profetas maiores Isaías, Jeremias e Daniel descrevem a ação soberana de Deus na vida de monarcas pagãos que dominaram o território de Israel. A ideia de que Deus usou reis ímpios para cumprir os seus propósitos era uma mensagem difícil de aceitar. Por isso, os profetas enfatizaram a soberania de Deus e a forma como ele tratou cada rei pagão.   

De acordo com o dicionário Easton soberania é o direito absoluto de Deus de fazer todas as coisas de acordo com sua própria vontade (Dn. 4:25,35; Rm. 9: 15-23; 1 Tm. 6:15; Ap. 4:11). Para Pink (1997, p.21) “soberania de Deus” significa afirmar a supremacia de Deus, a realeza de Deus, a divindade de Deus. Dizer que Deus é soberano é declarar que Deus é Deus, é declarar que ele é o Altíssimo, o qual tudo faz segundo sua vontade no exército dos céus e entre os moradores da terra; “Não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35). Dizer que Deus é soberano é declarar que ele é onipotente, possuidor de todo o poder nos céus e na terra, de tal maneira que ninguém pode impedir os seus conselhos, contrariar os seus propósitos ou resistir à sua vontade (Sl 115.3). Dizer que Deus é soberano é declarar que ele “governa as nações” (Sl 22.28), estabelecendo reinos, derrubando impérios e determinando o curso das dinastias, segundo o seu agrado. Dizer que Deus é soberano é declarar que ele é o “único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores” (1 Tm 6.15). 

A nação de Israel ao longo da história bíblica foi dominada por diversos povos estrangeiros tais como, babilônios, persas, gregos e romanos. Apesar da dominação estrangeira, Deus nunca perdeu o controle, Deus continuou soberano em sua posição inabalável. Alguns reis estrangeiros ganharam um destaque especial no relato bíblico como Nabucodonosor da Babilônia e Ciro da Pérsia. Para os judeus, Nabucodonosor era uma figura negativa porque foi ele quem os levou para o cativeiro, destruiu o templo e a cidade de Jerusalém. Por outro lado, Ciro era visto como uma figura positiva porque ele ordenou o retorno dos judeus e a reconstrução do templo. Embora ambos fossem reis pagãos, os profetas registraram como Deus os tratou: a Nabucodonosor, Deus o chamou de “meu servo” e a Ciro de “meu pastor” e “ungido”.

O rei Nabucodonosor conquistou Judá por volta do ano 606 a.C. De acordo com Feinberg (1986, p.531), Nabucodonosor é chamado três vezes de servo de Deus ou “Nabucodonosor, meu servo” (Jr 25:9; 27:6 e 43:10). A caracterização de Nabucodonosor como o servo do Senhor mostra a magnitude da obra confiada a ele, isso significa que, como instrumento do Senhor, ele executaria o plano divino para Judá e as demais nações. Isso significa que Nabucodonosor estava inconscientemente fazendo a vontade de Deus ao subjugar as nações, incluindo Judá.

Para Jamieson (1997, p. 531) Deus faz até mesmo os descrentes inconscientemente cumprirem seus desígnios, isso é um sinal claro da reprovação dos judeus, que se gabavam de serem servos de Deus; contudo, um rei pagão foi considerado mais servo de Deus do que o próprio povo de Deus. MacDonald (2011, p.684), afirma que durante 23 anos, o profeta Jeremias avisou todo o povo de Judá acerca do juízo; outros homens de Deus não cessaram de chamá-los ao arrependimento mas como eles não deram ouvidos, Deus levantou Nabucodonosor para levá-los ao cativeiro onde permaneceram no exílio por setenta anos.

O termo hebraico עַבְדִּי (ʿaḇdî)[1] que significa “meu servo” tem várias conotações possíveis: (1) pode designar um servo de Deus como um profeta (Nm 12: 7–8); (2) todo o Israel (Is 42:19); (3) o remanescente fiel de Israel (Is 41:9–10); (4) um indivíduo piedoso, não necessariamente da nação de Israel (Jó 1: 8); (5) o Messias, o Servo por excelência (Is 42:1, 49:3; 50:4-9; 52:13-53:12); (6) um descendente da dinastia davídica (Ag 2:23); (7) governantes incrédulos, que também derivam sua autoridade de Deus – por exemplo, Ciro (Is 45:1) e Nabucodonosor (Jr 27:6)  que são instrumentos de Deus para cumprir sua vontade (Rm 13:1). Curiosamente, na septuaginta (LXX) ʿaḇdî é omitido ou alterado sempre que se refere a Nabucodonosor (Jr 27:6, 43:10).

(FEINBERG 1986, p. 545)

Newman e Stine (2003, p. 531) entendem a expressão “meu servo” referida a Nabucodonosor não como aquele que adorava ao Senhor, mas sim que “serve” ao Senhor ou faz a obra do Senhor, trazendo punição sobre o povo de Judá. A maioria das traduções mantém a expressão “meu servo”, mas para idiomas que não têm uma palavra equivalente para “servo”, são usadas expressões como “quem faz meu trabalho” ou “quem está fazendo o que eu quero”.  O autor do livro profético de Jeremias no capítulo 21:2 afirmou que Deus entregaria a cidade de Jerusalém ao rei da Babilônia para que fosse queimada. Neste aspecto, Barry et al (2016, n.p.) concorda que a frase “Nabucodonosor, rei da Babilônia, meu servo” identifica explicitamente o inimigo do norte como o agente de julgamento. Holladay (1989, p. 121) menciona uma especulação teológica que destacou Nabucodonosor como uma figura negativa ao lado de Ciro como uma figura positiva. No próximo artigo será explorada a ação de Deus na vida de Ciro e Nabucodonosor.

REFERÊNCIAS

BARRY, J. D., MAGNUM,  D., BROWN, D. R., HEISER, M. S., CUSTIS, M., RITZEMA, E., BOMAR, D. Faithlife Study Bible. Bellingham, WA: Lexham Press, 2016.
EASTON, M. G. In Easton’s Bible dictionary. New York: Harper & Brothers. 1893
MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Antigo Testamento. 2a edição. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
FEINBERG, C. L. The Expositor’s Bible Commentary: Isaiah, Jeremiah, Lamentations, Ezekiel. Vol. 6. Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1986.
HOLLADAY, W. L. Jeremiah 2: a commentary on the Book of the Prophet Jeremiah, chapters 26–52. Minneapolis, MN: Fortress Press, 1989
JAMIESON, R., FAUSSET, A. R., BROWN, D. Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible. Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, 1997.
NEWMAN, B. M., Jr., STINE, P. C. A handbook on Jeremiah. New York: United Bible Societies, 2003.
PINK, A. W. Deus é Soberano. Segunda Edição. São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 1997.
STRONG, J. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.


[1] Todas as palavras hebraicas e suas transliterações desta pesquisa são provenientes do Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.

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