A palavra Apocalipse, do grego αποκάλυψις (apokálypsis), significa revelação, formada pelo prefixo απο (apo) “tirado de” e por κάλυμμα (kalumna) “véu”. Portanto, apocalipse, significa literalmente, “tirar o véu”, ou seja, revelar o que estava oculto. Diferentemente do que muitos pensam, Apocalipse não é um livro de mistérios, mas trata-se da revelação de Jesus Cristo aos Seus servos.
Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando o seu anjo, deu a conhecer ao seu servo João, que atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu (Apocalipse 1.1,2).
O livro de Apocalipse é classificado como o único livro profético do Novo Testamento. A profecia bíblica do Novo Testamento divide a raça humana em três grupos: judeus, gentios, e a Igreja (1 Co 10.32)[i].
Não se tornem motivo de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos (1 Coríntios 10.32,33).
O estilo literário do último livro da Bíblia é semelhante ao encontrado nos livros de Daniel, Ezequiel e Zacarias no Antigo Testamento, contudo, é único no Novo Testamento. O livro de Apocalipse caracteriza-se como um tipo de literatura que se tornou comum a partir do segundo século antes de Cristo, isto é, a literatura apocalíptica. Esse tipo de texto utiliza muitos símbolos e figuras que eram comuns em diversos textos do Antigo Testamento, inclusive, uma dica muito importante para entender o Apocalipse é fazer uso do texto bíblico. Dessa forma, destaca-se o princípio hermenêutico de interpretar a Bíblia pela própria Bíblia[ii].
A próxima figura, demonstra o quanto do Apocalipse pode ser encontrado no Antigo Testamento. Dos 404 versículos do livro de Apocalipse no texto grego de Westcott e Hort, 278 são referências a textos do Antigo Testamento, tendo apenas 126 versículos exclusivos[iii]. Isso significa que 68% do livro de Apocalipse está revelado em outros textos do Antigo Testamento. Portanto, a chave hermenêutica para entender Apocalipse está no próprio texto bíblico. Sendo assim, é possível concluir que para compreender bem o Apocalipse, é necessário conhecer o Antigo Testamento.
Na tabela a seguir é possível identificar as semelhanças entre a manifestação de Cristo no Antigo Testamento a Daniel e em Apocalipse a João.
Nos Evangelhos temos a manifestação da mensagem divina para a Igreja, nas Epístolas, a explanação da mensagem e no Apocalipse, a mensagem final de Deus para os judeus, gentios e a Igreja[iv]. Dessa forma, nos Evangelhos somos levados a crer em Cristo; nas Epístolas, a amá-lo; e no Apocalipse, a esperá-lo. O livro de Apocalipse é indescritivelmente belo em sua linguagem simbólica, em seu propósito e em seu significado.
Onde, em toda a literatura, encontraríamos qualquer coisa que possa superar a majestosa descrição do Filho do homem andando no meio dos sete candeeiros (Ap 1.12-20), ou do vívido retrato de Cristo, Fiel e Verdadeiro, avançando até a vitória, montado num cavalo branco, com uma vestimenta respingada de sangue, seguido dos exércitos celestiais (19.11-16)?[1].
Apocalipse pode ser recebido sob duas perspectivas: para os fiéis, é um livro de esperança e de consolo, contudo, para os infiéis, é motivo de desespero, de julgamento, de acertar as contas com o Justo Juiz. Dessa forma, o texto de Paulo aos Romanos explica perfeitamente essas duas situações: Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, mas bondade para com você, desde que permaneça na bondade dele. De outra forma, você também será cortado. (Romanos 11.22) Deus é amor, mas também é justiça, um atributo não anula o outro. Portanto, de que lado você prefere estar?
Este artigo é uma pequena porção da obra: Apocalipse: Fonte de Medo ou Esperança? Edição do Kindle.
[1] HENDRIKSEN, W. Mais que vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 2018.
[i] Gilberto (2014, p. 77)
[ii] MacDonald (2011, p. 991)
[iii] Swete (1917, p. CXL)
[iv] Gilberto (2014, p. 77)