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João Batista: Figura de Transição entre os Testamentos

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Sua atuação e identidade profética remetem diretamente às promessas e expectativas messiânicas da tradição veterotestamentária, ao mesmo tempo em que introduzem a nova realidade inaugurada pela encarnação de Cristo.

João Batista emerge como uma figura na narrativa bíblica, atuando como elo de ligação entre o Antigo e o Novo Testamento.No contexto do Antigo Testamento, João é apresentado como o último dos profetas, encerrando uma longa linhagem de homens que falaram em nome de Deus e anunciaram a vinda do Messias. Sua figura evoca especialmente o profeta Elias, não apenas por seu estilo de vida ascético e pela força de sua pregação, mas pela própria função escatológica que lhe é atribuída nos Evangelhos (cf. Mt 11:14; Mc 9:11-13). A semelhança com Elias aponta para a continuidade da mensagem profética e para o cumprimento das promessas divinas em Jesus Cristo.

Contudo, João Batista não apenas conclui o ciclo profético veterotestamentário, mas também inaugura uma nova era. Ele é aquele que “prepara o caminho do Senhor”, cumprindo as palavras de Isaías (cf. Is 40:3; Mt 3:3), e sua pregação do arrependimento e do batismo antecipa a proclamação do Reino de Deus feita por Jesus. João representa, assim, a transição entre a antiga aliança baseada na Lei e nos Profetas, e a nova aliança fundada na graça e na verdade manifestas em Cristo.


Cada personagem envolvido nesse cenário assume papel relevante. Os escribas e fariseus, que rejeitam João, representam a resistência institucional à renovação espiritual. O povo que acorre ao deserto para ouvi-lo simboliza a sede espiritual e a esperança de libertação. O próprio Jesus, ao se submeter ao batismo de João, legitima sua missão e inaugura seu ministério público, revelando o início da nova criação.

Portanto, João Batista não pode ser compreendido apenas como um profeta entre outros, mas como figura liminar que sintetiza o passado profético e anuncia o novo tempo de salvação. Seu ministério demarca o fim de uma era e o surgimento de outra, apontando para Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29). Sua vida e missão convidam a uma releitura teológica da relação entre promessa e cumprimento, profecia e realização, Antiga e Nova Aliança.

João e Jesus: figuras da transição entre alianças e o rompimento profético

O Evangelho segundo Lucas propõe um paralelo deliberado entre João Batista e Jesus ao narrar seus anúncios, nascimentos e episódios da infância. Esse recurso literário e teológico não visa apenas destacar semelhanças, mas sobretudo evidenciar o momento decisivo de transição entre a Antiga e a Nova Aliança. João, com suas raízes no sacerdócio levítico e sua missão profética, representa a culminação da esperança messiânica de Israel. Jesus, por sua vez, é a plenitude da promessa — o Messias que inaugura uma nova etapa na história da salvação.

O encontro entre Maria e Isabel (Lc 1:39-45) é emblemático. Nele, a Antiga Aliança — representada por Isabel, mulher estéril agora fecunda — reconhece e se alegra diante da chegada da Nova Aliança — simbolizada por Maria, virgem que concebe pelo Espírito. Quando Maria saúda sua parenta, João estremece de júbilo ainda no ventre, como que reconhecendo antecipadamente o Senhor que vem. Isabel, cheia do Espírito Santo, proclama a identidade de Maria como “mãe do meu Senhor” (Lc 1:43), revelando que o novo tempo já irrompeu no seio da história.

Nesse contexto, Zacarias e Isabel, junto com Simeão e Ana (Lc 2:25-38), simbolizam o que há de mais fiel e justo na tradição de Israel. Eles são o remanescente santo que aguardava a consolação de Jerusalém. Contudo, a missão do filho de Isabel não aponta para si mesmo: João será grande não como fim, mas como ponte. Conforme Lucas 1:17, ele virá “no espírito e poder de Elias”, para preparar um povo bem disposto ao Senhor. Sua grandeza reside em ser o último dos profetas da Antiga Aliança e o arauto do Novo.

Lucas reforça essa ruptura ao dizer: “A Lei e os Profetas duraram até João; a partir de então é anunciado o Reino de Deus” (Lc 16:16). João é o ponto de inflexão entre o tempo da promessa e o tempo do cumprimento. Ele é, por excelência, o profeta limítrofe, cuja missão é preparar a chegada da Palavra encarnada.

Nesse horizonte de transição, o silêncio de Zacarias assume função alegórica: quando o sacerdote duvida da promessa do anjo, fica mudo até o nascimento do filho (Lc 1:20.64). Esse mutismo não é mero castigo pessoal, mas figura teológica do silêncio profético que se instaurou após os últimos profetas do Antigo Testamento. É como se o Antigo tivesse cessado sua voz até que o Novo pudesse falar. Quando João nasce e Zacarias escreve seu nome, sua boca se abre, e ele profetiza — inaugurando, assim, a passagem para o tempo messiânico.

Portanto, João Batista representa o término glorioso da Antiga Aliança, cheio do Espírito desde o ventre materno, enquanto Jesus é o início da Nova, aquele em quem todas as promessas encontram sua realização. João é o amigo do noivo ((Jo 3:29) Temos também uma referência aos amigos do noivo da parábola das 10 virgens- ref. Mt 25:1-13), o preparador do caminho; Jesus é o Esposo, o Salvador, o cumprimento. O paralelismo entre ambos, no relato lucano, é mais que uma coincidência de histórias: é uma construção teológica que revela a harmonia entre o passado e o futuro no projeto de Deus.

A revelação cristológica no batismo e na missão de Jesus segundo Mateus”

Os textos de Mateus 3:13-17 e 11:2-19 revelam, de maneira densa e simbólica, o coração da Cristologia do Evangelho segundo Mateus. Neles, a figura de Jesus se apresenta como o cumprimento da vontade salvífica de Deus, revelando uma justiça que surpreende tanto por sua profundidade quanto por sua forma: a encarnação da humildade, o escândalo da cruz e a sabedoria paradoxal do Reino. O batismo de Jesus inaugura sua missão messiânica em obediência à justiça divina, enquanto a resposta a João Batista, já preso, revela a tensão entre a expectativa messiânica tradicional e a realidade do Cristo sofredor. Neste contexto, a afirmação de que “a sabedoria é justificada por suas obras” (Mt 11:19) ressoa como uma chave hermenêutica para compreender a identidade e missão[1] de Jesus.

O batismo de Jesus e a justiça cumprida (Mt 3:13-17)

Ao se aproximar de João Batista para ser batizado, Jesus realiza um gesto simbólico e teológico. João, reconhecendo a superioridade de Jesus, tenta impedir o ato: “Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3:14). A resposta de Jesus, porém, é reveladora: “Deixa por agora, pois convém que assim cumpramos toda a justiça” (v. 15). A expressão “cumprir toda a justiça” (πληρῶσαι πᾶσαν δικαιοσύνην) carrega o peso da missão redentora de Jesus, que não consiste em uma justiça punitiva ou legalista, mas na obediência total à vontade de Deus (cf. Mt 5:17; Sl 40:7-9 LXX).


[1] Reticência de Jesus quanto aos títulos tradicionais

Jesus demonstra reserva quanto ao uso de títulos messiânicos tradicionais, pois estes poderiam induzir mal-entendidos político-nacionalistas e deslocar o foco de sua missão: a proclamação da soberania do amor de Deus.

Os títulos vigentes no judaísmo não acomodavam plenamente a singularidade da missão de Jesus, que rompeu os moldes tradicionais de mediação da salvação.

No contexto do judaísmo do Segundo Templo, havia uma expectativa messiânica envolvendo figuras como o rei davídico, o sumo sacerdote escatológico, o profeta semelhante a Moisés, o Filho do Homem, entre outros. Esses títulos carregavam não apenas conotações religiosas, mas também implicações político-nacionalistas e escatológicas.

Jesus, contudo, evita assumir abertamente muitos desses títulos. Essa reticência está ligada ao fato de que os termos e categorias disponíveis não correspondiam plenamente à natureza e à missão que ele encarnava.

 Ele não veio restaurar Israel como uma nação política independente, nem liderar uma revolta contra Roma. Sua missão transcende o nacionalismo judaico e rompe com os moldes tradicionais de mediação da salvação, centrados no Templo, na Lei e nas estruturas sacerdotais.

Por isso, Ele frequentemente silencia ou desvia o foco quando é identificado como “o Cristo” (cf. Marcos 8,29-30). Isso se alinha ao que a teologia chama de “segredo messiânico” (conforme Wrede), uma estratégia pedagógica de Jesus para evitar interpretações equivocadas de sua identidade.

Jesus, contudo, evita assumir abertamente muitos desses títulos. Essa reticência está ligada ao fato de que os termos e categorias disponíveis não correspondiam plenamente à natureza e à missão que ele encarnava.

 Ele não veio restaurar Israel como uma nação política independente, nem liderar uma revolta contra Roma. Sua missão transcende o nacionalismo judaico e rompe com os moldes tradicionais de mediação da salvação, centrados no Templo, na Lei e nas estruturas sacerdotais.

Por isso, Ele frequentemente silencia ou desvia o foco quando é identificado como “o Cristo” (cf. Marcos 8,29-30). Isso se alinha ao que a teologia chama de “segredo messiânico” (conforme Wrede), uma estratégia pedagógica de Jesus para evitar interpretações equivocadas de sua identidade.

A justiça aqui é teológica, não meramente ética: trata-se da realização do plano salvífico divino. O batismo de Jesus, portanto, não é um rito de arrependimento por pecados próprios, mas um ato de solidariedade com a humanidade caída, um mergulho no Jordão que antecipa sua descida à morte e sua elevação na ressurreição. A cena é selada com a manifestação trinitária: os céus se abrem (cf. Is 64:1), o Espírito desce em forma de pomba (eco de Gn 1,2 e da nova criação em Gn 8:8-12), e a voz do Pai o declara Filho amado (Sl 2:7; Is 42:1). Mateus apresenta aqui a consagração pública de Jesus como Messias, Servo Sofredor e Filho de Deus.

A crise de João e a resposta messiânica (Mt 11:2-6)

Algum tempo depois, João, agora preso por denunciar Herodes (Mt 14:3-4), envia seus discípulos para perguntar a Jesus: “És tu aquele que haveria de vir, ou devemos esperar outro?” (Mt 11:3). A dúvida de João revela a tensão entre sua pregação apocalíptica de juízo (cf. Mt 3:10-12) e a prática messiânica de Jesus, marcada por compaixão, cura e inclusão dos marginalizados.

Jesus responde não com uma afirmação direta, mas com uma citação implícita de Isaías (cf. Is 35:5-6; 61:1): “os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciada a boa nova” (Mt 11:5). Notavelmente, Jesus omite o “dia da vingança do nosso Deus” (Is 61:2), indicando que sua missão messiânica, neste momento, não será de juízo, mas de salvação. A bem-aventurança que segue — “Bem-aventurado aquele que não se escandaliza por minha causa” (v. 6) — é uma advertência sutil: o Reino de Deus não vem com o espetáculo do poder terreno, mas com o escândalo da cruz (cf. 1Cor 1:23).

A sabedoria de Deus e sua justificação nas obras de Cristo (Mt 11:7-19) Após responder aos discípulos de João, Jesus se dirige à multidão e inicia uma reflexão crítica: “Que fostes ver no deserto?” (v. 7). Ele confirma o valor profético de João, identificando-o como o mensageiro de Malaquias (Ml 3:1) e o precursor do Reino. Ainda assim, aponta para uma rejeição generalizada da revelação: João, com seu ascetismo, foi acusado de ter demônio; Jesus, com sua convivência com publicanos e pecadores, foi considerado glutão e beberrão (v. 18-19).

Essa crítica culmina na frase-chave: “Mas a sabedoria foi justificada por suas obras” (v. 19). Aqui, “sabedoria” (σοφία) representa o agir divino encarnado em Jesus. O verbo “justificar” (ἐδικαιώθη) indica que, apesar da rejeição e do escândalo, os frutos do ministério de Cristo demonstram sua legitimidade. A sabedoria divina, como no livro dos Provérbios (cf. Pr 8), não se impõe pela retórica, mas se comprova na prática redentora: curando, restaurando, reconciliando. A sabedoria de Deus, crucificada (1Cor 1:24), é revelada nas ações concretas do amor.

Implicações teológicas e pastorais

A teologia de Mateus desafia o leitor a repensar suas categorias de justiça, sabedoria e messianismo. O batismo de Jesus nos ensina que a justiça divina se cumpre não no afastamento do pecador, mas na solidariedade com ele. O questionamento de João e a resposta de Jesus nos mostram que a revelação de Deus frequentemente contraria as expectativas religiosas — inclusive as mais piedosas. E a frase final sobre a sabedoria nos convida a avaliar a fé não pelas aparências ou palavras, mas pelas obras que revelam o Reino.

A comunidade cristã, ao seguir o Cristo que cumpre toda a justiça, é chamada a participar de sua missão: encarnar a sabedoria de Deus por meio de ações que promovam vida, justiça, misericórdia e reconciliação. Em tempos de polarizações e discursos triunfalistas, o escândalo do Cristo humilde, que se deixa batizar, curar e ser crucificado, permanece como o critério da verdadeira fé.

A revelação cristológica no batismo e na missão de Jesus segundo Mateus”

Introdução Os textos de Mateus 3:13-17 e 11:2-19 articulam uma Cristologiaenraizada na obediência à vontade do Pai e no escândalo da sabedoria divina. Em sua estrutura narrativa, Mateus constrói a identidade de Jesus não apenas a partir de declarações messiânicas, mas por meio de obras visíveis de libertação, sinais escatológicos que revelam a chegada do Reino. No batismo, Jesus manifesta sua solidariedade com a humanidade e sua submissão à justiça divina. Já na controvérsia com “esta geração” (Mt 11:16), evidencia-se a dureza de coração diante do chamado à conversão. Essa rejeição, contudo, não anula a validade da missão: “a sabedoria é justificada por suas obras” (Mt 11:19).

O batismo como cumprimento da justiça (Mt 3:13-17)

O gesto de Jesus ao se apresentar para o batismo de João carrega um sentido. Diante da recusa de João, que reconhece não ser digno de tal ato, Jesus afirma: “Convém que assim cumpramos toda a justiça” (v. 15). Essa justiça, segundo Rinaldo Fabris, não é apenas cumprimento da Lei, mas participação no plano salvífico de Deus. Trata-se da justiça escatológica, que se realiza na submissão ao Pai e na identificação com os pecadores, antecipando o caminho da cruz.

“A justiça, que Jesus afirma dever cumprir com João, não é a simples observância da lei, mas a realização do plano de Deus, que se manifesta na solidariedade com os pecadores e na obediência ao Pai.”[1]

A manifestação trinitária que se segue — os céus abertos, o Espírito em forma de pomba e a voz do Pai — confirma a identidade messiânica de Jesus como Filho de Deus e Servo Sofredor (cf. Is 42:1; Sl 2:7). A inauguração de sua missão pública é, portanto, marcada pela humildade e pela comunhão com os marginalizados, não pelo poder triunfante.

A crise de João Batista e o Messias inesperado (Mt 11:2-6)

O encarceramento de João representa o drama da incompreensão do Reino. Sua pergunta a Jesus — “És tu aquele que haveria de vir?” — revela uma tensão escatológica: João esperava o Messias juiz (cf. Mt 3:12), mas Jesus se apresenta como o Messias Servo. A resposta de Jesus remete às obras proféticas de Isaías: “os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados…” (cf. Is 35:5-6; 61:1). Essas ações não apenas atestam a presença do Reino, mas revelam a verdadeira face do Messias — compassivo, libertador, acolhedor.


[1] FABRIS, Rinaldo. O Evangelho de Mateus: leitura e interpretação. São Paulo: Paulus, 1982. p. 257.

O Reino não vem com o estrépito do juízo, mas com o escândalo da misericórdia. “Bem-aventurado aquele que não se escandaliza por minha causa” (v. 6) é uma bem-aventurança dirigida a todos, inclusive a João, como convite à fé no modo inesperado com que Deus age.

A rejeição da geração e a sabedoria que se justifica pelas obras (Mt 11:7-19)

A seguir, Jesus compara sua geração a crianças insensíveis: “Tocamos flauta e não dançastes; entoamos lamentações e não chorastes” (vv. 16-17). Segundo Bonnard, trata-se de uma geração apática e resistente à voz profética, seja ela austera como a de João, seja misericordiosa como a de Jesus. Nem o rigor do deserto, nem a alegria do banquete foram capazes de despertar arrependimento ou adesão.

“As duas atitudes opostas — a austeridade de João e a abertura de Jesus — foram igualmente rejeitadas. Esta geração se mostra insensível, fechada tanto à exigência quanto ao convite da graça.”[1]

João foi acusado de ter demônio por seu jejum (Mt 11:18), Jesus de ser comilão e beberrão por sua proximidade com os excluídos (v. 19). Assim, os dois foram rejeitados por razões opostas. Como aponta Artuso[1], trata-se de uma geração que não quer converter-se, insensível tanto ao apelo da penitência quanto ao dom da graça. A indiferença é, aqui, o verdadeiro sinal de condenação. Contudo, a frase conclusiva de Jesus — “a sabedoria foi justificada por suas obras” — retoma uma tradição sapiencial (cf. Pr 8), afirmando que o agir divino se manifesta concretamente nas ações. Ainda que a geração não aceite os mensageiros, as obras permanecem como testemunho irrefutável da presença do Reino. Como lembra Bonnard[2],mesmo diante da rejeição, “as obras escatológicas justificam a sabedoria” — são sinais visíveis que revelam o agir de Deus em Jesus e em João.

Provérbios 8: Trata-se do célebre capítulo onde a Sabedoria é personificada como alguém que estava com Deus na criação:

“O Senhor me possuía no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. […] eu estava com ele como arquiteta, e era cada dia as suas delícias” (Pr 8,22.30).
Essa personificação da Sabedoria como cooperadora na criação reforça sua dignidade divina e atuação histórica.


[1] ARTUSO, Valdecir. A sabedoria justificada por suas obras (Mt 11,2-19): a relação entre João Batista e Jesus. Revista Pistis Praxis: Teologia e Pastoral, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 43–59, jan./jun. 2011. p. 56.

[2] BONNARD, Pierre. O Evangelho segundo São Mateus. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1983. (Coleção Comentário Bíblico, v. 1), p. 254.


[1] BONNARD, Pierre. O Evangelho segundo São Mateus. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1983. p. 253.

Teologia das obras e identidade messiânica

As obras de Jesus, como curas, “exorcismos” e o anúncio do evangelho aos pobres, são mais do que sinais de poder: são atos de libertação que manifestam à vontade salvífica do Pai. Conforme João 10:25, “as obras que faço em nome de meu Pai testemunham a meu favor”. Elas não apenas validam sua missão, mas revelam quem Ele É. A missão de Jesus, portanto, não se baseia no reconhecimento popular, mas na fidelidade às obras que glorificam a Deus (cf. Mt 5:16).

A sabedoria, assim, não se impõe pela argumentação, mas se justifica na concretude do amor, da cura, do perdão e da justiça. E mesmo quando rejeitada, permanece verdadeira. Essa é a sabedoria do Reino: escandalosa, humilde, eficaz.

Mateus nos apresenta um Jesus que cumpre a justiça mergulhando na humanidade e que manifesta a sabedoria divina por meio de suas obras. A geração que rejeitou tanto João quanto Jesus revela a dureza de coração que persiste em todas as épocas: esperam-se sinais espetaculares, mas ignora-se o toque da flauta do Reino. Ainda assim, a sabedoria de Deus, manifesta na cruz e na ressurreição, permanece justificada pelas obras que libertam.

Aceitar Jesus como o Messias é abrir-se à conversão proposta por João e à graça oferecida por Jesus. O chamado ecoa ainda hoje: dançar a música do Reino e chorar com o clamor do arrependimento. Pois quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

Referências

  • ARTUSO, V. “A sabedoria justificada por suas obras”. Rev. Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 3, n. 1, p. 43-59, jan./jun. 2011.
  • BONNARD, Pierre. O Evangelho segundo São Mateus. São Paulo: Paulinas, 1983.
  • FABRIS, Rinaldo. Evangelhos Sinóticos. São Paulo: Paulus, 1982.
  • BROWN, Raymond E. O Nascimento do Messias. São Paulo: Paulinas, 1995.
  • https://periodicos.pucpr.br/pistispraxis/article/view/14273/13712
  • LUZ, Ulrich. Mateus 1–7. São Leopoldo: Sinodal, 2004.
  • WRIGHT, N. T. Simplesmente Jesus. Viçosa: Ultimato, 2014.
  • CULLMANN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2011.
  • SCHOKEL, Luis Alonso. Sabedoria no Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 1999.

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