Texto Áureo
Genesis 9:1 (NVI-PT) Deus abençoou Noé e seus filhos, dizendo-lhes: ‘Sejam férteis, multipliquem-se e encham a terra’. (Gn 9.1)
Introdução
Após o julgamento que Deus promoveu do mal por meio do dilúvio, a humanidade teve uma nova chance e Deus ordenou que as pessoas se multiplicassem e enchessem a terra. No entanto, a semente do pecado continuava com a humanidade e esta resolveu sair da posição de obediência a Deus e passar a desobedecê-Lo, envolvendo-se em um projeto pessoal, com esforços próprios, que enaltecesse a si própria, em lugar de se envolver no projeto proposto divino. Como se não bastasse a rebelião e a desobediência, o projeto da humanidade desafiava o próprio Deus, pois queria chegar até os céus.
A Torre de Babel
O episódio da torre de Babel, na planície de Sinear, lugar que não por acaso tem o primeiro nome da Babilônia (Gn 10.10), representa o primeiro movimento coletivo humano que foi deliberadamente contra Deus. Ali, a humanidade se uniu e resolveu construir uma cidade com uma torre que alcançasse os céus (Gn 11.4), tudo para sua própria glória e em sinal de rebelião contra Deus.
O interessante é que a Bíblia registra que, em vez de utilizarem pedras para edificarem a torre, utilizaram tijolos (Gn 11.3), técnica esta, considerada de segunda categoria, como acabam sendo os projetos que fazemos sem Deus. Apesar da humanidade ter-se envolvido em um projeto de fazer algo tão grandioso, que atingisse os céus, diante de Deus era tão pequeno que as Escrituras descrevem que Ele teve de descer para ver a torre (Gn 11.5), cuja grandeza, ironicamente, seria utilizada pela humanidade pretendia desafiar Deus.
Embora não se saiba pela Bíblia de qual pessoa em especial foi a ideia original da torre, o historiador Flávio Josefo afirma veio de Ninrode, bisneto de Noé, neto de Cam e filho de Cuxe. Segundo o autor do Séc. I,
[Ninrode] aspirava ao governo e queria que o escolhessem como chefe, abandonando a Deus, ofereceu-se para protegê-los contra Ele (caso Deus ameaçasse a terra com outro dilúvio), construindo uma torre para esse fim, tão alta que não somente as águas não poderiam chegar-lhe ao cimo como ainda ele vingaria a morte de seus antepassados. (JOSEFO, F. História dos Hebreus (Livro Primeiro). Trad. por Vicente Pedroso. 2 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p. 84.).
Vale ressaltar que, conforme já foi dito, a Bíblia não registra qualquer relação de Ninrode com o episódio da Torre de Babel. Registra, contudo, que ele foi o primeiro homem poderoso e desbravador que existiu, além de que teria sido um valente caçador (Gn 10.8-9). Quanto ao poder que exerceu, é importante lembrar que o profeta Miquéias se refere a um lugar adjacente à Assíria como a terra de Ninrode.
O julgamento de Deus
Mesmo depois do dilúvio, por meio do qual Deus julgou o mal no mundo, em que tudo recomeçou com Noé e mais sete pessoas na arca, a humanidade descobriu que o pecado estava nela própria. O mal era mais do que uma simples escolha ou um mero hábito, pois exercia um grande e perverso poder sobre as civilizações da época. Assim, Deus, por meio de sua graça, resolveu interferir previamente na construção da Torre de Babel no sentido de impedir um novo crescimento descontrolado da maldade no seio da humanidade, de maneira que tivesse de agir com o mesmo rigor com que houvera feito na ocasião do dilúvio.
Para impedir que o empreendimento humano de desobediência a Ele continuasse e o alastramento da maldade no mundo se restabelecesse, Deus confundiu as línguas das pessoas, de maneira que, se antes havia uma só língua, depois passou a haver grupos que falavam línguas diferentes. Assim, as pessoas se confundiam e não mais conseguiam se entender entre si. A raiz hebraica do termo “Babel” vem de “confundir”, “confusão” ou “mistura”. Por conta dessa confusão, a humanidade se dispersou, criando vários povos sobre a face da terra, conforme era o projeto inicial de Deus.
Pentecostes: Babel revisitada?
Deus haveria de lidar com as consequências de seu julgamento no episódio de Babel, que embora tenha sido expressão de sua graça, impedindo que a maldade escalonasse, era um impeditivo para que a mensagem da salvação, da esperança, da vida eterna em Jesus Cristo pudesse ser espalhada por toda a humanidade, ou seja, em todas as línguas que existiam. A forma que Deus solucionou este problema se deu, de forma maravilhosa, no dia do nascimento da igreja, isto é, no dia de Pentecostes, em que o Espírito de Deus batizou os discípulos de Cristo.
A unidade perdida em Babel foi restaurada no dia de Pentecostes, quando judeus tementes a Deus de todas as nações que existiam (At 2.5) ouviram em suas próprias línguas maternas (At 2.6,8) a mensagem que proclamava as maravilhas de Deus. Os discípulos, cheios do Espírito Santo, passaram a falar em línguas espirituais (At 2.4), no entanto, também houve um milagre no aparelho auditivo das pessoas, que passaram a ouvir em suas línguas nativas.
Este milagre será completo no céu, quando todos se entenderão, de maneira que ali haverá a restauração completa da unidade linguística, conforme Deus, por meio profeta Sofonias, estabeleceu:
Então purificarei os lábios dos povos, para que todos eles invoquem o nome do SENHOR e o sirvam de comum acordo. (Sf 3.9)
Conclusão
No caso de Babel, como as pessoas queriam construir uma torre até o céu, símbolo de afronta e desobediência a Deus, o Senhor confundiu suas línguas para que, as pessoas não mais podendo se comunicar, abandonassem a torre e se espalhassem pelo mundo, evitando um novo escalonamento da maldade, conforme ocorrera nos tempos de Noé. Em Pentecostes, o Espírito Santo fez com que as pessoas que falavam línguas diferentes ouvissem a mesma mensagem, que era falada em línguas espirituais, mas ouvida por cada um em sua língua mãe.
Em conclusão, podemos dizer que o milagre em Pentecostes foi o inverso do milagre em Babel, de maneira que Deus resolveu ali o problema das barreiras linguísticas entre as nações do mundo. O objetivo divino era que pessoas de todas as nações, em Jerusalém, ouvissem a mensagem da salvação e voltassem para seus países e habitações para expandir o Evangelho de Jesus Cristo. Deus, em Pentecostes, desfez os efeitos de Babel, para que a mensagem de Jesus Cristo fosse pregada pelo mundo.