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O Cristianismo plagia mitos antigos?

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Entre as muitas perguntas que recebemos, uma das que mais ocorrem quando investigamos o caráter original do pensamento cristão diz respeito à alegação de que o Cristianismo seria uma cópia de religiões mais antigas.

A este respeito, inclusive, reproduzo logo a seguir as perguntas que recebemos de um leitor da bonita cidade de Ilhéus, cidade do igualmente belo estado da Bahia. Seguem as perguntas:

“É muito comum ouvirmos argumentos ateístas que acusam a fé hebraica de ser uma composição produzida pela reunião de diversas crenças de povos anteriores ao judaísmo. Há diversos relatos de histórias contadas por civilizações anteriores à fé monoteísta dos judeus que são muitíssimo semelhantes aos narrados na Bíblia, a exemplo da serpente do Éden e paraíso, dilúvio, queda do homem, etc. escritos milhares de anos antes da formação do monoteísmo hebraico por povos de crença politeísta. Há alguma fonte de pesquisa que comprove ser o monoteísmo anterior ao politeísmo dos Sumérios, egípcios dentre outros? Todos os registros históricos apontam para o oposto.”

São perguntas honestas que merecem ser abordadas. Sem querer esgotar o assunto, responderemos aqui de forma concisa, embora suficientemente abrangente, de maneira que possamos abordar os importantes pontos levantados pelo leitor.

Assim, tentarei abordar as questões uma a uma, lançando luz sobre alguns aspectos relevantes por vezes relacionados à resposta e por vezes relacionados a algum erro intrínseco à própria pergunta.

Dito isso, peço que note, primeiramente, que é verdade que histórias como a do dilúvio, entre outras, foram narradas por muitos escritos. Veja, no entanto, que isso, antes de ser um problema, é na realidade mais uma confirmação de que esses fatos aconteceram e marcaram toda a humanidade. Fatos tão relevantes são mesmo registrados por várias civilizações em várias épocas e isso, repito, antes de ser um problema para o Cristianismo é na realidade uma prova a mais de que ele descreve algo que efetivamente ocorreu.

Às vezes, contudo, vemos críticas de que a Bíblia narraria fatos que aconteceram a Jesus como se estivesse plagiando mitos do passado. Isso é diferente, pois não se trata de duas tradições narrando o mesmo fato do passado. A alegação, nesses casos, seria a de que o Cristianismo teria se apropriado de tradições anteriores e estaria dizendo que algo ocorreu com Jesus sem de fato ter ocorrido.

A fé hebraico-cristã é baseada na verdade, não em mitos do passado. Tanto o é que o fundamento do Cristianismo não é mitológico, mas sim histórico. Em outras palavras, o Cristianismo é fundado em um fato histórico investigável pela ciência, em especial a história e arqueológica, que é a ressurreição pública de um homem, a saber, Jesus Cristo. Paulo, em sua primeira carta a Coríntios, estabelece que se Cristo não ressuscitou o Cristianismo é falso.

E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1 Coríntios 15:14)

Este fato talvez tenha sido o fato histórico mais bem investigado e as conclusões são sempre no sentido de que aquele homem ressuscitou.

Embora não seja o nosso objetivo aqui aprofundar os principais argumentos históricos que comprovam a ressurreição de Cristo, gostaria de enumerá-los de forma rápida para o conhecimento de todos:

1. Testemunho mulheres nas Escrituras (naquela época, ninguém forjaria testemunhas femininas se não fosse verdade);  

2. Profecias cumpridas pela morte de Jesus Cristo; 

3. Tumba vazia (nem os judeus levantaram a a hipótese de que a tumba não estava vazia);  

4. Aparições públicas de Jesus após a morte; e, por fim,  

5. Mudança de vida dos apóstolos, que se deixaram matar sem negar a verdade de ressurreição. Apenas João não foi assassinado por isso. 

É importante notar que em algumas situações em que realmente existe repetição de histórias que aconteceram com Jesus, essas repetições são no sentido do mito que repete o fato que efetivamente ocorreu com Jesus.

O que estou querendo dizer é que os argumentos que pretendem dizer que as verdades cristãs são plágios de mitos passados incorrem no seguinte erro: são baseados em textos (ou trechos desses textos posteriormente incorporados a eles) cronologicamente mais recentes do que as Escrituras hebraico-cristãs, mas que pretendem narrar acontecimentos anteriores aos narrados pela Bíblia.

Isso ocorre em situações relacionadas a Horus, Buda, Krishna, Zoroastro, Mitras, Dionísio, divindades crucifixadas, entre tantas outras. Cada um desses casos tem explicações individualizadas e pormenorizadas, o que poderá ser feito em outra oportunidade.

Fora isso, temos ainda de ter em mente que muitas afirmações no Cristianismo datam de séculos antes da data em que os fatos efetivamente ocorreram. Mesmo em situações relativas à vida Jesus, muitos dos fatos relacionados ao messias são provenientes de profecias escritas centenas de anos antes da vida dele. Os sessenta e seis livros da Bíblia, como sabemos, foram escritos em um período de quinze séculos e, desde do início, as escrituras apontavam para a vida do Cristo Jesus.

Um exemplo prático disso, para que entendamos mais facilmente, é o nascimento virginal. A noção cristã do nascimento virginal não se coloca cronologicamente no nascimento virginal de Jesus, pois setecentos anos antes desse evento o livro de Isaías era escrito trazendo a informação de que o messias nasceria de uma virgem. Assim, caso se queira identificar cronologicamente a origem do conceito cristão de nascimento virginal, um bom começo seria no ano 700 a.C., quando o livro de Isaias foi escrito e não o Séc. I d.C., como alguns críticos desavisados o fazem.

Fato é que, para que se averigue plágio, não interessa o tempo em que a história contada se passa, mas sim o tempo em que o texto que conta a história foi escrito. Veja que por vezes se contam histórias que já ocorreram e, por vezes, se contam histórias que irão ocorrer, tal como se faz nas profecias. Se há plágio, nunca poderá ser de um texto mais antigo plagiando um mais recente, pois este nem existia no tempo em que aquele foi escrito, não é mesmo?

Fique ainda atento para o fato de que em muitos mitos há trecho moderno inserido no texto antigo. O que estou dizendo é que em algumas situações, o texto que narra o mito é bem antigo, mas as alterações que fazem com que tenham eventualmente sido vítimas de plágio são bem mais recentes. Esta técnica é utilizada para confundir, mas é facilmente verificável pelo estudo mais aprofundado da data de incorporação dessas alterações ao texto original.

No caso do Cristianismo, sabemos que o texto que temos em mãos é o mais confiável que já foi produzido em toda a história da humanidade, seja pelo crivo que teve de passar (no caso do Antigo Testamento), seja pelo número de manuscritos existentes e concordância entre eles (no caso do Novo Testamento). Para saber mais sobre como os 66 livros da Bíblia foram colecionados, isto é, sobre como se deu o cânone, é só assistir ao vídeo “Como a Bíblia foi formada?” No canal do YouTube “Tassos Lycurgo”.

Vamos agora analisar se há alguma fonte de pesquisa que comprove ser o monoteísmo anterior ao politeísmo dos Sumérios, egípcios, dentre outros, conforme o nosso leitor pergunta.

Primeiramente, devemos considerar que a própria Bíblia estabelece que Adão, o primeiro homem, era monoteísta, concorda? No mesmo sentido, temos a Tanach (especificamente a Torá) e o Corão. Essas são fontes de pesquisa importantes, além de tantas outras existentes. Ademais, é difícil ver a relevância disso para a fé cristã. Explico.

A própria Bíblia estabelece a tendência da humanidade caída de cultuar (idolatrar) outros deuses, tal como se vê na história do bezerro de ouro (Êxodo 32, Deuteronômio 9), por exemplo. O Cristianismo, portanto, nunca disse que só há um deus, mas sim que só um é o verdadeiro Deus. Tanto é assim, que os dois primeiros dos dez mandamentos são no sentido de dizer quem é o verdadeiro Deus e de estabelecer que não devemos ter outros deuses além do verdadeiro (Deuteronômio 5:6-7).

Em conclusão, só gostaria de sublinhar que os registros históricos são no sentido da veracidade do Cristianismo, pois nada é mais caro para Cristo do que a verdade, pois com ela mesma Ele se confunde, conforme registra em seu Evangelho o apóstolo João (14.6). 

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