“O que eu faço, tu não o sabes agora,mas entenderás depois” (Jo.13.7);
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo.16.12)
Há quem busque explicação para a causa do sofrimento.
Há quem se gaste tentando entender o que está acontecendo enquanto o mundo desaba ao seu redor.
Há quem se aflija por respostas quando o chão some debaixo dos seus pés.
Por quê? Por que isso está acontecendo? Por que eu?
Por que não você?
É claro que tenho meus questionamentos – e acredite, não são poucos – mas confesso um certo apreço por quem sabe ir além do ‘por quê’? ‘Acaso te pedi algum filho’? ‘Não pedi que não me iludisses’? ‘Onde está o Deus de Elias’? ‘Se o Senhor fosse mesmo conosco, não estaríamos assim’. ‘O que foi feito das tuas maravilhas que nos contaram os nossos pais’? ‘Se o Senhor estivesse aqui, meu irmão não teria morrido’. Esse é o tipo de indagação que mostra a ousadia de quem é tão transparente diante Dele ao ponto de saber o que perguntar.
Há ainda quem diga que, diante das adversidades da vida, não se deve perguntar ‘por que’? e sim ‘para que’?. Há quem encontre lógica nesse tipo de proposta. Perda de tempo! Honestamente, essa ideia se resume a trocar uma carga semântica causal por uma final; não traz consolo nenhum diante do sofrimento. Não faz nenhuma diferença, na hora da dor, perguntar pela causa ou pelo propósito. Isso é coisa de quem ainda não amadureceu o suficiente para entender que o propósito é a própria causa.
Então, por que ou para que se gastar tanto no afã de descobrir as respostas?
Volto para Jó. Aquele que fez sua imensa lista de argumentos para apresentar em sua audiência com o Todo-Poderoso, quando finalmente tem sua tão esperada oportunidade de falar, escolhe por a mão na boca, se calar e se arrepender no pó e na cinza. Diante da revelação pessoal de Deus, as defesas de Jó se derretem. A manifestação de Deus a Jó deixa claro que o que nos cura é a Sua presença, não suas respostas.
Há quem anseie por explicações. Eu anseio por Sua presença. Ele não precisa nem falar. É só Ele vir. Ele é Deus e, confiar na Sua soberania, me leva a não exigir explicações. Ele não me deve satisfação de nada. Sua Graça me basta e eu libero a minha fraqueza para que o Seu poder encontre um lugar onde se aperfeiçoar! É um tipo de contrato entre o divino e o humano, em que um entra com a fraqueza e o outro com o poder. Esse é o segredo da força.
Eu posso viver sem suas respostas. Já caminhei com Ele o suficiente pra aprender que ‘entender’ é coisa pra depois. O fato é que eu não preciso de explicações, mas não posso viver sem sua companhia.
Confesso que já cheguei a achar que fosse fraqueza ou até mesmo inútil perguntar a Deus ‘por que’?, até que fui direcionada à cruz, de onde se ouviu, dentre tantas afirmações, apenas uma pergunta: ‘Deus meu, Deus meu, POR QUE me desamparaste”?
O Céu se abriu? Desceu uma pomba de lá ? Alguém ouviu alguma voz vinda do alto? Não. A resposta do Pai foi um estrondoso silêncio. No entanto, mesmo sem nenhuma resposta, o Filho cumpriu o seu propósito até o fim. O brado que mudou a história da humanidade não veio de um céu rasgado, mas sim, de uma cruz ensanguentada: ‘Está consumado’! Quem tem coragem de seguir com o plano adiante mesmo se o silêncio for a resposta do Céu ao seu ‘por quê’? Só vive a glória da ressurreição no domingo quem suporta a cruz da sexta e a espera do sábado.
Não busco respostas; não porque as desprezo, mas porque elas não são prioridade para mim. Posso viver sem explicações, mas não abro mão de Deus. Respostas não são garantia de consolo; mas sua presença sim, pode curar. Só a Sua simples presença basta. Ele não precisa falar nada, é só vir e ficar, porque aqui, mesmo quebrado e encharcado de lágrimas, tem um coração sedento pela fé que faz viver um justo em quem a alma Dele tenha prazer. Quando Ele vier, encontrará em mim, um lugar de repouso, onde possa fazer morada.