O cenário é de completa tragédia. Por fora da cidade, o cerco do exército inimigo encerra o povo dentro dos muros de Jerusalém. Por dentro, medo, fome, escassez e incertezas assombram quem ainda sobrevive às investidas do incansável adversário.
Em meio à destruição e diante do cativeiro iminente, uma ordem dada ao profeta parece contrariar qualquer resquício de lógica que ainda pudesse existir:
– Jeremias, vai e compra um campo.
Mesmo que parecesse não ter mais saída, que o inimigo estivesse à porta e o fim fosse certo, ainda assim, mesmo sem qualquer expectativa quanto ao futuro, um campo é comprado em tempos de guerra.
Sem entender o porquê, Jeremias cumpre a ordem. Obedece primeiro, pergunta depois.
Que fé é essa que faz alguém se mover com tanta certeza contra o natural? Comprar um campo numa cidade condenada é acreditar que existe bonança após a tempestade, que a destruição não é o fim e que depois dessa luta, virá um tempo de reconstrução; é se preparar para o dia da restituição, mesmo que tudo ao redor grite: acabou!
Vai e compra um campo é uma ordem que contradiz a razão, põe a fé à prova, mas também leva aquele que ousa arriscar e obedecer a um outro nível de relacionamento com o Criador. Depois disso, nada mais será como antes.
Sair do cativeiro e voltar ao campo comprado traz o refrigério à alma e a certeza de que o espanto acabou e de que Aquele que promete restauração quando tudo está desmoronando é fiel para cumprir o que disse. É hora de recomeçar e já se tem de onde partir. Aquele campo antes deserto e sem esperança, pode ser agora o ponto de partida para recomeçar e viver um novo tempo!
Ainda que tudo diga que não, se é Deus quem manda, apenas obedeça. Mesmo sem entender, apenas vai e compra o seu campo. Ouse sonhar apesar das circunstâncias e acreditar que dias melhores virão. Sim, eles virão! Existe uma alegre manhã no final de uma noite de choro, não importa quão longa ela seja. O sol sempre vai despontar no horizonte anunciando que a escuridão acabou e um novo dia está à sua espera.