Duas perguntas norteiam o assunto desse texto, e a primeira delas é realmente simples de ser respondida. Onde estão os cristãos? A resposta é óbvia e definitiva: Em muitos lugares. Entretanto, o contexto dela dentro de uma visão geral acerca do posicionamento cristão revela algo que realmente deve ser tratado com muita seriedade: não temos tempo e nem tampouco espaço para nos omitir.
Faz-se necessário esclarecer desde já que o grande objetivo deste texto não é falar simplesmente sobre a definição de posicionamento e/ou omissão, ainda que o façamos, mas as consequências de não exercê-lo de maneira correta e ajustada nos lugares dos quais devemos ter influência.
Estar presente não significa, em si, estar posicionado. Uma definição objetiva de omissão indica deixar de dizer e/ou fazer algo que lhe cabe; aponta também para uma letargia, um imobilismo, falta de ação. Note, porém, que todas essas atitudes deixam por entendido que é perfeitamente possível estar em algum lugar e se privar de fazer o que é devido. Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão afirmou: “O silêncio diante do mal é ele mesmo um mal. Não falar é falar. Não agir é agir”. A omissão é o resultado direto da decisão pessoal de não fazer algo diante de uma situação que exige uma ação prática da nossa própria vontade. Podemos aprofundar um pouco mais o entendimento em esclarecer que não é simplesmente não fazer nada que define a omissão, mas o escolher não fazer quando se pode.
“Pecar pelo silêncio quando se deveria protestar, transforma homens em covardes”
Abraham Lincoln
Sim, é importante entender os limites daquilo que se pode fazer. Não seria razoável esperar uma ação prática específica de alguém cujas capacidades físicas, intelectuais e/ou emocionais a impossibilitem de fazer algo. igualmente, não seria aceitável esperar ações práticas diante de cenários que fogem da capacidade humana imediata. A frase: “não há nada que eu possa fazer” somente se aplica após uma análise profunda de si e das alternativas disponíveis para alguma atitude ser realizada. Tudo que está ao meu alcance, e tudo o que cabe ao momento foi realizado? A resposta dessa pergunta é o que define o limite máximo entre ação e omissão.
Se, contudo, somarmos o fundamento da fé a essa análise, chegaremos à conclusão de que aqueles que professam e vivem uma vida cristã fundamentada nos princípios do Reino do Senhor dificilmente terão a liberdade de dizer: “não há nada que eu possa fazer.” Em Mateus 6:10 Cristo nos ensinou a orar: “ Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Se pergunte, será que a realidade dos céus não é capaz de transformar qualquer realidade encontrada na terra? Em Lucas 17.20, 21 vemos uma outra afirmação poderosa: Certa vez, tendo sido interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem de modo visível, nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está entre vocês”. A expressão “entre” também pode ser traduzida e entendida como dentro de vocês. Essa é uma verdade fundamental da palavra de Deus, através do Espírito Santo carregamos o Reino dentro de nós. Com isso volte-se a pergunta mais uma vez: será que a realidade dos céus não é capaz de transformar qualquer realidade encontrada na terra?
Somos seres sociais, estamos presentes em todas as esferas da sociedade. Seja na economia, no governo, nas artes, na comunicação, na igreja, na família ou na educação; devemos perceber nossa obrigação de ocuparmos posição ativa de influência. O entendimento daquilo que carregamos torna impossível a omissão nas mais diversas questões da vida. O entendimento da nossa posição nos faz buscar ser relevantes nos locais em que estamos na sociedade. Um princípio importante é que todo lugar que não é devidamente ocupado é invadido, preenchido ou dominado por qualquer coisa que enxergue a oportunidade. Cristo, em Mateus 12:43-45, diz: “Quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos procurando descanso e não encontra, e diz: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. Chegando, encontra a casa desocupada, varrida e em ordem. Então vai e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele, e entrando passam a viver ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim acontecerá a esta geração perversa”. Ao sermos omissos abrimos espaço para que tudo o que não responde ao Reino dos céus assuma governo, e isso é o completo oposto da nossa missão.
Isso faz com que nos posicionemos de forma diferente ao saber que não estamos imunes aos embates e as problemáticas ideológicas atuais, mas temos elementos mais poderosos que devem ser expostos. Veja esse exemplo na afirmação de Paulo aos filipenses: “Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica, sem de forma alguma deixar-se intimidar por aqueles que se opõem a vocês. Para eles isso é sinal de destruição, mas para vocês de salvação, e isso da parte de Deus; pois a vocês foi dado o privilégio de, não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele, já que estão passando pelo mesmo combate que me viram enfrentar e agora ouvem que ainda enfrento.” Filipenses 1.27-30
Até aqui, já identificamos onde estão os cristãos, entendemos o que é ser omisso e percebemos que aquilo que carregamos dentro de nós grita poderosamente para nos impulsionar a não sermos fracos e omissos. Com isso, respondendo a segunda questão fundamental desse texto – “porque não podemos nos omitir?”, posso afirmar com toda certeza: sempre haverá alguém que sofrerá o mal gerado pela omissão de quem deveria se posicionar. Se pararmos apenas por um momento para enxergar onde chegamos como sociedade, veremos a decadência moral cada vez mais descarada; veremos lugares que deveriam ser ocupados pelos princípios do Reino que estão completamente entregues aos corações malignos; veremos as previsões terríveis para o futuro das crianças e das famílias; ao que poderemos atribuir esse cenário? Lugares que deveriam ser ocupados pela presença daqueles que carregam o Reino ativamente dentro de si foram invadidos pelo mal e pelas trevas. Se isso não responde como causa principal para não sermos omissos na sociedade, difícil será encontrar outra resposta.
“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons”.
Martin Luther King
Contudo, não trago apenas constatações negativas; carrego uma palavra de esperança: Não temos mais tempo e espaço para ser omissos, mas ainda temos tempo para remir nossa geração! Aquilo que foi perdido ao longo dos anos, ainda pode ser reconquistado, ainda que à força, mas isso não seria surpresa, afinal de contas: Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele. (Mateus 11:12)
Portanto, esforcemo-nos em perseverar até o fim assumindo uma posição ativa, que luta até a morte pela defesa do Reino dos Céus que está dentro de nós.