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A importância da Teologia do Aconselhamento

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“Na comunidade cristã, o aconselhamento é uma expressão de amor ao próximo. O papel do conselheiro é fornecer orientações fundamentadas nas Escrituras, que ajudem a perceber o propósito de Deus nas vidas das pessoas, por meio de uma prática cristã, ética e responsável.”

André Batalhão

Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem-sucedidos quando há muitos conselheiros.

Provérbios 15.22

            A compreensão bíblica revela o Deus pessoal e histórico, de maneira progressiva e cumulativa. Por conseguinte, o cristão deve considerar o contexto histórico e a revelação divina em cada passagem das Escrituras. Isso requer uma cuidadosa exegese das passagens bíblicas para que estas sejam relevantes e coerentes com a questão proposta, bem como com a demanda de aplicação e sua importância teológica. Para entendermos a importância teológica do aconselhamento, e o processo teológico inserido neste contexto, precisamos ancorar a abordagem prática a uma definição conceitual. Utilizarei como base, a definição de que Teologia é “o que a Bíblia nos ensina hoje sobre qualquer tópico” (GRUDEM, 1994). De maneira resumida, a preocupação da Teologia é compreender o que Deus pensa e demanda de nós sobre qualquer assunto.

            O processo teológico pode ser classificado sob diferentes disciplinas, que reúnem e exprimem os ensinamentos da Palavra de Deus por diferentes temas, com o objetivo principal de orientar o povo de Deus sobre como viver em relação aos aspectos e questões teológicas.

            Dentro do processo teológico, temos a Teologia Prática, que é definida como o estudo de como aplicar melhor as verdades teológicas à vida dos cristãos e do mundo. A partir do campo da Teologia Prática, podemos destacar alguns dos principais temas teológicos, como: aconselhamento, pregação, educação cristã, evangelismo, missões, administração eclesiástica e culto.

            Neste artigo, atentar-me-ei à Teologia do Aconselhamento, assumindo a importância e o entendimento de que esta disciplina teológica desempenha um papel central em ajudar pessoas com suas angústias, problemas e dificuldades por meio do aconselhamento. Atrelado a definição de Teologia, previamente oferecida, apresento a definição de Aconselhamento, que eu utilizo neste artigo: “Aconselhamento é uma conversa que uma das partes com questões, problemas e dificuldades procura auxílio de alguém que acredita ter respostas, soluções e ajuda” (LAMBERT, 2017). Nas passagens de Isaías 46.10 e Efésios 1.11, o termo grego “boulç”, usado para conselho, tem o significado de “intenção”, “propósito”, “resolução” e representa a totalidade da vontade de Deus (GILBERTO et al., 2008).

            Atrelado ao contexto cristão, e baseado nas definições de Teologia e Aconselhamento oferecidas anteriormente, entendo a Teologia do Aconselhamento como o estabelecimento de um canal de comunicação entre partes interessadas, composto por quem busca respostas, soluções e ajuda, e por pessoas que oferecem direção, compreensão e conselhos práticos, com a intenção clara de buscar soluções à luz das Escrituras Sagradas.

            Na esfera cristã, o aconselhamento é, necessariamente, teológico. Um dos primeiros teólogos a fazer uma conexão entre aconselhamento e teologia foi Jay Adams quem iniciou o movimento moderno de aconselhamento bíblico no século XX. Em 1979, ele lançou a obra intitulada A Theology of Christian Counseling, um livro seminal sobre o assunto. Nele, o autor destaca que todo aconselhamento (que direciona o indivíduo diante de Deus) implica comprometimentos teológicos. Nesta obra, Jay Adams começa a construir uma visão teológica sobre aconselhamento, deixando claro que muito ainda precisa ser feito para desenvolver o tema. O autor reconhece suas limitações e encoraja futuros autores a desenvolver uma Teologia do Aconselhamento mais refinada (ADAMS, 1979).

            A Teologia do Aconselhamento permite-nos aplicar as verdades da Palavra de Deus ao cenário contemporâneo, confrontando, direta e continuamente, ameaças à verdade contida nas Escrituras (Salmos 119.160; João 17.17). O aconselhamento não deve carregar somente a recitação do que a igreja tem crido historicamente, mas também, deve se preocupar com o que a igreja crê e faz hoje em meio às ameaças contemporâneas contra os princípios e valores cristãos (Gálatas 4.3; Colossenses 2.8; 2.20-23).    

            Cabe aqui diferenciar, concisamente, o conselheiro bíblico do conselheiro cristão. O primeiro fundamenta-se exclusivamente nas Escrituras, julgando que a Bíblia é suficiente para aconselhar pessoas. Já o segundo, reconhece a Bíblia como um instrumento fundamental para o aconselhamento, porém, não a considera suficiente para isso; veja Johnson (2007) – sendo passível de complementaridade(no sentido de incluir observações científicas sobre questões e comportamentos inerentes aos seres humanos). Muitos autores defendem o fim dessa distinção terminológica, tratando os dois termos como sinônimos, já que as duas vertentes defendem uma visão bíblica de aconselhamento (CALVARY UNIVERSITY, 2017).

            Muitos membros da comunidade eclesiástica acreditam que o aconselhamento tem a ver, puramente, com a psicologia, o que não é uma verdade absoluta (MEYERS, 2010). Conselheiros cristãos (incluindo conselheiros que são psicólogos e psiquiatras cristãos) que confiam, em algum grau, no conhecimento científico e em áreas e métodos profissionais seculares, têm sido chamados de integracionistas. Um conselheiro cristão é reconhecido como integracionista, quando ele une em sua prática a terapia com a espiritualidade, a fim de estabelecer um processo dito como “completo e holístico” (SEATTLE CHRISTIAN COUNSELING, 2013).

            A psicologia pode fornecer ferramentas e recursos para o aconselhamento cristão, no entanto, este tipo de aconselhamento requer que o conselheiro vá além de uma formação acadêmica formal ou uma licença profissional. O conselheiro cristão precisa sedimentar em suas práticas a revelação da glória incomparável de Jesus, reconhecendo um espírito maior aos conselhos da ética secular, e confirmando o respeito àquele que morreu e ressuscitou por nós (2 Coríntios 5.15).

            O conselheiro cristão deve articular a cosmovisão cristã de sua realidade com o dilema do aconselhado, oferecendo uma resposta à luz da Bíblia àquele dilema (KRAMER, 1994). Desta forma, o conselheiro está estabelecendo o entendimento do padrão normativo (doutrina) para a vida da pessoa, em que este padrão fornecerá um limiar, que apontará quão longe essa pessoa está de Deus, demonstrando como ajudar a pessoa a se mover do dilema para a solução. Resumindo: nós, como povo cristão, não podemos rejeitar a suficiência das Escrituras para o aconselhamento (MURRAY, 2010). Entretanto, muitos conselheiros defendem a relevância dos recursos que existem fora das Escrituras (abordagens seculares analíticas, que buscam aferir aspectos psíquicos, sociais e biológicos das pessoas), justificando que estão tratando de seres humanos, e isso remete às implicações pessoais e práticas (CAPTARI et al., 2018).

            Alguns críticos apontam que os conselheiros bíblicos deveriam utilizar, de fato, novas descobertas e terapias da ciência da psicologia e psiquiatria (LAMBERT, 2014). Outros autores preferem ignorar as motivações humanas, negando a psiquiatria e a psicologia tradicionais, no entanto, não apresentam uma abordagem puramente bíblica (ADAMS, 1986). Antes de um conselheiro oferecer ajuda a alguém, ele deve observar o que está errado. Depois de observar o que está errado, ele deve interpretar essa informação a partir da cosmovisão cristã, em que, desta maneira, o conselheiro poderá pensar em uma abordagem, que busque corrigir o problema.

            Os conselheiros bíblicos podem recorrer aos esforços da psicologia secular, passando por uma reflexão cuidadosa a respeito de uma solução baseada nas Escrituras. Nesta linha, a psicologia secular poderia ajudar a aferir e comunicar a eficácia do aconselhamento bíblico. Isso quer dizer que uma ajuda tangível não anularia a necessidade de uma ajuda transcendental (FRAME, 1987).

            Os aconselhamentos cristão e bíblico estão intimamente ligados à doutrina da graça preveniente. John Wesley usou a palavra “preveniente” associando-a ao significado de sua época, que era “ir antes”. A graça preveniente é revelada no cuidado providencial de Deus por todas as suas criaturas. A queda do homem no pecado teria acabado com a graça providencial de Deus, se não houvesse o plano gracioso de redenção. Agora, para o homem caído, essa graça continua a fluir a fim de cumprir o propósito divino de redenção (COX, 1969). Neste contexto, o aconselhamento pode ser um instrumento valioso, que pode colocar os perdidos na impiedade do mundo nos trilhos da salvação.

            Na soteriologia arminiana, a graça preveniente é considerada uma doutrina essencial. É o termo teológico que esclarece a forma como Deus capacita o ser humano previamente para que ele possa alcançar a salvação (NASCIMENTO, 2017). Embora a doutrina da graça preveniente e a doutrina graça comum sejam parecidas, elas são, fundamentalmente, diferentes. Segundo os calvinistas, a graça comum perpassa pela vida intelectual. Para eles, os salvos precisam obter informações acuradas sobre a aplicação bíblica, e isso requer estudo e empenho pessoal.

            Os calvinistas defendem que é importante distinguir a sabedoria de Deus e a sabedoria do mundo. Eles argumentam que nos dois primeiros capítulos de 1 Coríntios, Paulo demonstra a soberania de Deus e ridiculariza a chamada “sabedoria do mundo”, indicando que Deus quer que confiemos na sabedoria da cruz, e não unicamente na nossa própria sabedoria. Contudo, o apóstolo Paulo alude que existem bênçãos provenientes da sabedoria humana, mas reconhece que esta sabedoria não conduz à salvação (1 Coríntios 1.26).  

            Para o arminianismo clássico, o homem nasce pecador (Salmos 51.5; Romanos 3.23), e a salvação ocorre exclusivamente pela graça (Efésios 2.8-10). De acordo com os pentecostais arminianos, o novo nascimento é possível somente pela graça (Efésios 2.5,6). “Graça preveniente é persuasiva, e não coercitiva; a ação por parte do Espírito para convencer o pecador não é uma coerção, e sim como uma persuasão (João 16.8-12). Ou seja, Deus não impõe, mas oferece a salvação (Mateus 13.37)” (ZIBORDI, 2016). Reconhecer o papel da graça de Jesus Cristo é uma ação fundamental para o conselheiro. Jesus Cristo é a chave-mestra para todo aconselhamento, e é o único caminho para a salvação (QUEIROZ, 2020).

            Como cristãos, devemos não somente reconhecer o comprometimento que os aconselhadores devem ter com a teologia, mas, também, devemos reconhecer a preocupação que os teólogos e ministros do Evangelho de Cristo devem ter com o aconselhamento. Precisamos refletir sobre onde temos buscado nossos conselhos, pois, isso sim, é um comprometimento teológico. Quando um conselheiro abre a boca, ele revela onde está a sua confiança. A fonte principal de autoridade do conselheiro deve vir das Escrituras (Josué 1.8; 2 Timóteo 3.16-17).

            Devemos aplicar a verdade bíblica às pessoas que sofrem, com a finalidade de construir esperança (Jeremias 29.11; Salmos 146.5; Romanos 15.13) e promover a salvação em Cristo Jesus (Atos dos Apóstolos 16.30-31; Romanos 10.9; Efésios 2.8-9). Pegue todo o seu conhecimento bíblico, independente do volume, e leve àqueles que querem verdadeiramente conhecer Jesus (João 5.24; Mateus 7.6). O conselheiro deve reconhecer a corruptibilidade humana (Gênesis 6.11; 1 Coríntios 15.53) e valorizar e aplicar, por meio de sua abordagem, os valores que vêm de Deus (Mateus 13.46). Conselheiros que não buscam, adotam e entendem os ensinamentos e princípios bíblicos não estão preparados para os desafios deste ministério. Pense nisso.

Referências

ADAMS, J. E. A Theology of Christian Counseling. Grand Rapids: Zondervan, 1979.

ADAMS, J. E. Competent to Counsel. Grand Rapids: Zondervan, 1986.

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CAPTARI, L. E.; HOOK, J. N.; HOYT, W.; DAVIS, D. E.; MCELROY-HELTZEL, S. E.; WORTHINGTON JR, E. L. Integrating clients’ religion and spirituality within psychotherapy: A comprehensive meta-analysis. Journal of Clinical Psychology, v.74, n.11, p.1938-1951, 2018.

COX, L. G. Prevenient Grace – A Wesleyan View. Journal of the Evangelical Theological Society, v.12, n.3, p.143-149, 1969.

FRAME, J. M. The Doctrine of the Knowledge of God. Phillipsburg: P&R, 1987.

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MURRAY, D. P. Christians Get Depressed Too: Hope and Help for Depressed People. Grand Rapids: Reformation Heritage, 2010.

QUEIROZ, C. Jesus, o Messias prometido: A compreensão cristã da messianidade de Jesus. São Paulo: Produção do próprio autor, 2020.

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ZIBORDI, C. S. Para um pentecostal, o que é o arminianismo? CPADNEWS, 2016. Acessado em 02 ago. 2021. Disponível em: http://cpadnews.com.br/blog/cirozibordi/apologetica-crista/184/para-um-pentecostal-o-que-e-o-arminianismo-.html

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