O sociólogo polonês Zygmunt Bauman escreveu sobre o comportamento humano no final do século 20 e início do 21, criando o conceito de Modernidade Líquida. Bauman ressaltou que vivemos tempos líquidos, porque nada é feito para durar, nada é sólido, nem mesmo os relacionamentos. O sociólogo detectou na sociedade de consumo (na qual as pessoas se exibem como se dissessem “eu sou o que posso comprar e aparentar”) e no advento das “amizades” virtuais das redes sociais a combinação perfeita para disfarçar o velho medo humano da solidão e transformar o ser humano em alguém descomprometido ou “descartável”, que cria laços momentâneos, frágeis e volúveis em um mundo cada vez mais dinâmico, veloz e fluído.
Não existe mais a ideia do privado e do indivíduo singular, pois a globalização gerou a necessidade de expor, mostrar, exibir, gabar, mentir, dar palpites em tudo, além de padronizar o belo e desejável. Todos querem ser “artistas” nas redes sociais, querem ser visualizados, curtidos, seguidos e “amados”. Tudo isso tem gerado grandes problemas conjugais e até divórcio, pois casais sem sabedoria privam um ao outro de real atenção para dedicarem horas a amizades virtuais.
Na linha do que alerta Bauman, há cônjuges que perdem essa noção do privado, e expõem toda a vida do casal (até mesmo críticas) nas redes sociais. Temos de ter sabedoria, pois a Internet pode ser usada como uma grande ferramenta de informação, conhecimento e evangelização, mas também pode ser uma arma diabólica para destruir a família.
Segundo o sociólogo polonês, a grande diferença entre comunidade (ou sociedade) e rede está no fato de que nascemos em uma comunidade e pertencemos a ela, que é anterior a cada um de nós; a rede, ao contrário, é criada, conectada e desconectada a qualquer momento. Isso torna as redes atraentes, pois na comunidade, no “olho no olho”, não há como se esconder ou mentir facilmente, porque todos estão sujeitos a críticas e não podem simplesmente “excluir” ou “deletar” o outro, substituindo-o instantaneamente por um novo “amigo”.
Zygmunt ressalta que, no passado, os laços de verdadeira amizade, afinidade e empatia eram o refrigério para aqueles que não tinham bons relacionamentos profissionais e até parentescos. Entretanto, dada a mentalidade contemporânea de fugacidade, superficialidade, desconfiança e momentaneidade, nem mesmo os velhos e bons amigos são considerados uma válvula de escape.
Antes, os relacionamentos eram lentamente construídos, a confiança era conquistada com o convívio real, conversas francas e atitudes concretas de companheirismo, tornando os laços sólidos, comprometidos e duráveis. As redes sociais trouxeram a praticidade e rapidez de encontros virtuais (por vezes ao mesmo tempo em grupos) e informações pessoais (e íntimas), mas também a mentira, a falsidade, a inveja e a fluidez dos relacionamentos (virtuais e reais), que podem ser “deletados” com um click.
As pessoas começaram a se tratar como bens de consumo, frias, insensíveis, individualistas, egoístas e descartáveis diante de um “modelo mais atualizado” de amizade ou até de cônjuge. Romantismo, carinho, cumplicidade, respeito, compromisso, lealdade, fidelidade, perdão e amor parecem palavras e ações deixadas no século passado! De um modo geral, a base dos relacionamentos humanos hoje parece pautar-se no momento, em circunstâncias, na moda, na aparência, em interesses ou vínculos utilitários, muitas vezes só gerando competitividade, cobiça, inveja, raiva, dentre outros sentimentos negativos. Acontece, contudo, que o ser humano não mudou: ele necessita de afeto, atenção, pertencimento, amparo e amor. Quem não é amado não consegue amar. Quem não sabe o que é a segurança de um relacionamento pautado na verdade, no afeto, no cuidado, na dedicação e na cumplicidade, infelizmente, anda carente pelo mundo, mudando de parceiro em busca de amor verdadeiro.
*Este texto é parte da obra “NO DIVÃ COM A DRA. ELIZETE MALAFAIA – VIDA CONJUGAL. Adquira a obra integral https://loja.editoracentralgospel.com/livro-no-diva-vida-conjugal-000566