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Haverá salvação na Grande Tribulação?

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Entre os dispensacionalistas é recorrente a pergunta se haverá salvação durante o período da grande tribulação. Antes de responder objetivamente a esta pergunta, faz-se necessário definir o que é a grande tribulação. 

A grande tribulação refere-se a um período de transição entre a dispensação da Graça (Igreja) e o Milênio. Ela tem uma duração de sete anos, representando a 70ª semana profética registrada no livro de Daniel (Dn 9), explicada em detalhes no livro de Apocalipse dos capítulos 6 a 19. Na prática, os sete anos foram divididos em dois períodos de três anos e meio, sendo representados pelas seguintes expressões: “quarenta e dois meses”, “tempo, tempos e metade de um tempo” ou “mil duzentos e sessenta dias”. Veja alguns desses versículos: 

E deixa o átrio que está fora do templo e não o meças; porque foi dado às nações, e pisarão a Cidade Santa por quarenta e dois meses (Apocalipse 11.2)

E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para continuar por quarenta e dois meses (Apocalipse 13.5).

E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo.  (Daniel 7.25). 

E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco (Apocalipse 11.3). 

A grande tribulação é descrita no Antigo e Novo Testamentos como um tempo de angústias e sofrimentos sem precedentes na história: “porque haverá, então, grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco haverá jamais” (Mt 24.21). O profeta Jeremias o chamou de “angústia de Jacó” (Jr 30.7b). Os profetas Daniel e Joel também ser referiram a esse tempo como um período de extrema angústia (Dn 12.1; Jl 2.2). Isaías e Paulo usaram a expressão “Dia do SENHOR” (Is 13.6-9; 1 Ts 5.2,3) como sendo o período do acerto de contas, como o tempo do derramar da ira de Deus. 

Para nosso consolo, esse período se iniciará após o arrebatamento da Igreja. Observe uma breve cronologia na figura 1:

Figura 1 – Cronologia dos eventos

Forma  Descrição gerada automaticamente com confiança média

FONTE: Elaborado pelo autor

A grande tribulação cumpre dois propósitos principais, isto é, aplica a justiça divina contra a humanidade rebelde e prepara a nação de Israel para o encontro com o seu Messias. De acordo com MacDonald (2011, p. 1000), no texto de Apocalipse 3.10, Jesus promete guardar, livrar, isentar a igreja do período de tribulação ou da grande tribulação descrita nos capítulos 6 a 19 de Apocalipse. Observe que a igreja, será guardada da hora da provação, ou seja, do período todo. Aqui foi usada a preposição grega ἐκ (ek), que significa “fora”, “a parte de”, “da” e não em meio a tribulação e não dentro da grande tribulação.  Provavelmente você já ouviu que a palavra igreja no grego é ἐκκλησία (eklesia), e que significa “os tirados para fora”. Veja que o prefixo ek é quem define a posição, ou seja, os que foram tirados para fora do mundo, os que foram separados de algo. Portanto, a igreja não passará pela grande tribulação. A igreja não será guardada na grande tribulação, mas será guardada da grande tribulação, será guarda da hora da tentação. 

Para ilustrar isso, vamos usar dois exemplos bíblicos para tipificar a segunda vinda de Cristo: Enoque foi trasladado antes do dilúvio (Gn 5.24) com a idade de 365 anos, numa época que os homens viviam mais de 900 anos, inclusive seu filho Matusalém viveu 969, isso significa que ele foi guardado do dilúvio. Noé, no entanto, foi guardado no dilúvio. No monte da transfiguração, Moisés representa os crentes que serão ressuscitados e Elias representa os crentes que serão arrebatados. Saiba que Deus pode livrar da provação e pode livrar na provação. Ele já fez isso algumas vezes. Portanto, a igreja de Cristo, será livrada DA grande tribulação, os remanescentes judeus, no entanto, serão livrados NA grande tribulação para finalmente reconhecerem Jesus Cristo como seu Messias e Senhor. 

Para Froese (2016, p. 37), outro argumento importante sobre a igreja ser guardada da hora da tentação, diz respeito à Igreja agir como um elemento impeditivo. Enquanto a igreja estiver na terra, Deus não aplicará o juízo sobre todo o mundo. Para ilustrar isso, voltemos ao livro de Gênesis quando Ló habitava na cidade de Sodoma. Os anjos de Deus vieram até ele e lhe disseram: “Fuja depressa, porque nada poderei fazer enquanto você não chegar lá” Gênesis 19.22. Deus foi impedido de executar o juízo sobre Sodoma por causa do justo Ló. Da mesma forma, a grande tribulação não pode começar, enquanto a Igreja ainda estiver no mundo.   

Portanto, a grande tribulação é um período no qual o foco estará sobre a nação de Israel. Apesar disso, o livro de Apocalipse mostra em diversas passagens, que pessoas de outras nações também serão salvas. Contudo, por professarem a fé em Cristo e rejeitarem a adoração à besta, sofrerão o martírio. 

E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E a cada um foi dada uma comprida veste branca e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos que haviam de ser mortos como eles foram (Apocalipse 6.9-11). 

Ao abrir o quinto selo, João viu todos os “deixados para trás” (Ap 6.9-11), ou seja, todos os que não foram arrebatados e que se arrependeram de seus pecados durante a grande tribulação e que devido à perseguição do Anticristo, foram martirizados. Eles são os primeiros mártires da tribulação (Mt 24.9). Suas almas encontram-se, agora, na presença de Deus, debaixo do altar (Ap 8.3-5; 9.13 e 16.7). Os mártires recebem vestes brancas, símbolo de sua justiça. Também são instruídos a esperar até que se complete o número final de mártires da tribulação, quando suas orações serão respondidas.

Outro texto que retrata as pessoas que serão salvas na grande tribulação é o capítulo 7 de Apocalipse. Na primeira parte do capítulo, são retratados os 144.00 judeus salvos, selados que agirão como testemunhas de Cristo na terra. Já os versículos 9 a 17 descrevem os gentios de todas as nações, tribos, povos e línguas. Todos se encontram em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos com roupas brancas (que representam os atos de justiça dos santos; 19:8) e com palmas (um símbolo de vitória) nas mãos. Esses gentios serão salvos mediante a fé no Senhor Jesus durante a grande tribulação. No cântico, celebram sua salvação e atribuem-na a Deus e ao Cordeiro.

Em seguida, o coro celeste celebra e adora a Deus pelo que Ele é. Então um dos anciãos pergunta para João: “Quem são estes que estão vestidos de branco, e de onde vieram” (Ap 7.13). Como João não sabia, deu aquela resposta-chave: “Senhor, tu o sabes”. Então, é revelado a João quem eles são e de onde vieram: “Estes são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro” (Ap 7.14). Esse versículo é um dos mais importantes para mostrar que haverá salvação no período da grande tribulação. 

Além disso, cai por terra o que alguns afirmam, que durante esse período as pessoas serão salvas pelo próprio sangue, isso é uma heresia. Só existe salvação em Jesus, somente em Cristo. É verdade que nesse período, professar a fé cristã será muito doloroso, afinal de contas, as pessoas serão torturadas e martirizadas. Contudo, ainda assim, a salvação é em Cristo e valerá a pena lavar as vestes no sangue do Cordeiro, valerá a pena ser fiel até a morte. Porque neste texto há uma promessa: 

Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede. Não cairá sobre eles sol, e nenhum calor abrasador, pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima” (Apocalipse 7.16,17). 

Como nosso Deus é misericordioso, mesmo na grande tribulação, ainda haverá oportunidades de arrependimento. Quem reconhecer a Cristo na grande tribulação ainda terá suas lágrimas enxugadas pelo Deus todo poderoso. 

REFERÊNCIAS

FROESE, ARNO. Sete cartas do céu: um estudo versículo por versículo de Apocalipse 2 e 3. Porto Alegre: Chamada, 2016.

GLORIA, SOLI DEO. Declaração de Fé. CPAD. Edição do Kindle.

MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2011. 


MALGO, WIM. Apocalipse de Jesus Cristo. Chamada. Edição do Kindle.

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