A palavra política está desgastada e, por muitos, foi “demonizada”. Isto reflete, de certa forma, o descrédito que marca a classe política do nosso país. Não obstante, política não é um mal em si. Pelo contrário, ela é indispensável, pois, não se pode viver em sociedade sem que haja medidas no âmbito da política. Uma definição para política é: “A arte e a ciência de governar”.
O próprio Deus governa o mundo por Ele criado. Logo, dentro desta concepção, Deus é político, pois, estabelece medidas administrativas com vistas ao bom funcionamento das coisas criadas. Ele é Rei dos reis e Senhor dos senhores! Deus não tem problema com política. Ele mesmo deu poder ao homem para governar. O texto bíblico declara: E disse Deus:
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine (governe) sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra” (Gn 1.26)
Muitas pessoas, equivocadamente, defendem a seguinte ideia: Lugar de cristão é na igreja. Esta concepção visa, sobretudo, limitar o espaço de atuação no que se refere ao exercício da cidadania. Para muitos, seja pela deturpação do conceito do Estado laico ou por considerar este como sendo algo totalmente corrompido, o cristão não deve se envolver com a política, bem como, com as demandas sociais para não se contaminar! Ainda afirmam: Política e religião não se misturam.
Eu pergunto: Tal posicionamento é correto? Evidentemente que não! Quando uma pessoa afirma que política e religião não se misturam é porque não entende nem de política e nem de religião! Esta postura não se sustenta diante daquilo exposto nos textos bíblicos, bem como, no que se refere a nossa Constituição Federal.
Na verdade, ao contrário do isolamento propostos por alguns, todo cristão deve exercer o seu papel na sociedade de maneira ativa. Deus não nos chamou para vivermos nos claustros, mas, sim, para brilharmos como astros de luz em tempos de trevas. Jesus disse que não se pode esconder uma cidade edificada sobre o monte (Mt 5.14).
Quando não exercemos os princípios que norteiam uma sociedade democrática, somos guiados por aqueles que, de maneira organizada, buscam estabelecer seus objetivos mediante estabelecimento de leis e parâmetros sociais. Diante destes fatos, apresento, pelo menos, quatro princípios básicos que fundamentam a participação do cristão na política:
Primeiro: Todo cristão tem o direto e o dever de exercer, de modo pleno, sua cidadania. Este direito é garantido aos brasileiros de acordo com o Artigo 5º da Constituição Federal. Logo, o cristão não pode aceitar esta “sugestão” de que seu “lugar é na igreja”, enquanto negação de seus diretos políticos e do exercício de sua cidadania. O fato de professar uma determinada fé não torna o individuo inferior a quem quer que seja. Portanto, o lugar do cristão não é somente da igreja, mas, sim, em todas as esferas da vida humana.
Segundo: Quando o cristão ignora seus direitos e não participa ativamente das demandas presentes na sociedade, ele ficará à mercê das decisões tomadas por outras pessoas. Conforme sinalizado anteriormente, tais decisões nortearão o seu viver de modo prático e direto. Por isso, é fundamental que cada cristão se posicione em direção aos seus interesses sociais. O silêncio diante de um problema pode significar a perpetuação desde referido problema. Por isso, cada cristão deve dar voz aos seus objetivos e lutar em prol de um mundo melhor e mais justo.
Terceiro: A corrupção está presente neste mundo. Fruto, inclusive, da desobediência do primeiro casal. Todavia, não é correto afirmar que este mundo não pertence a Deus. Apesar dos efeitos da desobediência, Deus continua sendo o Senhor da criação. O salmista afirmou: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). O próprio Jesus, orando pelos discípulos, disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17.15). Por isso, cabe ao cristão lutar para tornar este mundo melhor. Uma das ações neste sentido é atuar para trazer o Reino de Deus a este mundo (Mt 6.10) por intermédio da pregação da Palavra e, também, pela atuação nas demandas presentes na esfera governamental e política.
Quarto: A Bíblia não proíbe que os homens participem da política. Pelo contrário, há inúmeras citações de homens de Deus que exerceram cargos públicos. No livro do Êxodo, por exemplo, encontramos o relato no qual o próprio Deus entregou leis a Moisés para regulamentar a vida em sociedade. A atuação de José, enquanto governador do Egito, durante um período avassalador de fome, foi providencial. Várias nações foram impactadas pelos seus atos administrativos.
A morte não assolou o seu povo, bem como, aos moradores da terra. Por que isso ocorreu? Porque José adotou medidas políticas! É importante ressaltar que política é, também, a arte de governar. Não se pode governar sem a implementação de leis. O que dizer do profeta Daniel na Babilônia? Um homem sábio que influenciou as autoridades de sua época e, por isso, tornou-se referência no seu tempo.
Quando analisamos o Novo Testamento, também encontramos homens de Deus fazendo uso da política. O apóstolo Paulo, ao reivindicar seus diretos enquanto cidadão romano reforça o valor da participação política, sem, contudo, excluir a espiritualidade. O livro de Atos afirma que os magistrados de Éfeso, após rasgar as roupas de Paulo e Silas, mandaram açoitá-los com varas. E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram na prisão. Após severos e injustos açoites, dentro de um cárcere, eles louvaram ao Senhor Deus. Entretanto, ele não fez por menos! Quando os magistrados quiseram liberá-los, Paulo exigiu o cumprimento da lei, pois, enquanto cidadão romano, não poderia ser açoitado daquele modo (Atos 16.19-26).
Diante do exposto, quando o cristão se conscientiza do seu papel enquanto cidadão, ele deixa de “demonizar” a política. Pelo contrário, ele entende que Deus deseja ser glorificado em todas as áreas da vida humana, inclusive, na política. Tal atitude reflete um comportamento alinhado com os textos bíblicos, bem como, com maturidade cristã e cidadã. Parafraseando as palavras de Jesus, concluo: Não somos deste mundo, mas estamos neste mundo. Portanto, é tempo de marcar posição para a glória de Deus