“E João, chamando dois dos seus discípulos, enviou-os a Jesus, dizendo: És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro? E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?” (Lc 7.19-20).
Eu sempre admirei e aprendi com a vida de João Batista.
Multidões iam ao deserto para ouvi-lo e serem batizadas por ele. Ele sabia para o que havia sido chamado. Não apenas tinha uma mensagem, mas também sabia onde ela deveria ser anunciada.
O tempo passa e, agora, ele está preso. No auge de sua dor, esse João, que um dia teve tantos discípulos ao seu redor, parece não poder contar com muitos nesse momento. O texto diz que apenas dois foram chamados. O que havia de tão pessoal nessa conversa? Esses dois seriam testemunhas de um João que as multidões não conheceram. Eles veriam um João mergulhado na dor, nos conflitos e nas dúvidas.
O mesmo João que anunciava: “Eis o Cordeiro de Deus!” agora chama esses dois e pede que perguntem ao próprio Cordeiro se Ele era, de fato, tudo aquilo que um dia ele não apenas acreditou, mas também proclamou.
Imagine ser testemunha de alguém no auge do seu conflito e, ainda assim, ser o canal do Céu para lhe trazer uma resposta. Imagine o nível de confiança que João precisou ter nesses dois, ao ponto de permitir que o vissem irreconhecível, e mesmo assim eles permaneceram fiéis, sem minimizar sua dor ou descredibilizar toda a sua trajetória.
Escrevo isso porque percebo que há muitas pessoas boas, com uma história de vida linda já construída, que, assim como João, enfrentam dias difíceis, mas parecem não ter ouvidos confiáveis disponíveis, nem pessoas dispostas a ser alívio nesse tempo.
Havia gente por perto quando João estava livre. Havia gente disponível enquanto seu discurso atraía multidões. Havia gente ao seu lado durante a sua melhor versão. Mas onde estavam quando ele mais precisou?
Que possamos ser como esses dois. Olhe ao seu redor e não perca a sensibilidade de interpretar os ombros caídos, o olhar perdido e os sorrisos forçados.
Se “João” te chamar, esteja disponível. Mas, acima de tudo, seja confiável. Só quem precisa saber dessa conversa entre vocês é Jesus.