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Gênesis 4: “O Pecado à Porta”

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“Adão teve relações com Eva, sua mu­lher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela: “Com o auxílio do Senhor tive um filho ho­mem“.Gênesis 4.1

Na narrativa de Caim e Abel, a tentação é descrita pelo autor com as seguintes palavras: “Se agires bem, não é certo que serás aceito? Mas, se não agires bem, eis que o pecado jaz à porta; ele espreita você, mas você pode dominá-lo” (Gn 4:7). Essa expressão se origina de uma superstição dos povos mesopotâmicos que evitavam pisar sobre a soleira da porta, pulando por cima dela, acreditando que demônios estariam escondidos ali, prontos para saltar sobre eles.

Aqui, o pecado é comparado à serpente que tenta em Gênesis 3: uma força maléfica, dissimulada, pronta para se lançar sobre a pessoa e dominá-la. A tentação é vista como um tipo de engrenagem na qual podemos entrar. Esse mal interior, representado pela inveja e ódio em Caim, torna-se mais forte quando ele mata Abel. Ocorre o exemplo mais aberrante: matar seu próprio irmão.

Caim que mata Abel é a representação do que ocorre até hoje: a cada dia, os homens matam. O pecado está sempre à nossa porta como uma fera escondida, pronta para nos dominar.

A súplica na oração de Jesus tem o mesmo direcionamento: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do Mal” (e não: “Não nos submetas à tentação” Mt 6:13), como se o próprio Deus fosse o tentador. Jesus, antevendo sua própria morte, evoca a figura de Abel, que representa todos os justos perseguidos e mortos (Mt 23:35). Abel anuncia Cristo, também vítima do ódio dos homens, esse mal interior presente na humanidade desde o princípio.

  • Gênesis 6-9: “O Coração Malvado”

Na narrativa do dilúvio, a perspectiva é universal: a violência e a maldade estão por toda a terra. De onde vem este mal? O autor responde: “A maldade do homem era grande na terra, e todo o desígnio do seu coração era continuamente mau” (Gn 6:5). O grande mal é interior: o coração do homem está corrompido.

Jesus retoma essa afirmação: “Porque é de dentro, do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7:21). Ele interpreta a narrativa do dilúvio como uma descrição da situação predominante até o fim dos tempos: “Como nos dias de Noé, será a vinda do Filho do Homem. Como naqueles dias que precederam o dilúvio, estavam comendo, bebendo (…) e não perceberam nada até que veio o dilúvio e os levou a todos” (Mt 24:37-39).

Gênesis 6-9 desempenha bem seu papel de narrativa mítica, descrevendo o homem de todos os tempos. Estamos “nos dias que precedem o dilúvio”: a corrupção e a violência estão por toda a terra. Um dia o fim virá, bem como uma nova ordem mundial. Nesse ínterim, podemos escolher permanecer fiéis a Deus, como Noé, ou continuar no mal. Esse quadro descreve não só a história passada e a atual, mas também anuncia nosso futuro.

Com Noé, apresentado como fiel a Deus, vemos que o bem existe na humanidade, mesmo fora de Israel. Noé é uma prefiguração de Cristo, que será salvo do mundo atual para ingressar em uma nova criação. A arca de Noé simboliza a Igreja, sacudida pelas forças malignas, mas protegida por Cristo.

O arco-íris, aparecendo após o dilúvio, é um símbolo de paz. No Apocalipse, ele aparece numa visão do céu (Ap 4:3), indicando que um dia o mal terá fim e uma nova ordem mundial será inaugurada.

  • Gênesis 11: “Querer Atravessar os Céus”

No relato da Torre de Babel, a humanidade falava uma só língua e pretendia construir uma torre que chegasse aos céus para fazer um nome para si (Gn 11:1, 4). Esse desejo de “penetrar os céus” significa querer ser como deuses, alcançar a plenitude sem Deus.

Hoje, o projeto de uma sociedade unificada, representada pela “globalização” ou “nova ordem mundial”, se apresenta com a máscara da fraternidade e unidade, mas pode resultar na escravização da humanidade. O autor do Apocalipse descreve o mundo atual como a Grande Babilônia, governada pela besta (Ap 13:18). Satanás, oferecendo os reinos do mundo a Jesus (Lc 4:5-7), simboliza esse domínio maligno.

O relato de Babel descreve uma sociedade que busca se realizar sem Deus, resultando em divisão e incompreensão (Gn 11:7-9). O inverso de Babel é Pentecostes, onde todos entendem os apóstolos em suas próprias línguas (At 2:7). Pelo Espírito Santo, a humanidade se reencontra e se respeita em suas diferenças.

  • As Forças do Mal

As expressões simbólicas:

1. Ser como deuses (Gn 3)

2. O pecado à porta (Gn 4)

3. O coração perverso (Gn 6)

4. Penetrar os céus (Gn 11)

Esses quadros representam o mal observável e interior, mostrando que somos como o homem e a mulher indiferentes a Deus, sofrendo e morrendo. Somos Caim, que espreita o pecado à porta e mata. Somos os homens corruptos e violentos de antes do dilúvio. Somos os homens de Babel, querendo alcançar a plenitude sem Deus, resultando em divisão e incompreensão.

Para explicar por que a humanidade permanece fechada a Deus, o escritor revela a presença das forças do mal, começando com a figura da serpente em Gênesis 3, vista como mentirosa e sedutora, mas sob o domínio de Deus.

  • Compreender o Antigo Testamento

As Ofertas de Caim e Abel

A Natureza das Ofertas:

Abel trouxe de suas primícias, as melhores e mais puras de suas ovelhas, enquanto Caim trouxe dos frutos da terra, que não eram de primeira qualidade. Esta distinção não é apenas sobre o valor material das ofertas, mas sim sobre a espiritualidade e a intenção por trás delas. Abel ofereceu com um coração puro e intenção sincera, buscando elevar sua alma e se conectar com Deus. Caim, por outro lado, trouxe uma oferta que simbolizava um esforço mínimo e uma conexão superficial com o divino.

Simbolismo das Ofertas

As ofertas de Caim e Abel também têm um simbolismo espiritual. Caim, sendo agricultor, representa o lado material e a terra, enquanto Abel, como pastor, simboliza a dimensão espiritual e celestial. As ofertas refletem essas diferentes naturezas: a oferta de Caim é da terra, o reino do mundano, enquanto a oferta de Abel é do rebanho, simbolizando um sacrifício espiritual mais elevado. A aceitação da oferta de Abel e a rejeição da oferta de Caim indicam a preferência divina pela pureza e sinceridade espiritual sobre o mero cumprimento material das obrigações.

A Reação de Caim

A inveja e o ressentimento de Caim são vistos como forças negativas que se apoderaram dele. Essa inveja é uma manifestação do mal que Caim não conseguiu dominar, apesar do aviso de Deus. É enfatizado a importância de dominar essas forças internas negativas para alcançar a verdadeira conexão com Deus. Caim falhou em fazer isso, e sua incapacidade de lidar com seu ressentimento e inveja levou ao fratricídio.

Consequências Espirituais

O assassinato de Abel não é apenas um crime físico, mas uma violação espiritual que afeta a harmonia do universo. Abel é visto como uma alma justa que foi injustamente tirada deste mundo, e seu sangue clama por justiça. A maldição de Caim, que se torna um errante na terra, é uma metáfora para a desconexão espiritual e a alienação de Deus.

Redenção e Reparação

A jornada de Caim como um errante é uma oportunidade para ele refletir sobre suas ações e buscar um caminho de retorno à graça divina. É destacado que mesmo aqueles que cometeram grandes erros têm a oportunidade de se arrepender e restaurar sua conexão com o divino.

Importante assimilarmos que as intenções por trás de nossas ações são cruciais e que devemos sempre buscar a pureza espiritual e a sinceridade em nossa relação com Deus. A história também serve como um lembrete das consequências de permitir que forças negativas, como a inveja e o ressentimento, governem nossas vidas, e da importância do arrependimento e da busca contínua pela reconexão espiritual.

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