“Quando Noemi viu que Rute tinha tomado uma decisão firme e que nada a podia demover, não insistiu mais.”Rute 1.18
A necessidade, muitas vezes, é o único norte que se tem, a única conselheira, o caminho irremediável. Comer ainda é a mais gritante dentre outras carências humanas. Imagine então em uma sociedade agrícola, como eram as da antiguidade, em que a fome era mais enfática do que se é agora. “Houve fome na terra” Assim, baseada na necessidade e nesse contexto de fome, a família de Noemi toma a decisão de encher seus estômagos indo para outra nação, Moabe. O Livro de Juízes diz que “naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto.”
Refletindo sobre essa família, penso que talvez pudessem não ter ido, ou poderiam ter voltado logo…
Quem sabe? faríamos o mesmo? Porém terminam com outras fomes. Lá ela perde seu marido, seus filhos e seus pequenos sonhos. O estômago cheio, e a alma vazia.
Hoje não é diferente, podemos tomar caminhos impulsionados por nossas “imperiosas” urgências. Talvez não só pela falta de pão, mas por outras fomes: de amor, de status, de aceitação… Pois os tempos e as sociedades mudam, mas o ser humano…. ah… o ser humano! Esse é quase imutável.
Lembro-me de Ló. Ele também foi seduzido pelas curvas sinuosas do verde fértil das campinas de Sodoma. Quando as aparências e as oportunidades ditam as regras em detrimento à orientação divina nascem os “Moabes”.
Eu e você, sob o comando das nossas insuficiências, também podemos lançar o olhar para campinas verdejante. Porém, o que era verde vai lentamente se acinzentando, então nos damos conta da realidade hostil e dos lugares inóspitos em que entramos. Dizemos a nós mesmas que será apenas por um período. E que logo, logo faremos o retorno; no entanto, é como um atoleiro, depois de entrar é difícil sair.
O tempo vai passando, aquilo que tinha prazo torna-se permanente: relacionamentos abusivos, lugares tóxicos, moradias indignas, subempregos, dividas, sobrecargas, pecados… a lista é grande. E, de alguma forma, morremos, alguns literalmente como os homens da casa de Noemi, e outros, como ela, ficam com o corpo vivo, e alma morta. Por isso existem tantos “zumbis” em todas as esferas da sociedade.
Apesar de ela, provavelmente, não ter sido a responsável direta pela decisão de ir, inevitavelmente colheu os amargos frutos.
Então, diante de tamanha complexidade, o que fazer?
Noemi nos deixou uma lição. No entardecer sombrio da sua vida, surgiu um raio de sol, uma inesperada boa notícia! Pois ela ouviu que o Senhor se lembrara do seu povo, dando-lhe pão. Nesse momento, aquela mulher resolveu retornar, encarar a realidade, aceitar suas perdas, sua vergonha e recomeçar. Ela cata seus pedaços caídos,no chão moabita, abandona a velha casa construída sobre a areia e caminha, mesmo devagar, rumo à Casa do Pão (Belém).
Saiba que, por pior que sejam as tragédias individuais e até mesmo as coletivas, haverá sempre um caminho de volta, um recomeço, a possibilidade de reconstruir a vida sobre a Rocha.
Jesus (o nosso modelo) ao sentir fome foi sugestionado a transformar pedra em pão, mas qual o problema? Mais tarde ele mesmo não transformaria água em vinho, multiplicaria pães e peixes. O problema era a voz de comando. Jesus estava no deserto sob a orientação do Espírito Santo, Ele sobrepujou sua própria carne (fome, vontade) e a enganadora voz da Antiga Serpente, pois aquele que anda no Espírito não faz a vontade da carne. Ele cumpriu a vontade do Pai; por isso não pereceu de fome, ainda no deserto foi servido por anjos.
O mais importante é estar sob o senhorio de Cristo, porque nem só de pão viverá o homem, mas sim de toda a Palavra (o verbo vivo) que sai da boca de Deus. Só Ele, que é o pão e a água da vida, pode suprir plenamente todas as nossas necessidades físicas, emocionais e espirituais.
Quer você fique , quer você vá ( como Rute), quer você retorne.
É preciso caminhar debaixo do senhorio de Cristo.
Assim como explicado no Livro de Apocalipse 2:4-5
“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.”
Noemi, que havia perdido tudo, ainda voltaria a SERVIR com alegria. Sua vida que se tornara seca como um solo castigado pela falta de chuva se tornaria fértil, seu colo frio acolheria de novo e seus braços cansados embalariam a linhagem Daquele que veio para suprir toda falta, toda fome não só de hoje, mas eternamente!