Nos círculos cristãos, não raro vemos pessoas atacarem com muita veemência a teoria do Big Bang. A razão deste texto é mostrar que, antes de pensarmos em ir ao ataque, devemos estar cientes de que o pano de fundo filosófico em que a teoria do Big Bang se sustenta é o mesmo que é oriundo das Escrituras Sagradas. Vejamos.
Quando lemos qualquer livro escrito desde a Antiguidade até meados do século passado, vemos que eles são quase unânimes em afirmar que universo nunca foi criado, tendo, portanto, existido desde sempre.
É verdade que alguns, contudo, acreditavam que o universo havia sido moldado, arquitetado, a partir de uma matéria-prima eterna, que nunca foi criada. É o caso, por exemplo, dos gregos.
De acordo com o pensamento grego, representado aqui pela obra Timeu, escrita por Platão, o universo teria sido moldado a partir de matéria que sempre existiu por alguém chamado Demiurgo, uma espécie de arquiteto do universo, que, sem sucesso, tentou impor à referida matéria as formas perfeitas que estariam presentes no mundo das ideias.
Conforme disse, esta concepção de universo eterno durou desde a Antiguidade até há menos de cem anos. Todos apresentavam versões de como o universo (ou pelo menos a matéria que o compõe) havia de uma forma ou outra existido desde sempre.
Havia, contudo, um livro escrito por volta do Século XIV a.C. que trazia uma concepção diversa da majoritária. Falo aqui do Gênesis. Essa concepção era considerada tão esdrúxula, que praticamente não foi levada a sério pela ciência por pelo menos 33 séculos. Sim, refiro-me aqui a pelo menos 3300 anos em que o primeiro dos livros de Moisés estava afirmando algo que era considerado um disparate: que o universo não havia existido desde sempre, mas, pelo contrário, havia sido criado a partir do nada.
A criação a partir do nada (ou creatio ex nihilo) era um conceito que ninguém aceitava. Primeiro, porque o nada aqui não é simplesmente a ausência de forma, ou mesmo a ausência de matéria. O nada aqui é a ausência de absolutamente tudo, ou seja, é ausência de espaço, de matéria e mesmo de tempo. Aristóteles, inclinado a explicar o que era o nada, disse que era aquilo com que as pedras sonham. Segundo, porque caso aceitassem que o universo havia sido criado, teriam de responder quem teria sido o criador de tudo o que existe, já que, se há criação, há de haver criador.
Ocorre que, para completa surpresa dos cientistas, a ciência no século XX passou a oferecer evidências de que o universo não era eterno, como pensavam. Graças a essas evidências que Teorias como a do Big Bang prosperaram. Entre tais evidência, podemos destacar as seguintes:
1. A Segunda lei da Termodinâmica:
Esta lei diz que as coisas tendem naturalmente a um estado de maior desorganização com o passar do tempo. Como ainda vemos as coisas tendendo a este estado naturalmente, isso quer dizer o universo não é eterno. Ora, se fosse eterno, todas as coisas teriam tido suficiente para se desorganizarem totalmente e não veríamos mais esta tendência no universo.
2. A Expansão do Universo:
Hubble mostrou por meio da observação que o universo estava se expandindo. Ora, se ele está se expandindo é porque teve um ponto no passado em que ele estava concentrado. Se o universo fosse eterno, ele seria estático, não estaria em movimento de expansão.
3. A Radiação de Fundo:
Penzias e Wilson, que são dois cientistas ganhadores do prêmio Nobel, conseguiram identificar uma radiação de fundo para a qual a melhor explicação era a de que seria proveniente da origem do universo.
4. A Teoria da Relatividade:
A teoria mais bem-sucedida para descrever o funcionamento do universo afirma que ele teve uma origem. Einstein no começo ficou tão descontente com esta implicação de sua teoria que tentou mudar isso colocando uma constante na teoria. Os cálculos matemáticos começaram a dar errado e ele foi forçado a retirar a constante. Anos depois, ele afirmou que ter colocado aquela constante foi o maior erro da vida dele.
Fora essas, ainda há muitas outras evidências e descobertas no sentido de dizer que o universo teve uma origem e, mais que isso, de dizer que somente na criação do próprio o universo é que foram criados a matéria, o espaço e o tempo. Até as próprias leis da físicas foram criadas com a criação do universo. Quero deixar bem claro aqui que quem diz isso é a ciência, não a tradição religiosa.
O que é mais importante, contudo, é que pela primeira vez em século os cientistas tiveram de dar conta de uma questão que antes não existia: se o universo foi criado, quem foi o criador? Quando eles pensavam que o universo existia desde sempre, não fazia sentido perguntar quem era o criador daquilo que não havia sido criado. Quando se começa a ver que houve de fato criação, apareceu a necessidade de se responder quem criou o universo, que agora se entendia que havia sido criado.
Para responder a essa pergunta, utilizando-se somente do que vimos aqui no nosso bate-papo desta semana, pelo menos algumas características deste criador podem ser identificadas:
1. Se o espaço foi criado, então o criador tem de ser não-espacial;
2. Se a matéria foi criada, então o criador tem de ser imaterial;
3. Se o tempo foi criado, então o criador tem de ser atemporal;
Mais do que isso, se as leis da natureza somente foram criadas com o universo, então o criador tem de ser sobrenatural.
Ora, você já se apercebeu que a não-espacialidade, imaterialidade, atemporalidade e sobre-naturalidade são características do Deus cristão, especificadas na Bíblia?
Quando alguém trouxer à tona uma teoria como a do Big Bang, por exemplo, a primeira coisa que temos de saber é que ela traz como pressuposto a ideia de que o universo e tudo o mais o que existe nele (como matéria, espaço e tempo – enfim, os Céus e a Terra) foram criados a partir do nada. Isso era exatamente o que o livro de Gênesis vinha dizendo desde o século XVI a.C. Se alguém diz que acredita no Big Bang, antes de mais nada ele está dizendo que a ciência após mais de 33 séculos reconheceu o que as Escrituras sempre disseram: que o universo teve sim uma origem.
Mais uma vez, temos a comprovação de que o conhecimento, quando correto, leva ao mesmo lugar em que as Escrituras já nos levaram.
Para finalizar, devo acrescentar que alguém que defende a ideia de que o universo tem 14.7 bilhões de anos não está indo de encontro ao relato da criação exposto na Bíblia, mesmo que interpretada literalmente. É que o termo “dia”, do hebraico יומּ, “yowm”, utilizado no livro de Gênesis acomoda, entre outras três interpretações possíveis, a de um longo período de tempo.
Por fim, quero esclarecer um erro intelectual muito comum entre alguns apologetas no Brasil. Eles indevidamente associam a defensa do Big Bang à defesa da evolução biológica. São conceitos absolutamente diferentes. O universo pode ser antigo, a Terra pode ser antiga, mas a origem da vida ser recente. Defender um não é defender o outro, conforme muitos confundem. Espero que tenham ficado maravilhados com a forma como a ciência tantas vezes tem de se render ao que já está há séculos nas Escrituras.