Oficialmente (ECA), Lei 8.069/90 considera-se a entrada na adolescência aos 12 anos, período em que, normalmente, se define também a escolha numa inserção religiosa.
Marcado em nossa cultura como um período de turbulências profundas de ordem física, psicológica e social, procuramos destacar os pontos cruciais do adolescente objetivando suavizar as tormentas e colaborar nas estratégias de atuação do professor de EBD.
- Aspectos psicológicos:
Nessa etapa inicial da adolescência (entre 12-14), alguns dados típicos aparecem, tais como: a diminuição de interesse pelas atividades com os pais, embora, eles sejam referência fundamental na vida do adolescente; insegurança e preocupação com a aparência; entrada na puberdade; busca de privacidade; interesse pelo sexo oposto é intensificado; impulsividade e revolta, abstração como processo mental mais sofisticado começa a vir à tona; interesses como idealização profissional etc.
Nessa faixa etária inicia o processo de perda do fantasiar em direção à realidade, entrar na vida adulta é muito custoso para o adolescente. Esse processo psíquico deve ser estimulado, as oscilações momentâneas entre maturidade e meninice são condizentes nessa faixa etária. Deve ser tolerado pelo professor, entretanto, estimulado a desenvolver a maturidade, direcionando o adolescente, novamente, para o foco de atenção e concentração. O fantasiar é um período que deve alcançar o limbo e ser esquecido após certa maturidade, sendo o teste da realidade o caminho para a fase adulta (Winnicott, 1971).
Lembramos que vários eventos psíquicos ocorrem dentro do adolescente, muitos, nem chegam a ser conhecidos, outros dissipam sozinhos, outros ainda, são camuflados pela família. Os professores NÃO devem omitir cuidado, direcionando para pastores e profissionais da saúde sempre que necessário. Por vezes, os professores são os únicos adultos que chegam a saber dos problemas do adolescente, os sintomas são meramente a “ponta do iceberg”.
Alguns distúrbios psicológicos dessa idade:
1) “síndrome do imperador”:
Atualmente, estudos comportamentais descrevem a “síndrome do imperador”, como um exemplo extremo, de má condução dos pais à frustração, limites, proibições e outros procedimentos educacionais que quando não são estabelecidos, propiciam ao adolescente a se tornar um “tirano”, um abusador dos pais sem o menor constrangimento por esse ato.
Os pais, por sua vez, são os causadores desse processo, pois falham de forma vil deixando os filhos pouco capazes à frustração e decepção, fragmentando, com essa atitude, a estrutura do adolescente saudável rumo à sociedade.
Freud já anunciava que o primado do prazer deve sucumbir ao agente crítico (superego) no processo de socialização (Freud, 1923). A frustração e a adaptação à realidade são etapas imprescindíveis para o desenvolvimento psíquico saudável, facilitador para a vida adulta.
O papel da igreja como corpo de Cristo, é fundamental para direcionar o andar em fé na adversidade, alertar os pais a serem capazes de frustrarem seus filhos, de agirem além das emoções a fim de conduzirem homens de caráter, guerreiros em “terra estrangeira”.
O professor deve destacar merecidamente a importância de personagens bíblicos comentando as experiências, trazendo à baila identificações, erros, obediência, semelhanças, diferenças etc., criando um universo de intimidade com os personagens bíblicos a fim de aprender com as experiências alheias. A inteligência interpessoal deve ser estimulada nesse período da vida. É pela observação dos referenciais que se extrai conhecimento e aprendizado próprios. (Gardner,1983)
Harmonizar essa trajetória com empenho e acolhimento na fase inicial da adolescência é de suma importância e norteador para toda a vida.
2) “sonolência excessiva” e falta de interesse:
A sonolência é um marco na adolescência, porém, pode refletir sintomas que vão além do sono, sentimentos de exclusão, não pertencimento, revolta, pedantismo, sofrimento, bullying dentre outros.
A insegurança ou dificuldade de aprendizado acoplada à sonolência pode virar perda de interesse. O professor deve ficar atento pra identificar o que está atrás desse quadro. A aula monótona, monocórdica, leituras extensas também geram perda de interesse. Vale trazer curiosidades, detalhes especiais, apontamentos dessa ordem atraem o conhecimento.
Nessa etapa, a privacidade e o tempo individual são norteadores da aula expositiva e prática. Entreter a aula com jogos de conhecimento é mais agradável ao aluno e facilita no aprendizado e a relação de grupo. Aulas com exemplos de realidade do universo da turma, uso do humor rompe com o constrangimento inicial e sonolência.
3) “Cutting” breve comentário:
Doença relativamente nova de cunho psicológico que acomete mais as meninas entre 13-14 anos que chegam a se cortar como busca de alívio da dor interna. Apresenta profunda depressão com dramático cenário familiar de ausência de comunicação, cuidado e valor para essa jovem. Muitas vezes, relacionado a abusos sexuais e dramas psicológicos.
Construções internas que impedem a formação de uma imagem completa, bela e saudável. Esse procedimento é acoplado de profunda dor e sensação de vazio, de falta de valor e despropósito.
Esses jovens aparecem metodicamente com roupas compridas, se cortam normalmente nos braços e coxas por serem lugares pouco visíveis e de fácil camuflagem. Normalmente, são denunciadas pelas amigas e a busca por tratamento familiar pastoral e acompanhamento do jovem por um profissional é crucial.
- Aspectos Fisiológicos:
Alterações fisiológicas e monitoramento escolar (auxiliando possível encaminhamento para profissional da saúde) :
Vemos fenômenos fisiológicos como o crescimento rápido, desenvolvimento das gônadas, desenvolvimento dos órgãos reprodutivos e aparecimento dos caracteres sexuais secundários; mudanças na composição corporal e desenvolvimento dos sistemas circulatório e respiratório; Crescimento também da caixa craniana, do globo ocular (aparecimento, frequente de distúrbios oculares). O crescimento do tronco (aumento da relação tronco e membros) pode provocar ou agravar desvios da coluna (escoliose do adolescente, cifose juvenil, lordose). Adequação esportiva, postural e alimentação são de importante observação (Marshall & Tanner).
Ocorre o crescimento da fronte, do nariz, da mandíbula e do maxilar superior (destaque para as oclusões dentárias), aparecimento ou acentuando uma queixa de cefaléia (dor de cabeça).
Na menina, o broto mamário aparece antes dos 10 anos, sendo doloroso e unilateral, desenvolve-se até chegar a menstruação, no Brasil, por volta dos 12 anos (período variável dos 9 aos 16 anos). As moças sofrem mais de distorção da imagem corporal que os rapazes, diante desse corpo em transformação (casos de anorexia, bulimia, obesidade), alterando estados emocionais, fragilidade da percepção de si mesma, aumento da insegurança, baixa-estima, ansiedade, tristeza, etc.
No rapaz, antes dos 11 anos, o saco escrotal aumenta, por volta dos 12 anos, há polução noturna, ou seja, a ejaculação involuntária de sêmen quando o adolescente está dormindo. Tal evento é fisiológico normal, frequentemente, causa constrangimentos e dúvidas aos adolescentes e seus familiares devendo ser orientados e tranqüilizados pelo profissional de saúde.
No rapaz, por volta dos 13 anos, ocorre ginecomastia puerperal , aumento da glândula mamária masculina, frequentemente é bilateral firme ou móvel entre 13 e 14 anos. Regride espontaneamente em cerca de 6 a 8 meses. Quando não retrocede em 24 meses, deverá ser avaliado, pois pode interferir na autoestima do adolescente.
Há também o surgimento de espinhas na pele que se torna mais oleosa nos adolescentes. Os profissionais da saúde utilizam a Tabela de Tanner para controlar as mudanças corporais.
Amadurecer não é tarefa fácil e deve dispor do auxílio dos pais, professores e das figuras de autoridade dos jovens. É fundamental os pais ficarem atentos a quem são os influenciadores da vida dos seus filhos e com clareza esclarecer eticamente essas influências que tendem a aumentar de quantidade conforme a adolescência vai avançando. Toda atenção é pouca nesse aspecto, inclusive porque nessa idade a escuta aos pais ainda é a primazia na vida dos filhos. Nesse período, é crucial reafirmar os valores de infância. Como o infante cresceu, pode-se conversar abertamente sobre a conduta ética das pessoas, ensinando-o.
A vida familiar é fundamental nesse período, pois todo ensinamento, valores, atitudes, ética, moral, temperamento familiar etc. são observados pelo adolescente e reproduzidos nessa etapa inicial.
Vale notar que a entrada precoce na adolescência conduz a problemas futuros de mesma proporcionalidade.
É importante que os pais estejam sempre atentos para desfazer idealizações, trazer à realidade a seus filhos, frustrá-los com explicações claras e breves, especialmente, sem atos contraditórios.
Comentários finais:
Toda atenção é voltada para a prática, devemos corrigir esse bordão “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!”. Ao contrário, nesse período, mais do que nunca , toda atenção do adolescente é para a realidade, é para o que se faz na prática, não no que se diz pra fazer. O jovem confronta o erro dos adultos, peita a autoridade e anuncia a hipocrisia do adulto, toda sua atenção está voltada para tudo que ocorre. Aquilo que se observa na prática é, sem dúvida, o norteador do aprendizado efetivo para o adolescente. Os valores, a radicalidade, os eixos de estruturação da família são profundamente observados e reproduzidos. A hipocrisia na família pode gerar grande repúdio no adolescente a ponto de desprezar seus valores e motivar revoltas. Cabe aos pais serem referências reais!
Orientação ao professor:
Professor de EBD deve utilizar personagens bíblicos para extrair ensinamentos, valores e atitudes nesse período. Produzir espaço de proximidade entre professor/aluno, mapeamento familiar, ajudar o aluno a ser capaz de identificar e descrever seus próprios sentimentos, falar sobre identificações, quebrar o constrangimento típico da idade.
Procurar descobrir os assuntos em pauta da sua turma e utilizá-los para falar dos valores cristãos. O texto bíblico deve direcionar para situações cotidianas, adolescentes gostam de dar exemplos e trazer experiências. Exercícios de cooperação são ótimos.
Atividades que motivam o aluno: Desenvolver jogos que acoplam valores, tais como, poder de fé, obediência, disciplina, emoções, o uso do humor com charges e piadas são bem aceitos.
Criar jogos interativos, como exemplo de “cards” de heróis da fé com descrição do nome, tempo de vida, filhos quantidade, porcentagem de fé, disciplina, principal feito de Deus na vida do personagem.
Jogos sobre o temperamento dos personagens bíblicos com emoji. Mímica de personagens bíblicos: Pedro tinha temperamento sanguíneo; Paulo era colérico, Moisés era melancólico; Abraão, fleumático.
Conversas em roda: Qual personagem bíblico você se identifica e por quê? Se a turma ficar muito constrangida de iniciar, começar com o professor.
Atividades desmotivadoras: Nessa idade a vergonha impera, exposição individual não motiva o adolescente nessa idade. Leituras em voz alta são mais interessantes em pequenos grupos, assim, eles sentem mais acolhidos e entrosados para exposição.
Nota importante: A criança não deprime como o adulto, os sintomas de depressão em crianças menores é tornar-se mais agressiva, irritadiça, destrutiva e com pouco interesse com os outros e o mundo a sua volta.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. O que é Síndrome do Imperador?- Todo Seu (26/02/18) Disponivel em: http://tvgazeta.com.br/todoseu .Acesso em:21 dez. 2020.
CRESPIN, J.; REATO, L.F.N. Hebiatria Medicina do Adolescente. São Paulo: Roca, 2007.
ECA- Estatuto da criança e do adolescente, Lei n.8069, de 13 de Julho de 1990.
FRANÇOSO, L.A.; GEJER, D.; REATO, L.F.N. Sexualidade e Saúde Reprodutiva na Adolescência. São Paulo, Editora Atheneu, 2001.
MS- Ministério da saúde secretaria de atenção e saúde. Departamento de ações programáticas estratégicas da saúde do adolescente: competências e habilidades. BRASILIA, DF, 2008.
Neinstein L.S. Adolescent Health Care. A pratical guide. Third Edition, 1996.
Marshall & Tanner CONSENSO CURITIBANO. Secretaria Municipal da Saúde, 2006.
SAITO, MI; Silva LEV. Adolescência: Prevenção e Risco. 1ª ed. São Paulo, Editora Atheneu, 2001.
SOUZA, V. Defesa e Viver criativo: Um Estudo sobre a criatividade nas obras de S.Freud e D.W.Winnicott, Curitiba: Editora Juruá,128p., 2011.