Lc 15.4
Um dos motivos que justificam nosso fracionamento aos 15 anos para a adolescência central é o fato de estar concentrado aqui o maior índice de evasão escolar nessa faixa etária conferida pelo ministério da educação . O ministério da educação de 2019 aponta que dos aproximados 10 milhões de alunos dessa faixa etária, 15% nem chegam a se matricular para o ano letivo.
“Ou seja, antes mesmo do início das aulas, 1,5 milhão de jovens já está fora da escola. Mas nem todos os 8,8 milhões, dessa faixa etária, que se matriculam, permanecem na escola até o final. Cerca de 7% do total desses jovens abandonam a escola durante o ano letivo. Ao final do ano, mais de 30% desses jovens já se encontram fora da escola. Apenas 6,9 milhões de jovens brasileiros de 15 a 17 anos frequentam a escola até o fim do ano letivo…Se considerarmos ainda a reprovação, resultado do não engajamento nas atividades escolares, concluímos que há 2,8 milhões de jovens que não concluem a série por falta de engajamento. Algo já deveria ter sido feito e não foi, mas a população, empresários e profissionais da área precisam trabalhar conosco na construção de políticas que revertam um quadro que vem de anos de descaso (…) Considerando a velocidade com que o Brasil melhorou esse indicador na última década, essa meta seria atingida em mais de duzentos anos! É um prazo inadmissível para alcançar metas básicas e prioritárias. E isso não decorre dos três meses de governo Bolsonaro, isso decorre de um problema que se instaurou ano após ano.” (ministério da educação).
O relatório da Organização das Nações Unidas, “Relatório sobre a Juventude”, de 1973, também considera o início da juventude aos 15 anos. Embora esse documento seja antiquado ainda hoje vigora como documento oficial.
O conceito de adolescência esbarra com a pessoa do adolescente, com suas particularidades com o ambiente social, fator genético, familiar, regional, alimentar, ambiente escolar, cultural, afetivo, religioso etc.
É o período deflagrado pelo acentuado conflito com os pais, aceitação do corpo e busca por torná-lo mais atrativo (diante da busca desenfreada pela perfeição física, entre uma selfie e outra, se busca cada vez mais por “plásticas reparadoras”, maquiagens, ângulos dos corpos perfeitos similares às imagens reproduzidas por filtros fotográficos), busca por pertencimento grupal (comportamentos aceitos pelo grupo), maior desenvolvimento da habilidade intelectual, encaminhamento para a atividade sexual, sentimentos de onipotência (posso fazer todas as coisas), por vezes, pode assumir comportamento de risco.
Nas emoções, a adolescência é imbuída de intensidade afetiva, explosões temperamentais, extremismo, fantasiar em demasia são fenômenos naturais desse período e que tendem a suavizar conforme vai crescendo. Por vezes, o comportamento inadequado do adolescente pode ser traduzido erroneamente como patologia.
Cabe ressaltar que nessa enxurrada de transformações, algumas vezes, estamos realmente diante de problemas de ordem psiquiátrica (latentes ou manifestos) que não podem ser ignorados. Inclusive, algumas patologias mais difíceis de prognóstico, têm seu início nesse período.
O distanciamento do referencial familiar é explicado em diversas teorias como necessário para a estruturação de uma identidade própria. Embora a identidade sofra transformações em toda vida, o luto pela perda do corpo infantil e seu entorno são fatores justificáveis para as alterações que ocorrem no adolescente. No aspecto sociológico é o período da vida em que a sociedade deixa de encarar o indivíduo como criança, mas não lhe confere plenamente o status de adulto.
Nessa idade, fenômenos normais de instabilidade e desequilíbrio emocional são comuns, alternando períodos entre: agitação, introversão, audácia, timidez, descoordenação, urgência, intelectualização, pertencimento grupal, postulações filosóficas, desinteresse, apatia e crises religiosas.
Temperamentos familiares:
O temperamento familiar ocupa posição de destaque na estruturação do adolescente, é quase inevitável que a reprodução dos comportamentos familiares seja replicada pelo adolescente.
Exemplos.: numa família em que o mau-humor (distimia) é imperativo, pode-se aferir o adolescente com mesmo temperamento; numa família em que a palmada é norteador dos limites, com certeza, o adolescente se torna capaz de mesma resposta; numa família em que respostas rudes são aceitas, provavelmente, o adolescente também copia esse comportamento; numa família polida em excesso, apresenta um adolescente também polido. Obviamente, não estamos restringindo a autonomia do jovem de se tornar diferente de sua origem, mas é inevitável que a reprodução dos moldes ocorra, nem que seja para serem descartados no futuro, quando confrontado em sociedade.
Defesas para comportamentos inadequados:
O adolescente se torna reservado (distanciamento, indiferença, arrogância e até mesmo indelicadeza) quando em companhia de pessoas que podem ridicularizá-lo ou não compreendê-lo.
A fim de aplacar a sensação de incompetência, o adolescente pode produzir comportamentos extremistas, por exemplo, dedicação escolar excessiva ou na demasia de atividades físicas, ou ainda, no empenho excessivo das atividades sociais.
Vida social na adolescência
A vida social é a vertente que mais produz atenção na vida do adolescente. Como o grupo enxerga a realidade é algo muito valoroso e impactante para o adolescente, mesmo que seus pressupostos e valores não sejam condizentes. Ser inserido no grupo ou rejeitado tem caráter emocional profundo e com isso o direcionamento do grupo gera pressão emocional constante.
Além disso, o adolescente sofre com o modo como se enxerga solitário e incompreendido.
A busca pela aprovação do grupo aliadas às teorias do mundo secular e distrações, criam um cenário convidativo para o esvaziamento da prática cristã.
Esse atravessamento solitário é dissipado nos grupos em que faz parte, por isso, a importância de cultivarmos o pertencimento do adolescente, integrando-o no grupo, na turma de EBD, estimularmos o diálogo e o encontro com seus pares, evitando a dispersão dos adolescentes. Criação de ambientes facilitadores para os vínculos, inclusive para distrações. O adolescente gosta de aglomeração, de espaços pequenos e aconchegantes. Formalizar demais, distanciar os jovens entre si diminui a eficácia do trabalho.
A psicologia social contribui no estudo de observação do adolescente e suas atitudes frente ao grupo. Não é incomum observar o comportamento do adolescente destoante do seu padrão quando em grupo. O caráter de pertencimento é muito poderoso sobre os adolescentes que estão envolvidos naquele grupo. Esse fenômeno é uma ferramenta poderosa de manipulação, bastante usada no mundo secular.
Certas teorias filosóficas, sociológicas e pedagógicas impostas no currículo secular de forma direta ou indireta, contribuem para manipular uma massa amorfa de adolescentes desorientados. Nesse caldeirão de busca de pertencimento grupal, o universo secular tende a criar uma unificação de pensamento, comportamento, ideias e até mesmo, de identidades manipuláveis para estratégias políticas.
Quando a matriz cristã do adolescente é frágil, afetivamente inseguro, com pouca convicção cristã, o jovem torna-se presa fácil de ideologias, orientações militantes e professores doutrinadores.
Sobre essa enxurrada de “visões de mundo” plurais, devemos observar com profunda atenção para onde se voltam os olhos desse jovem.
Os pais e educadores da EBD devem motivar os jovens e incentivar seus valores cristãos, ser claro e sanar confusões e dúvidas. Certos entendimentos são primordiais para continuar a caminhada cristã, mesmo que os pais ou professores não saibam respondê-los devem parar nesse ponto, motivar a pesquisa, a oração do adolescente e trazer a resposta para o grupo valorizando o empenho e a descoberta. Assim, prosseguir na caminhada cristã, distanciando de doutrinas falsas, pecados (dentre eles, a pornografia 72% frequência no sexo masculino) etc. mantendo, portanto, os hábitos cristãos (orar, jejuar, ler a bíblia e congregar) como pilares para evitar os males do mundo.
O professor nessa faixa etária deve ser desafiador, diferente do perfil da entrada da adolescência em que o afeto, acolhimento são os primordiais, nessa idade o foco é o desafio, avidez pela busca de conhecimento, pelo incentivo da curiosidade e pesquisa.
BIBLIOGRAFIA
A; SANTIAGO, L; PARADELLA, V.; BOSTELMAM, A. & CYRINO,L. Artigo possíveis consequências da pornografia na sexualidade humana.
CORDELLINI, J. Adolescencia e saúde física e mental.
CONSENSO CURITIBANO. Secretaria Municipal da Saúde, 2006.
DOMINGOS,B.& MALUF,M. Puc SP psicologia: reflexão e crítica, 2003 Experiências de Perda e de Luto em escolares de 13 a 18 anos.
ECA- Estatuto da criança e do adolescente, Lei n.8069, de 13 de Julho de 1990.
HOLLINGSHEAD, A.B.& REDLICH,FC.Social Strarification and Psychiatric Disorders, 1963.
NEINSTEIN L.S. Adolescent Health Care. A pratical guide. Third Edition, 1996.
SADOCK BJ, SADOCK VA. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 9a ed. Porto Alegre: Artmed; 2010.
VIVÊNCIAS: Revista eletrônica de extensão da URI ISNN 1809-1636 vol.14, N.27: p.66-75, Outubro/2018.
http://portal.mec.gov.br/componente/tags/tag/36066
SOUZA, V. Defesa e Viver criativo: Um Estudo sobre a criatividade nas obras de S.Freud e D.W.Winnicott, Curitiba: Editora Juruá,128p., 2011.