É chegada a hora de abandonarmos a visão ingênua do feminismo como um movimento nobre, que “luta por mulheres”. O feminismo não são suas “bandeiras de luta”. O feminismo é uma ideologia que tem por objetivo influenciar a sociedade e políticas públicas na direção de sua visão de mundo. Neste sentido, podemos afirmar que o feminismo é uma cosmovisão, ou seja, uma “lente”, com a qual interpretamos o mundo que nos cerca.
O objetivo deste texto não é focar na história do feminismo enquanto movimento, mas, trazer à luz ideias feministas a respeito da família, que estão disseminadas na cultura, que todos nós internalizamos em maior ou menor grau, e que estão na base da desconstrução social do modelo da Família Original.
Entenda-se como Família Original a estruturação dada por Deus, biblicamente, a esta que é a célula fundamental da sociedade. Em geral chamada de família tradicional, o termo usado nesse texto tem por objetivo reavivar o entendimento de que essa estruturação não foi recebida por uma tradição social ou civilizatória, mas, sim o formato recebido pela revelação das Sagradas Escrituras.
“Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne.
Gênesis 2:24
Independentemente da identificação pessoal ou não com a causa feminista, o fato é que todos nós absorvemos ideias feministas em algum grau, porque o feminismo está diluído na cultura: está nas músicas, nos filmes e séries, na moda, etc.
O objetivo deste material não é combater mulheres feministas, mas sim, questionar ideias feministas a luz da Palavra de Deus. Essa é uma oportunidade rara de ter acesso a um material a respeito dessa ideologia de maneira crítica, já que em geral, os documentários, filmes, conteúdos através dos quais tomamos contato sobre feminismo são em última instância, peças publicitarias, feitas para cativar o público, e não para informar, da mesma maneira que uma peça publicitaria da Coca Cola não é feita para levar conhecimento sobre a bebida, mas para gerar consumidores.
Também cabe salientar que é perfeitamente possível se identificar com bandeiras de luta “abraçadas” pelo feminismo que sejam legítimas, a luz da Palavra. O que é impossível para uma discipula de Cristo é se identificar com a interpretação de fatos e com as soluções feministas para a resolução das mazelas sociais.
Família Original
A Dra. Ilma Cunha, em seu livro “Enigmas da Alma”, traz importantes definições acerca do papel e do propósito da família, em seu formato original, e sua conexão com o Reino de Deus.
“A família, em sua estruturação definida na Palavra, é uma representação do Reino de Deus aqui na terra, um território dos céus na terra com a responsabilidade de implantar a cultura do Reino de Deus e fazer a transmissão geracional de seus princípios. Uma estrutura hierárquica, um governo como representante legal de um Reino invisível para um reino visível neste mundo: reinos conectados nos mesmos princípios, debaixo de uma delegação de autoridade do Rei dos reis para dominar um território que lhe foi confiado.”
Ainda segundo a autora, “cada cônjuge em sua função definida, tem a responsabilidade pela transmissão dos princípios de Deus, crenças e valores, para a geração seguinte.”
Aqui estamos falando do modelo original de família, que carrega em si a mensagem da trindade e pré figura a família celestial, na qual fomos adotados: a família heterossexual (formada por um homem e uma mulher biologicamente determinados), monogâmica, com laços matrimoniais duradouros e funções de cada cônjuge em papéis bem delimitados, alinhados à instrução bíblica: homem: liderança e provisão. Mulher: suporte, cuidados com o lar e com os filhos.
O Feminismo quer Influenciar a Família?
Sob o argumento de analisar e questionar o papel da mulher em uma sociedade conservadora, com forte influência do cristianismo, o que se fez principalmente foi uma difamação do tripé sobre o qual se fundamenta o papel dado por Deus a mulher, na família: ser esposa, mãe e responsável pelos cuidados com o lar. Coube ao feminismo a associação do papel que a mulher desempenhava na família ao seu reflexo social, e a interpretação de que isso resultava em opressão, preconceito e todo tipo de injustiça contra a mulher.
Por meio da difamação e consequente diluição do papel da mulher na família, o feminismo a partir de sua segunda onda, tem fortemente se posicionado contra o modelo biblicamente determinado para esta instituição.
Betty Friedan, em 1963 lançou seu livro: “A Mística Feminina”. Ela teve grande influência sobre as mulheres americanas burguesas, para que rompessem com o estilo de vida focado no lar e na maternidade.
A mística feminina, ou o “mito” da feminilidade é, na visão da autora, a expectativa social da época, que interpretava como virtude a mulher desempenhar os papéis na família de esposa, cuidadora do lar e mãe, encarando isso como feminilidade essencial. Seria um mito, portanto, um devaneio, uma fábula, uma mentira a noção de que o “papel” da mulher na sociedade era essencialmente ser esposa, mãe e dona de casa.
Essas ideias alteraram fortemente a família, porque essas noções que se refletiam socialmente, são instruções bíblicas, a respeito do papel ordenado por Deus a mulher na família. A mística era também a ideia de que ter uma carreira iria de alguma forma contra o papel pré-ordenado das mulheres. E nisso, concordamos que seja um mito, porque essa não é uma afirmação bíblica. Lídia, vendedora de púrpura, as mulheres que apoiavam o ministério de Cristo com suas posses, a mulher de Provérbios 31… são alguns dos exemplos de mulheres que tinham uma ocupação profissional mencionadas na Bíblia. No entanto, é um fato que, biblicamente, a atividade profissional ocupa um lugar secundário na vida da mulher casada.
Em nome do combate a essa “mística” o que foi feito pelo pensamento feminista, e que influenciou toda uma geração de famílias, foi uma total difamação, desonra e rejeição ao papel ordenado biblicamente por Deus às mulheres casadas.
Toda uma geração de mulheres nascidas em um mundo encharcado de mentalidade feminista incorporou o padrão feminista de sucesso, e se emanciparam de seu papel divinamente ordenado. Atualmente, podemos afirmar que a maioria dos cristãos se identificam muito mais com a cosmovisão feminista e, portanto, secular, a respeito do trabalho no lar, do que com a cosmovisão bíblica.
“As donas de casa são desmioladas e sedentas por coisas e não por pessoas. O trabalho doméstico ajusta-se na perfeição as mentes débeis das moças. Isso prende o seu desenvolvimento no nível infantil, pouco menos que uma identidade pessoal, com uma inevitável fraca consciência de quem é.”
Betty Friedan. A Mística Feminina
“As mulheres possuem uma dívida incalculável perante Friedan devido ao seu livro A Mística Feminina… A vida doméstica não era uma história satisfatória para a vida da mulher inteligente.”
Elizabeth Fox – historiadora americana, marxista.
“A dona de casa não é ninguém, e o trabalho doméstico é um trabalho sem saída. Pode até ter um efeito deteriorante na sua cabeça, fazendo com que ela se torne incapaz de se concentrar em uma só tarefa. Ela começa a parecer burra e enfadonha. Ser dona de casa faz com que as mulheres fiquem doentes.”
Socióloga Jessie Bernard, 1982.
E finalmente, presenciamos uma era em que a “profecia” feminista se tornou uma realidade nas famílias em geral, incluindo as que se identificam como cristãs:
“Não será mais virtude para a mulher ser escrava da casa. Além da dona da casa haverá também o dono casa”.
Betty Friedan
Podemos também destacar a profunda influência de Simone de Beauvoir nesse processo. Simone de Beauvoir, escritora francesa e uma das principais arquitetas do pensamento feminista, era amante de Jean Paul Sartre, o “pai” do existencialismo.
Para o existencialismo, tudo que existe, existe porque alguém criou. E quem o criou deu a ele uma finalidade a priori para sua vida. Exceto o homem. Segundo o existencialismo, o homem não tem um Criador. Ele, portanto, é livre para se auto definir. Ou dito de outra forma: o ponto central do pensamento existencialista é que a existência precede a essência, definindo que não existe uma natureza humana, tampouco determinações anteriores à existência.
Partindo desse pressuposto, de que não existe Deus, nem um criador, muito menos que o homem é feito a imagem e semelhança desse Deus, Simone conclui: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.
A mulher não teria um destino biológico, mas ela seria formada dentro de uma cultura que define qual o seu papel no seio da sociedade. Neste contexto, as mulheres, durante muito tempo, ficaram aprisionadas ao papel de mãe e esposa,
Segundo Simone, a sociedade é inteiramente masculina e patriarcal. E é esta sociedade que define que a mulher é um corpo condicionado; sem qualquer tipo de ação autônoma. E esta é uma estrutura social que legitima a opressão de homens sobre mulheres, e o principal instrumento para isso é o papel social esperado da mulher. O feminino é, segundo Simone de Beauvoir, um produto civilizatório, intermediário entre o macho e o castrado.
Segundo a filósofa, essa arquitetura social, que aprisiona a mulher ao papel de esposa, mãe e cuidadora do lar, foi construída e sustentada pelos próprios homens, para oprimir as mulheres. E nisso reside a raiz de toda desigualdade entre homens e mulheres.
Conclusão
O feminismo tem alterado profundamente a sociedade, por meio da diluição dos papéis biblicamente ordenados para as duas lideranças familiares, focando na difamação e desonra do papel dado por Deus às mulheres na família.
Se o feminismo investe tanto nas mulheres e tem feito toda essa revolução social é porque nós, mulheres, temos em Deus, um poder essencial de influência. E é isso que primeiramente satanás, e secundariamente o feminismo pretende destruir.
Se a receita feminista é diluir a participação das mulheres nas famílias, que estejamos prontas a, como Igreja, sermos mulheres que repercutem e vivem uma vida de honra bíblica ao lar, à maternidade e ao papel de esposa, sem com isso negar a possibilidade de realização de atividade profissional, seja ele no mercado de trabalho ou um ministério na igreja, desde que este não comprometa o ministério familiar.
Ou dito de outra forma, nas palavras da Dra. Ilma Cunha: “A mulher, em sua função na estrutura familiar, pode conquistar lugares e posições em sua vida profissional, com as múltiplas competências que Deus lhe deu, mas se perder de vista a sua origem, não conquistará o essencial no propósito eterno de Deus para a sua vida e não compreenderá seu destino”.
A família tal como idealizada por Deus carrega uma mensagem. A família terrena prefigura a família celestial. Todas nós somos representantes de um Reino, embaixadoras de Cristo. Deus não vai mudar seus princípios por causa da difamação feminista/satânica que tem empoderado a mulher para se emancipar dos papéis que Deus deu a ela.
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
Romanos 12:2
Referências
Enigmas da Alma. Ilma Cunha. Editora Central Gospel
O Segundo Sexo: A Experiência Vivida. Simone de Beauvoir. Difusão Européia do Livro
A Mística Feminina. Betty Friedan. Editora Rosa dos Tempos.