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Os anjos queriam pregar o Evangelho?

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Quem nunca ouviu a expressão?: “Você é um privilegiado porque pode pregar o Evangelho, algo que os anjos desejam mas não lhes é permitido”. Apesar de toda boa intenção por trás desta afirmação, com o objetivo de incentivar o trabalho evangelístico, ela não está correta. Por isso, vamos analisar o texto que deu origem a esse tipo de interpretação. 

Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar.

(1 Pedro 1.10-12)

Os versículos 11 e 12 mostram que os profetas falaram de uma salvação além de seu tempo, salvação que hoje é anunciada pelo poder do Espírito Santo, ao ponto de os anjos desejarem “perscrutar”. Os anjos estão ao redor do trono de Deus, são mensageiros enviados por ele para servir àqueles que herdarão a salvação (Hb 1.14), regozijam-se quando um pecador se arrepende (Lc 15.7,10) e reunirão os eleitos no dia do julgamento (Mt 24.31). Apesar disso, seu conhecimento sobre a salvação humana é parcial, o apóstolo Pedro revela que os anjos desejam perscrutar os mistérios da salvação. 

O verbo perscrutar παρακύψαι (parakypsai), no original grego significa, na verdade, “olhar com o pescoço esticado”, “inclinar-se para olhar”, examinar, “exercer esforço para ver algo que não esteja na sua linha de visão. De acordo com o texto de Efésios 3.10, os anjos só podem obter maiores informações sobre a salvação através da Igreja de Cristo. Nas palavras do apóstolo Paulo: “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais” (Ef 3.10). 

Então, reflita: se os próprios anjos estão interessados na salvação da humanidade, quanto mais nós, que fomos salvos, deveríamos valorizá-la e agir com grande entusiasmo. Para Holmer (2008, p. 154), os anjos têm muito conhecimento, estão próximos de Deus e vêem continuamente a sua face nos céus (Mt 18:10). Eles se alegram quando um pecador se arrepende, mais que por noventa e nove justos que não têm necessidade de se arrepender (Lc 15:7,10), e não obstante os anjos não sabem tudo. Por exemplo, eles não sabem nem o dia nem a hora em que Jesus irá voltar (Mc 13.32). Também não sabem como Jesus reunirá sua igreja, convocada dentre pecadores perdidos na era atual, como a santificará, preparará, enviará e finalmente consumará a sua salvação. 

Esses eventos, são tão incomparáveis que os anjos estão ardentemente interessados nele. Por isso, a palavra perscrutar também significa, que eles espreitam, escutam, a ponto da expressão significar também olhar intensivo, quase bisbilhoteiro. Contudo, os anjos só tomarão conhecimento deles quando acontecerem. No passado, os anjos estiveram associados a eventos grandiosos como o nascimento de Cristo, a sua tentação, agonia no Getsêmani e ressurreição. Diante do contexto geral das Escrituras, não encontramos nenhuma indicação de que exista redenção para os anjos caídos. Cristo Jesus não veio para ser o mediador deles, mas da humanidade. A igreja é uma lição prática para os anjos, pois torna conhecida a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3:10). Não lhes coube, porém, experimentar pessoalmente a alegria que a salvação nos proporciona. Então, apesar de toda luta, perseguição e sofrimento, o cristão pode se alegrar por ter o seu nome escrito nos céus, por ser um salvo por Cristo Jesus. Essa é a mensagem que o apóstolo Pedro quer enfatizar. Somos muito privilegiados por pertencermos à família de Deus, por termos sido resgatados da vã maneira de viver.  

O texto não diz que os anjos queriam ou anelavam pregar o Evangelho aos homens, mas que eles querem conhecer, querem compreender o mistério da redenção em Cristo que eu e você experimentamos em nossas vidas.  

REFERÊNCIAS

HOLMER, U. Comentário Esperança, Primeira Carta de Pedro. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2008. 

LOPES, H. D. 1 Pedro: Com os pés no vale e o coração no céu. São Paulo: Hagnos, 2012. ,

MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2011. 

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