Tudo em Jesus me impressiona. Seu ser, Suas palavras, Seus gestos, Suas virtudes. Tudo, enfim. Aguardo o dia de estar na “Casa do Pai” para oferecer-Lhe a adoração que Ele merece, sem as rudes fragilidades desta vida terrenal.
Tudo me impressiona em meu Querido Mestre. Hoje, quero destacar o Seu cuidado com as palavras, quando por aqui passou. Com que sabedoria as escolheu! Com que sublimidade as pronunciou!
Algumas vezes tenho pensado que Suas mais tristes frases foram as que Ele iniciou com as palavras AI DE VÓS… Seria de esperar que o Mestre usasse tal expressão para o tipo de pecado – e de pecadores por nós rotulado de pior(es). Os leitores bem os conhecem. Mas assim não foi.
Ofereceu perdão para a mulher adúltera, retratou a compaixão que merecia o filho perdulário, saboreou uma refeição com o descriminado Mateus, fez de uma ex-endemoninhada a pioneira de Missões, conversou longamente com a destemperada mulher de Samaria, chamou um caloteiro de Jericó de filho de Abraão e entrou em sua casa, convocou dois jovens arruaceiros para estarem entre Seus discípulos e abençoou um malfeitor na hora da morte, tornando-o um convidado especial para a inauguração do Paraiso. No entanto, quando contemplava os hipócritas, não poupou palavras de dura repreensão e severo juízo.
Todo mundo sabe que os hipócritas continuam a existir. Às vezes proliferam como ratos. E se tornam invulneráveis a qualquer tipo de raticida. Mas nem todos na Casa de Deus estão combatendo a sua hipocrisia, como Jesus fez.
Quem concorda com um hipócrita, mais cedo ou mais tarde será hipócrita também. O vírus da hipocrisia se transmite mais facilmente do que sarampo ou varíola.
Quem defende um hipócrita é tão hipócrita quanto ele. Quem bajula um hipócrita é mais hipócrita que ele. Os hipócritas usam simultaneamente as duas mãos. Com uma afagam. Com a outra, apunhalam. Como morcegos, assopram uma suave brisa enquanto chupam e sugam o sangue de suas vítimas.
Os hipócritas mandam um e-mail de bajulação para um amigo e no e-mail seguinte “detonam” o mesmo amigo. Os hipócritas levantam a mão no culto apoiando uma decisão pastoral e quando chegam na calçada dizem que apoiaram mas estão visceralmente contra.
Todo hipócrita é conhecido pela facilidade com que dá um tapinha nas costas do seu líder. É com essa mesma mão que cumprimentam outros hipócritas e planejam a derrota do líder.
Todo hipócrita é manhoso. Todo hipócrita é cínico. Todo hipócrita é crítico e zombador sem piedade (Sl 35.16). Todo hipócrita é desleal. Todo hipócrita é falante. Todo hipócrita é destruidor de vidas (Pv 11.9). Todo hipócrita é mentiroso. Todo hipócrita é falso. Vários hipócritas têm o hábito de beijar o líder. Alguns melosamente o chamam de meu pastor.
Todo hipócrita tem duplicidade de palavras e de atos. Diz uma coisa, enquanto está pensando noutra. Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim (Mc 7.6). Se a hipocrisia é enfermidade entre os membros da Igreja, entre os ministros é veneno letal.
Como identificar os hipócritas?
Jesus declarou (Mt 6.2) que eles gostam de tocar trombetas em função das esmolas que dão, quer nas sinagogas, quer nas ruas. São loucos por aplausos humanos, visto serem famintos inveterados. Têm uma insaciável fome de glória.
Os hipócritas amam os holofotes. Não podem viver fora das manchetes. É isto que entendemos quando lemos Mt 6.4. Para eles, orar baixo não vale a pena, porque os gravadores não registram a beleza de seus discursos para o Infinito. As esquinas das ruas são o local preferido para a montagem de seus palcos, pois a multidão que passa precisa, depois, fazer seus adocicados comentários nas redes sociais da vida.
Como não jejuam para Deus, precisam do reconhecimento da congregação. Isto posto, são caprichosos na apresentação visual de um rosto entristecido, adornado pela maquiagem de uma falsa piedade. Parece, às vezes, que perderam filhos na guerra, ou irmãos no incêndio, de tão tristes que se mostram. Na verdade, apenas perderam a si mesmos. Não esqueça a marca registrada dessa matilha: “para serem vistos pelos homens”.
Os hipócritas não gostam de aprender. Ao contrário, tentam especializar-se em poucos temas, e fazem deles os ícones da sua vida. E vão a todos os lugares, fazendo perguntas unicamente sobre aquilo que julgam saber, a fim de parecerem sábios, enquanto humilham aqueles aos quais interrogam. Uma plataforma ideal para eles: classes da Escola Bíblica Dominical. Mas, também em outras reuniões, como cultos nos lares, etc., etc. Foi assim desde os tempos de Jesus, como se lê em Mt 22.18.
Jesus não os chamou de irmãos, nem de discípulos, nem de coitados, nem de servos. Chamou-os de hipócritas. Essa é sua verdadeira identidade. Jesus nos ensina que os hipócritas, em qualquer igreja, chegam a tornar-se o maior entrave para a Evangelização dos perdidos. Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar (Mt 23.13). Vale acrescentar que eles anulam o evangelismo, mas defendem o proselitismo: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós (Mt 23.15).
Os hipócritas a ninguém poupam. Mas, existem alguns alvos favoritos, como as viúvas. Novamente, é Jesus quem declara: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque devorais as casas das viúvas e sob pretexto fazeis longas orações; por isso recebereis maior condenação (Mt 23.14).
Apesar de serem meticulosos na entrega dos dízimos de hortaliças (e do dinheiro?) Jesus declarou que a balança dos hipócritas está desequilibrada. Pensando nas antigas balanças de dois pratos, os hipócritas somente usam um: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas (Mt 23.23).
O cuidado que os hipócritas manifestam pela aparência das coisas aproxima-se do fanatismo. Para eles o melhor do culto é a liturgia, são escravos da formalidade e críticos mordazes do sobrenatural. Todo hipócrita abomina sobrenatural. Essa voraz paixão pelo exterior anulou toda a visão do interior, do realmente sagrado, do profundamente espiritual. Recordemos as palavras do Mestre: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e de intemperança (Mt 23.25).
Existe uma grande aproximação entre hipócritas e cemitérios. Hipócritas estão espiritualmente mortos. Cemitério é lugar de mortos. Cemitério é lugar de sepulcros. Hipócritas, declarou Jesus, são semelhantes a sepulcros. Existem cemitérios que encantam pelo visual exterior. Mas todos sabemos o que existe lá por dentro. Exatamente assim são os hipócritas.
Mais uma vez o Mestre fala: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia (Mt 23.27).
Ainda é tempo de colocar as coisas no lugar. Deixemos os hipócritas onde devem ficar. Por que introduzi-los no sagrado Ministério? Por que lhes oferecer cargos e posições, como se isto pudesse transformar suas vidas ocas? Como fazer de um hipócrita um pastor, se Jesus afirmou que eles não entrarão no Céu (Mt 24.50,51)?
Queira o Senhor Jesus conceder nos a tríplice graça: (1) de abominarmos (2) de condenarmos e (3) de nos defendermos dos hipócritas. Sem eles, a igreja marchará muito melhor!
Texto original disponível em http://prgeziel.blogspot.com/2008/12/o-pecado-da-hipocrisia.html