Menu

Quando a fé se desenrola

Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no telegram
Compartilhar no facebook
Compartilhar no email

“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11.25). Essa declaração imensa de Jesus nasce no terreno comum da expectativa frustrada. Marta e Maria tinham enviado o recado apressado: “Senhor, eis que está enfermo aquele a quem amas”. A amizade era antiga, a mesa era conhecida; Jesus se hospedava naquela casa. Tudo indicava que Ele viria imediatamente. Mas Ele não veio. Lázaro morreu. E, com ele, quase morreu também a confiança de duas mulheres que amavam o Senhor. Quando Jesus finalmente chega a Betânia, o texto registra um contraste discreto e profundo: “Marta, quando soube que Jesus vinha, saiu ao seu encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa” (Jo 11.20). Uma corre, a outra paralisa. Na boca de Marta, não há protocolo: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (v. 21). É a decepção que se converte em oração sincera. E é exatamente aí que a cura começa.

Decepção é o intervalo entre o que esperamos e o que recebemos. Esperamos a cura e recebemos o luto; esperamos a promoção e veio o corte; esperamos reconciliação e encontramos silêncio. A pergunta invade o coração: como uma casa visitada por Jesus pode ser atravessada por enfermidade? A Escritura é realista: a chuva e o sol alcançam justos e injustos; a diferença não é a ausência do vale, mas quem caminha conosco dentro dele. A presença de Cristo não é um seguro contra dores, é a promessa de sentido, caminho e desfecho. João faz questão de dizer que “Jesus veio a Betânia”. Não chegou na hora que as irmãs desejavam, mas chegou no tempo certo. A demora divina não é descaso; é pedagogia. Enquanto as perguntas fermentam dentro de casa, Ele está a caminho. E quando chega, não exige que Marta finja força; Ele acolhe a fala ferida e responde: “Teu irmão há de ressuscitar” (v. 23). Primeiro acalma, depois reorienta.

Há um momento decisivo em Marta. Ela sai do “se” para o “agora”: “Mas também agora eu sei que tudo quanto pedires a Deus, Ele te concederá” (v. 22). A fé amadurece quando permite que Deus transforme “nunca” em “agora”. Muitos de nós já vivemos “agoras” que um dia juramos que seriam “nuncas”: o casamento que parecia impossível, o filho que não viria, a porta que nunca se abriria. A presença de Jesus altera o tempo: o Cristo que imaginávamos agir apenas “ontem” — se Ele estivesse ali — ou “amanhã” — na ressurreição final — se apresenta como “hoje”. Por isso, antes do milagre no túmulo, há um milagre na teologia de Marta: suas categorias são alargadas, sua esperança é trazida para o presente, sua dor ganha gramática nova. A oração que desabafa se torna ponte para a confiança que descansa.

A narrativa ensina que o caminho da cura envolve passos simples e custosos. É preciso levantar-se e ir ao encontro, mesmo com o coração pesado. É preciso falar com Deus com a verdade que temos, sem verniz devocional: “Se estivesses aqui…”. É preciso permitir que a resposta de Jesus substitua nosso refrão cansado pelo nome dEle: “Eu sou…”. É preciso aceitar que milagres divinos e responsabilidades humanas caminham juntos: Ele brada “Lázaro, vem para fora!”, mas ordena à comunidade: “Desatai-o e deixai-o ir” (v. 44). O Cristo chama para a vida; nós ajudamos a desenrolar as faixas, com oração, conselho, terapia, disciplina, limites. Ressurreição não é retorno ao antigo; é vida nova aprendendo a andar.

Esse texto se torna contemporâneo quando Deus “demora”. Nem sempre a intervenção coincide com nosso cronograma, e isso fere nossa expectativa de controle. Mas há uma lógica graciosa na economia do Céu: às vezes Ele não cura o enfermo, porque vai ressuscitar o morto. O milagre é maior, e por isso a espera é mais longa. Em dias assim, a tentação é ficar “sentado em casa”, paralisado pelas hipóteses do coração. A cura, porém, começa na estrada: ir ao culto mesmo sem vontade, abrir a Bíblia quando as letras parecem pesadas, dobrar os joelhos quando a mente quer desistir. A presença se revela para quem caminha.

No centro de João 11 está a voz que reconfigura tudo: “Eu sou a ressurreição e a vida”. Nenhum líder, por mais inspirador, pode dizer isso. Nenhum sábio, por mais lúcido, ousou prometer tanto. Jesus não oferece apenas consolo; Ele se oferece como a própria Vida que vence a morte. Diante dessa voz, a decepção perde argumento. O Cristo que não chegou “no nosso horário” chega como Senhor do túmulo, chama pelo nome, devolve gente à vida e manda tirar as faixas. Ele sabe o tempo, conhece a casa, mede o vale e garante o desfecho. Se há uma pedra ainda no lugar, empurre com esperança. Se as faixas ainda prendem, peça mãos fiéis para ajudá-lo a desenrolar. Se o peito está pesado, diga a Ele como está — e ouça o que Ele é. No tempo certo, o mesmo Jesus que caminhou para Betânia caminha na sua direção. E, quando Ele chega, até a morte perde a última palavra.

Publicações Relacionadas

Vida Cristã
Cristian Oliveira

Seja você mesmo

Quando nos comparamos com outras pessoas, podemos cair no erro de nos sentirmos inferiores com nosso próprio resultado. As comparações podem ser autodestrutivas.  É importante

Leia mais
Vida Cristã
Cristian Oliveira

Cuidado com a imposição

Já falei sobre esse tópico de forma mais rápida anteriormente, mas quero deter-me aqui um pouco mais sobre esse assunto. Como o namoro não é

Leia mais
Vida Cristã
Cristian Oliveira

Respeito

Muitos casais de namorados brigam como gato e cachorro. E o pior: não é só isso. O problema é que passam dos limites de uma

Leia mais

Outras Publicações

Devocional
Adriana Goulart

Carta a Barnabé

A Barnabé, filho da consolação Graças e paz. Gostaria de começar te contando o quanto você foi importante pra que hoje nós estivéssemos aqui. Sim,

Leia mais
Our Faith
Verônica de Souza

A Home For God’s Spirit

God gave the Israelites their manna one day at a time. They were not allowed to store any of it up for another time – by doing this, they showed their trust and confidence in God and His promise to provide for them each day. Any time they did collect more than enough for one day, it became rotten and smelled bad. Many people say they have a “stinking, rotten life.” They don’t mean they smell – I think they’re saying they have taken on too much – too much work, too much responsibility, too much to think through and it’s so much, they have nowhere to put it and much is wasted. They are complicating today trying to gather provision for tomorrow.

Leia mais