Agora que nós já conhecemos a história do surgimento da primeira vacina, vamos entender melhor como surgiram as vacinas, que temos disponíveis até hoje, os processos de modernização delas até o desenvolvimento das vacinas contra o novo Coronavírus.
Apesar de estarmos vivenciando momentos extremamente complicados e de incertezas, essa não é a primeira vez que o mundo é acometido por pandemia. Dentre os principais eventos desse tipo, que assolaram a humanidade, podemos mencionar a praga Justiniana, uma infecção bacteriana, que ocorreu entre o período de 542-546 d.C., ocasionando a morte de cerca de 100 milhões de pessoas; a peste bubônica, também conhecida como peste negra (1347-50 d.C.), causada pelo mesmo agente infeccioso da praga Justiniana, que dizimou praticamente um terço da população europeia durante a Idade Média; e a gripe espanhola, uma doença de origem viral que, já no século XX, devastou a população europeia reduzindo-a a metade. Estimam-se que os números de mortos, neste último caso, estejam entre 50 a 100 milhões de pessoas no mundo (FINCO, 2019). Cenários como esses só foram possíveis de serem combatidos, principalmente, após a intervenção da vacina. Na verdade, estudos recentes demonstraram que a vacinação já preveniu mais de 100 milhões de casos de doenças apenas nos Estados Unidos! Além de prevenir a morte de 2,5 milhões de pessoas no mundo anualmente, o equivalente à prevenção de aproximadamente 7 mil mortes diárias (RAPPUOLI, 2014).
Apesar de Edward Jenner ter sido bem-sucedido no seu experimento da vacinação contra a varíola, na verdade, ele ainda não entendia o mecanismo de ação, ou sequer o seu funcionamento. Foi somente um século após o descobrimento da vacina, que Robert Koch e Louis Pasteur descobriram que as doenças infecciosas eram, na verdade, causadas por microorganismos. Pasteur então começou a atenuar esses microorganismos em laboratório por meio de diferentes tipos de procedimentos, como o aquecimento dos patógenos, a exposição deles ao oxigênio ou a passagem por diferentes animais, que serviam como hospedeiros, diminuindo, assim, a capacidade desses microorganismos causarem doenças em seres humanos. A primeira vacina humana a ser desenvolvida por esse método foi uma vacina que continha o vírus da raiva, atenuado por meio do processo da exposição ao ar seco (PASTEUR, 1885). Atualmente, a vacina CoronaVac produzida pela empresa farmacêutica Sinovac Biotech, da China, utiliza-se de uma técnica semelhante a essa em que o vírus Sars-Cov-2 é inativado quimicamente (QIN, 2020).
Alguns anos após a descoberta de Pasteur, Emil Bhering demonstrou que o soro de animais injetados com a toxina da bactéria causadora da difteria poderia proteger os humanos de desenvolver essa doença. Na época, a difteria era considerada como a doença mais mortal entre as crianças. O primeiro estudo clínico feito com a soroterapia demonstrou taxa de cura em torno de 77%. Por esse feito, Emil Bhering ganhou o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1901, sendo o primeiro prêmio Nobel a ser conquistado na área da Imunologia. Ainda hoje a soroterapia é utilizada para diversas doenças infecciosas (KAUFMANN, 2017). Alguns estudos clínicos, inclusive, demonstraram a eficácia da administração do plasma de pacientes, que se recuperaram de Covid-19, em pacientes que apresentavam a forma moderada da Covid-19 (WAPPNER, 2021). No entanto, o uso de plasma no tratamento contra Covid-19 ainda não é amplamente encorajado devido, principalmente, a pouca quantidade de estudos disponíveis.
Com o passar do tempo e o avanço da biologia celular e molecular, tecnologias mais modernas foram surgindo e esse ramo do conhecimento possibilitou o advento de novas vacinas. Como mencionado anteriormente, as primeiras vacinas utilizadas, conhecidas como de primeira geração, são aquelas que utilizam o vírus atenuado (ainda vivo, mas enfraquecido por processos químicos) ou vírus inativado (morto). Apesar de se mostrarem efetivas, as vacinas de primeira geração contavam com a manipulação do vírus per se, o que representava um risco. Para contornar essa situação, os cientistas desenvolveram as vacinas de segunda geração, que são aquelas que, ao invés de usar o vírus todo, utilizam apenas parte do patógeno como subunidades proteicas ou fragmentos virais. Dentre essas podemos destacar a vacina da hepatite B.
Finalmente, chegamos às vacinas da terceira geração, que são as mais modernas e inovadoras na pesquisa científica. Essas vacinas são conhecidas como vacinas de DNA, ou de RNA, ou ainda, vacinas genéticas. Três dos produtos mais utilizados no combate ao novo Coronavírus em nosso país valem-se dessa tecnologia. São elas a vacina dos laboratórios AstraZeneca/Oxford, que utiliza o adenovírus como vetor viral, e a vacina da farmacêutica Pfizer, que usa o RNA mensageiro (mRNA) do vírus, e a vacina da Janssen, cujo imunizante é feito com um vetor viral não replicante, mesma tecnologia da vacina AstraZeneca. Essas vacinas vêm sendo aplicadas em larga escala e com resultados bastante satisfatórios, onde foram administradas.
Como todo medicamento ou fármaco, as vacinas também não possuem 100% de eficácia garantida e, para que a população esteja protegida de uma determinada doença, é necessária a vacinação do maior número possível de pessoas. Só assim os indivíduos, que porventura não gerarem anticorpos a partir do processo de imunização, estarão protegidos pela famosa imunidade de rebanho, que somente é alcançada quando cerca de 80% da população estiver devidamente vacinada.
Vale ainda ressaltar que, apesar de todos os esforços e tecnologias extremamente relevantes e necessários no combate ao Coronavírus, como cristãos, a nossa maior segurança e fonte de confiança estará sempre em Cristo. Só Ele é o nosso médico dos médicos, que nunca falha! Ele é a nossa Rocha, o socorro bem presente na hora da angústia! Podemos sempre confiar que, ainda que não entendamos, Ele sempre estará no controle de tudo.
Bom, agora que já vimos toda a história do surgimento da vacina, sua evolução e desenvolvimento, bem como a sua importância na história da humanidade, não tem mais como duvidar da sua eficácia, não é mesmo?
Quando chegar sua hora não hesite em se vacinar! E lembre-se: a melhor vacina é a que está disponível!
Referências:
Finco, O. et al. Vaccine Evolution and Its Application to Fight Modern Threats. Front. Immunol., v. 10, p. 1722, 2019.
Rappuoli, R; Gregorio De E. From empiricism to rational design: a personal perspective of the evolution of vaccine development. Nature Reviews Immunology, v. 14, p. 505-514, 2014.
Pasteur, L. Méthode pour prévenir la rage après morsure. C. R. Acad. Sci, v. 101, p. 765–772,1885.
Quin, C et al. Development of an inactivated vaccine candidate for SARS-CoV-2. Science, v. 369, p. 77-81, 2020.
Kaufmann, S. H. Emil von Behring: translational medicine at the dawn of immunology. Nature Reviews Immunology, v. 17, p.341-343, 2017.
Wappner, D. et al. Early high-titer plasma therapy to prevent severe Covid-19 in older adults. N Engl J Med, v. 384, p. 610-618, 2021.