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Jacó: Da Fraqueza até seu Crescimento Espiritual.

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Depois saiu seu irmão, com a mão agarrada no calcanhar de Esaú; pelo que lhe deram o nome de Jacó. Tinha Isaque sessen­ta anos de idade quando Rebeca os deu à luz”.
Gênesis 25:24-26

O nome Jacó vem da significa “calcanhar” ou “segurar o calcanhar; (Gênesis 25:26).  Jacó é visto como o patriarca cuja vida reflete a complexidade da experiência humana com Deus, incluindo fraquezas e crescimento espiritual.

A narrativa de Gênesis 25:22-23, relata a gravidez problemática de Rebeca – O termo “empurravam” sugere uma intensa luta entre os gêmeos Esaú e Jacó. Este conflito é uma metáfora para lutas internas e externas, tanto pessoais quanto coletivas, refletindo tensões entre o carnal e o espiritual.

(Rm 7:18-25)”Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; pois o querer o bem está em mim, não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. […]

A Família de Jacó :

Jacó teve quatro mulheres (2 esposas) e (2 concubinas), que lhe deram doze filhos e uma filha mencionada na Bíblia.

  • Netos Importantes

Efraim e Manassés: Filhos de José. São considerados patriarcas das tribos de Efraim e Manassés.

Judá: Linhagem messiânica.

Levi: Pai dos sacerdotes e levitas; Moisés e Arão.

O simbolismo dos Doze

O simbolismo dos Doze é de importância capital: é o número dos doze filhos de Jacó, o número das tribos de Israel.

Ao formar o círculo dos Doze (12 apóstolos), Jesus se apresenta como o patriarca de um novo Israel (Igreja), cuja origem e fundamento os Doze devem ser. Não se poderiam expressar de modo mais claro os inícios de um novo povo, um povo que se forma agora não já por descendência física, mas através do “estar com Jesus”, que Ele os envia a transmitir.

A primeira missão dos doze discípulos é estar com Jesus. Este relacionamento íntimo e pessoal com Jesus é fundamental para a formação de sua identidade e missão.

A segunda função dos discípulos é ser enviados por Ele para proclamar o Reino de Deus.

  • Notas :
  • 1.Hebreus: O termo “hebreus” é o mais antigo e refere-se aos descendentes de Abraão, Isaac e Jacó. Abraão, oriundo da cidade de Ur, na Mesopotâmia, é considerado o patriarca do povo hebreu. O termo “hebreu” deriva de “Eber”, um ancestral de Abraão.
  • 2.Israelitas: Após o Êxodo do Egito, sob a liderança de Moisés, o povo passou a ser conhecido como “israelitas”, uma referência a Jacó, cujo nome foi mudado para Israel. Os israelitas se estabeleceram na terra de Canaã, que posteriormente foi conhecida como a Terra de Israel.
  • 3.Judeus: Este termo se tornou prevalente durante e após o Exílio Babilônico (século VI a.C.). Refere-se especificamente aos descendentes da tribo de Judá, uma das doze tribos de Israel. Após o retorno do exílio, o termo “judeus” passou a designar todos os descendentes dos israelitas, especialmente porque o Reino de Judá foi o principal remanescente do antigo reino unificado de Israel.
  • 4.Israelenses: Com a fundação do Estado de Israel em 1948, o termo “israelense” passou a ser usado para descrever os cidadãos modernos de Israel, independentemente de sua religião ou origem étnica.

Conflitos Familiares

Abraão e Sara enfrentaram conflitos familiares, especialmente em relação aos seus filhos Ismael e Isaque. Essa problemática foi refletida na geração seguinte, onde Isaque e Rebeca demonstraram predileções claras por seus filhos: Isaque preferia Esaú, enquanto Rebeca favorecia Jacó (Gênesis 25:28). A situação se repetiu na vida de Jacó, que demonstrou uma preferência notável por José, um de seus doze filhos.

Apesar desses desafios familiares, há uma diferença notável na história de Jacó em comparação com seus antecessores. Enquanto Abraão e Isaque viveram na Terra de Israel e enfrentaram dificuldades para manter seus filhos nos caminhos espirituais esperados, Jacó, mesmo vivendo fora da Terra Santa, conseguiu criar uma família que permaneceu unida e fiel à sua fé.

Ao contrário de Abraão e Isaac, que acabaram excluindo seus filhos problemáticos, Ismael e Esaú, respectivamente, Jacó foi capaz de trabalhar com o mal, tanto externo quanto interno. Ele não simplesmente expurgou o mal, mas aprendeu a dominá-lo e transformá-lo, mantendo seus filhos unidos e leais.

A bênção dada ao primogênito

Walter Brueggemann observa que Deus frequentemente subverte essa ordem estabelecida, favorecendo aqueles que não eram os primogênitos, como Jacó, José e Efraim, onde Deus escolhe “o humilde e desprezado” (cf. Lucas 7:34), desafiando as normas sociais e legais de privilégios.

A bênção dada ao primogênito não era apenas uma formalidade, mas incluía uma porção dupla da herança e liderança da família.

No contexto do AT, a regência da Lei Mosaica, tal como descrita na Bíblia hebraica, ainda não estava estabelecida na época.

O Código de Hamurabi, estabelece leis sobre herança e direitos do primogênito, que incluíam uma porção dupla da herança.

O Direito de primogenitura era tão valioso que, mais tarde, havendo chegado o momento de Isaque abençoar Esaú, Rebeca usou uma estratégia que levou Jacó a receber a parte mais importante da benção paterna (Gn 27:6-29).

Análise e Justificativa da Ação de Rebeca

Rebeca é muitas vezes criticada por ter conspirado para que Jacó recebesse a bênção de primogenitura destinada a Esaú. No entanto, é importante considerar o contexto cultural e religioso da época:

1.Casamentos com Mulheres Estrangeiras: Esaú se casou com mulheres hititas, o que era contrário aos desejos de seus pais, Isaac e Rebeca.

2.Risco para os Bens da Família: Os casamentos de Esaú com mulheres estrangeiras podiam ser vistos como uma ameaça à continuidade e prosperidade da herança familiar e litúrgica espiritual.

3.  Defesa das Propriedades da Família: Pode ser entendida como uma tentativa de proteger a herança familiar e garantir que ela permanecesse dentro do contexto cultural e religioso dos israelitas.

O Sonho/Escada

Esse sonho ocorre em um momento delicado na vida de Jacó, enquanto ele fugia de seu irmão Esaú, que estava furioso por ter sido enganado e privado da bênção paterna destinada ao primogênito.

Jacó, aconselhado por sua mãe Rebeca e abençoado por seu pai Isaque, estava a caminho de Harã, a terra de seus antecessores, para encontrar refúgio e buscar uma esposa entre seus parentes.

Durante a jornada, Jacó parou para descansar em um lugar chamado Luz, que depois ele renomearia Betel, que significa “Casa de Deus”. Enquanto dormia, ele teve uma visão de uma escada que ligava a terra ao céu, com anjos subindo e descendo por ela, e no topo, Deus lhe aparecia.

No sentido literal; A escada com anjos subindo e descendo simboliza a comunicação contínua entre o céu e a terra e a promessa divina de proteção e orientação, mesmo em tempos de adversidade.

Sentido Moral; Os degraus da escada simbolizam os atos de oração, humildade e renúncia, que são vistos como formas de subir espiritualmente em direção a Deus.

Sentido Alegórico; Nesse sentido, simboliza a mediação de Cristo entre Deus e a humanidade, reconciliando os dois através de sua Paixão e Ressurreição.

Jacó andou sozinho em um mundo estranho

1.Deixou para trás um pai envelhecido, que não percebeu que seu favoritismo por Esaú poderia tê-lo levado a contrariar a vontade de Deus, conforme foi revelada a Rebeca;

2.Deixou para trás um irmão amargurado e enraivecido que, não tendo senso dos verdadeiros valores, só pensava em ter sido roubado pelo esperto Jacó;

3. Deixou para trás uma mãe perturbada que, sabendo algo da vontade de Deus para Jacó, complicou o propósito divino por meio de subterfúgio mal planejado.

Amadurecimento

No relato de Gênesis 29, 1-30, Jacó, após ter uma visão encorajadora de uma escada que o liga ao céu, segue para a terra do Oriente, onde vivem os descendentes de Nacor, irmão de Abraão.

Ao chegar, Jacó encontra um grupo de pastores perto de um poço.

Jacó pergunta aos pastores sobre a origem deles e se conhecem Labão, filho de Nacor. Eles confirmam e apontam para Raquel, filha de Labão, que se aproxima com o rebanho de seu pai.

Nota:

Nas famílias patriarcais, a guarda dos animais era considerada uma função nobre, moças como jovens de elevada  condição se encarregavam deles. Raquel: Em Gênesis 29, Raquel é vista cuidando das ovelhas de seu pai.No Antigo Testamento, a sociedade era principalmente patriarcal e agrária, com uma forte dependência da agricultura e da pecuária. Nessas famílias patriarcais, a guarda dos animais era, de fato, uma função de grande importância e, muitas vezes, considerada nobre. O papel de cuidar dos animais não era apenas um trabalho rotineiro, mas uma tarefa que exigia responsabilidade e habilidades específicas, valorizadas dentro da comunidade.

A partir daquele dia, Jacó se pôs a serviço de Labão.

Labão desejou assegurar sua cooperação de maneira estável, e firmar com ele um contrato:

“Acaso porque és meu irmão, me servirás de graça?, disse-lhe ele. Dize-me que paga queres”.

Nota: Existem ainda hoje povos de costumes primitivos entre os quais os jovens que desejam se casar se põem a serviço de um chefe e trabalham por conta própria durante anos.

Lia e Raquel

Lia era a primogênita: Mas ela tinha os olhos “remelosos” e carecia de graça exterior. Raquel ao contrário era uma beleza, um charme inexprimível.

Ele então declara ao seu tio –  “(Gn 29:18) E Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por Raquel, tua filha menor.

O Caráter pacífico de Jacó :

Jacó era um homem excessivamente reto para suspeitar de tais manobras. Ademais, seu caráter pacífico lhe fazia detestar os conflitos, as discussões, as contestações. Ele aceitou, portanto, por mais injusta que fosse, a combinação que seu tio lhe propunha. Oito dias mais tarde, ele esposou Raquel, em troca de um novo contrato de sete anos.

A passagem mencionada discute a interpretação sobre o comportamento de Jacó em relação a Lia, após ser enganado no casamento por Labão. Essa interpretação sugere que o aparente desprezo de Jacó por Lia não era um sinal de desrespeito ou desdém, mas sim um reflexo de sua virtude e disciplina moral. “Nicolau de Lira”, argumentam que Jacó, mesmo se tivesse consumado o casamento com Lia, não buscou nela prazeres carnais de maneira vulgar. Em vez disso, ele teria mantido uma conduta de castidade dentro do casamento, usando a união de forma respeitosa e digna, sem procurar em sua esposa atos que poderiam ser considerados lascivos. Isso demonstra uma visão de Jacó como um homem de elevada moralidade, que buscava a pureza e a dignidade no relacionamento conjugal, mesmo em circunstâncias adversas.

A lesão de Jacó

Weiss (2015) observa que a lesão de Jacó no nervo ciático durante a luta com um ser celestial pode ser vista como uma metáfora para a experiência de dor e transformação.

Aryeh Kaplan em “A Torá Viva” (2003) explica que essa lesão pode ser vista como uma marca de transformação e bênção, superação de desafios espirituais e físicos.

“E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele.Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevalecesteGenesis 32:25;28

NOTA : David Weiss Halivni (1927-2022) foi um renomado estudioso talmúdico, rabino e teólogo judeu. Ele é conhecido por seu trabalho profundo no estudo do Talmude e por suas contribuições significativas à crítica textual talmúdica. Halivni sobreviveu ao Holocausto e mais tarde se estabeleceu nos Estados Unidos, onde se tornou uma figura proeminente na academia judaica.

A mudança de nome de Jacó para Israel

A mudança de nome de Jacó para Israel no mesmo diálogo é importante e pode simbolizar uma mudança de atitude ou de estado espiritual.

“E aconteceu, depois destas coisas, que alguém disse a José: Eis que teu pai está enfermo. Então tomou consigo os seus dois filhos, Manassés e Efraim. E alguém participou a Jacó, e disse: Eis que José teu filho vem a ti. E esforçou-se Israel, e assentou-se sobre a cama.“Genesis 48:1:2

Jacó, deixando o seu país e sua família , é a figura do homem que renuncia a tudo para seguir o Cristo, e que se opõe na escola da perfeição.

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