O Evangelho de João começa com uma declaração profunda e impactante: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (João 1:1). Desde o início, somos apresentados ao conceito do Logos, que é eterno, divino e coeterno com Deus. A transição do Logos, ao passar de uma existência eterna e imaterial para assumir a forma humana, representa um ato de amor incomparável e um evento central na fé cristã. A encarnação de Cristo é fundamental para a mensagem do evangelho, pois foi somente como homem que Ele pôde morrer pelos nossos pecados e nos redimir.
O versículo João 1:14 é, sem dúvida, uma das passagens mais ricas e significativas da Bíblia, trazendo à tona verdades profundas sobre a natureza de Cristo e o infinito amor de Deus. O texto afirma: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.” Este versículo encapsula o grande mistério da encarnação, onde a Palavra, o Logos divino, se fez carne e habitou entre os homens, revelando a glória de Deus de forma tangível.
É interessante destacar que a expressão “tornou-se” no grego, γινομαι (ginomai), implica em uma mudança de estado, indicando que o Logos assumiu uma nova condição: a natureza humana. A plenitude dessa verdade é confirmada em Colossenses 2:9, que declara: “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” Esse ato de encarnação é irreversível, significando que Jesus permanece eternamente tanto Deus quanto homem. Ele uniu a divindade à humanidade de maneira única, e fez isso por amor incondicional a nós.
O amor de Deus é o coração pulsante da mensagem cristã. Em 1 João 4:8, lemos: “Deus é amor.” De fato, a encarnação é a suprema manifestação desse amor divino, pois Deus, em Sua infinita compaixão, escolheu voluntariamente limitar-se pelo tempo e espaço para nos salvar. Ao encarnar, Jesus trouxe a divindade ao nosso meio, e ao ascender aos céus, Ele levou nossa humanidade consigo, representando-nos diante do Pai.
Voltando ao versículo de João 1:14, a frase “viveu entre nós” é traduzida do grego σκηνοω (skenoo), que literalmente significa “tabernaculou”. Esta expressão remete à presença de Deus no tabernáculo no Antigo Testamento, simbolizando que Jesus é o novo tabernáculo, a presença divina encarnada entre nós. Em Cristo, vemos a glória de Deus manifestada, cheia de graça e verdade, refletindo os atributos divinos de maneira completa e perfeita.
Tais verdades teológicas exigem uma resposta prática de nossa parte. Como cristãos, somos chamados a refletir essa glória em nossas vidas diárias. 1 João 2:5-6 nos exorta a andar como Cristo andou fazendo d’Ele o nosso exemplo e padrão de vida. A encarnação não apenas tornou possível a nossa salvação, mas também nos mostrou o caminho para uma vida de comunhão com Deus e santidade.
Portanto, a encarnação do Logos é um ato incomparável de amor divino, que nos convida a viver em comunhão íntima com Deus e a refletir Sua glória em todas as nossas ações. Que possamos responder a esse amor com corações rendidos, buscando sempre a Sua presença e seguindo o exemplo de Cristo em nosso viver diário.