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Jesus, o Messias prometido

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        A pessoa de Jesus é vista por muitos historiadores e cientistas da religião da era pós-moderna apenas como uma figura histórica de grande relevância nos campos histórico, social e filosófico. A divindade de Jesus foi negada de forma sistemática no segundo século pelos cerintianos[1] e ebionitas[2], no quarto século pelos arianos[3] e, em todos os séculos, pelos racionalistas.1

        No entanto, o homem Jesus não deixa de ser considerado o personagem mais influente da História e, também, um dos mais misteriosos, considerando que a questão mais central da fé cristã é aquela que diz respeito ao próprio Cristo.2

        O múnus de um teólogo deve ser considerar o contexto geral das Escrituras, sendo ela a única regra de fé e prática dos cristãos, pelo menos dos cristãos comprometidos com as Escrituras Sagradas.

        Assim, a teologia cristã considera que o Antigo Testamento registra a preparação para a vinda de Jesus Cristo. Os relatos dos Evangelhos registram a manifestação da vida de Jesus Cristo. O livro de Atos registra a propagação da vida de Jesus Cristo. As epístolas registram a interpretação da vida de Jesus Cristo e o livro do Apocalipse registra a coroação do Rei Jesus Cristo.3

Até mesmo os céticos são fascinados por Jesus Cristo, e não podem simplesmente desprezá-lo.4 Muito longe de ser uma lenda, um mito, uma fábula, uma especulação, ou ainda uma compilação de outras histórias, os relatos e registros que se têm sobre Ele trazem a lume a real existência e participação de um Jesus histórico, correspondente ao mesmo Jesus bíblico no cenário sócio-histórico-religioso da humanidade.

Embora algumas abordagens céticas permitam perceber que, mesmo sem levar em consideração as nuances da fé, não há como negar o testemunho da história sobre as expectativas messiânicas, que encontram o seu ápice na figura de Jesus. Algumas das características da narração bíblica relacionam essa narração à sua recepção e com a ideia de sacralidade atribuída aos textos considerados sagrados pelos cristãos de uma maneira geral. Todos sabem que Jesus é o grande protagonista dos evangelhos do Novo Testamento – um herói que reúne novas e velhas virtudes da antiga cultura judaica. Sobre Ele estão depositados todos os ideais defendidos pelos escritores; Ele é um depositário de valores, o realizador de expectativas messiânicas, o objeto das mais ousadas esperanças.5

        A crescente evidência de que os Evangelhos foram escritos durante a geração que presenciou a morte de Jesus ajudou a estabelecer sua confiabilidade, e, também, fez algo mais. Nos últimos 100 anos, estudiosos liberais que trabalham à sombra de Rudolf Bultmann[1] afirmam que os Evangelhos são compostos principalmente de conteúdo mítico ou lendário. O fato de os Evangelhos estarem em circulação por volta de 60 d.C. desmente essa teoria muitas vezes anunciada. Uma geração não é tempo suficiente para fazer brotar mitos e lendas; é preciso três gerações (ou mais) para que o conteúdo lendário una-se a figuras heroicas.6

        Assim, na busca por um diálogo inter-religioso, os estudiosos das religiões identificam três correntes de pensamento ou modelos de compreensão, as quais apontam para os esforços na busca por caminhos de diálogo entre as religiões, que passam essencialmente pela figura de Jesus: o exclusivismo, o inclusivismo e o pluralismo.7

        O exclusivismo é a corrente que crê na exclusividade do cristianismo como via de salvação humana. Os católicos e protestantes partem de premissas diferentes para a defesa dessa opinião. Enquanto católicos partem do pressuposto da eclesiologia, a posição do protestantismo está na perspectiva cristológica. O exclusivismo católico aponta para a Igreja Católica como a única instituição detentora dos meios necessários para a salvação, tal postura é expressa no axioma extra ecclesiam nulla salus(“fora da Igreja não há salvação”). O Concílio Ecumênico do Vaticano II consolidou o abandono dessa posição. O inclusivismo tem como ponto de partida, justamente, o cristocentrismo, ao colocar Jesus Cristo como a figura central do diálogo, deixando a figura da Igreja em segundo plano.8

        A posição cristã-protestante afirma a exclusividade de Jesus Cristo na salvação. Segundo essa posição, Deus revelou-se plena e exclusivamente em Jesus e fora dele não há revelação e salvação.9

        Em Jesus, faz-se presente a união hipostática. Uma verdade revelada desde o Antigo até o Novo Testamento, com os ensinamentos sobre a humanidade de Jesus. Era necessário que Cristo assumisse a natureza humana, não somente com todas as suas propriedades essenciais, mas também com todas as debilidades a que Sua natureza está sujeita. Ele precisava participar da natureza daqueles a quem veio redimir e ter o poder para subjugar todo o mal e a dignidade de valorizar Sua obediência e sofrimento. Portanto, do princípio ao fim da Bíblia, de Gênesis ao Apocalipse, um redentor Deus e homem é apresentado como objeto de suprema reverência,amor e confiança aos filhos dos homens que pereciam.10

        Dessa forma, no estudo da Teologia das Religiões, em função de seus objetivos e abordagem, Jesus é considerado um “problema cristológico”. As considerações da Teologia Liberal do século XIX são aplicadas como chave hermenêutica para reinterpretar o Evangelho. Assim, a leitura possível para o evento Cristo é a construçãoartificial e alegórica de um deus que se torna humano para depois retornar ao seu estado de divindade. Por fim, a Cristologia Clássica é refutada em sua declaração de que Cristo é a revelação máxima de Deus. Cristo seria apenas mais um caminho, mais um messias, mais um mestre iluminado dentre centenas ou milhares de centenas, ou milhares de religiões.11

        Assumindo que Jesus, como o Cristo, é central no Cristianismo, em uma tentativa de superar essa dificuldade, admite-se que, em termos gerais, essa narrativa permeia todo o Cristianismo, seja ele católico, ortodoxo, protestante, pentecostal ou neopentecostal. Dessa forma, fica evidente que Cristo é o ponto central do Cristianismo. A partir dele, temos a questão da promessa de salvação, a salvação e a esperança da salvação.12

        Mesmo assim, os teóricos do exclusivismo, diante da dificuldade do “problema cristológico” encontram em John Hick, teólogo católico, a primeira proposta para superá-lo, denominando-o de “mito do filho de Deus.13 Uma narrativa metafórica, não literal, construída sobre a encarnação do Jesus histórico, em função da passagem do Cristianismo Primitivo para o Cristianismo Estatal e que foi acolhida pelo Concílio de Niceia (325 d.C.), que dogmatizou a ideia de Filho de Deus como Deus-filho.

        Para Hick, Jesus foi um “profeta enviado por Deus”, alguém que tinha consciência de Sua missão como profeta de Deus e pregador do amor de Deus à humanidade. Assim, no pensamento de John Hick, o próprio Jesus histórico não reivindica a divindade nem parte dele a intenção de fundar uma nova religião. Construiu-se ao longo do tempo uma imagem do Deus-filho, salvador da humanidade a partir do sacrifício substitutivo por conta do pecado de Adão. Cristo, Deus, seria a solução para a salvação da humanidade. Hick vê nessa narrativa a armadilha do Cristianismo para seu fechamento inclusivista.14

        Contudo, o apologista cristão Louis Markos faz coro com a ótica cristã-protestante, ao apresentar uma apologética frente à narrativa hickiana de desconstrução do aspecto revelatório das Escrituras sobre a pessoa de Jesus como o Cristo, afirmando que os apologistas procuram, sim, restaurar a integridade intelectual da cosmovisão cristã, principalmente no meio acadêmico. A apologética é essencialmente conservadora em sua busca por preservar os credos da Igreja frente a tentativas liberais de despojar o cristianismo de elementos sobrenaturais e alegações universais da verdade, bem como das tentativas de substituir o Cristo da fé por um Jesus histórico.15

[1] Corrente filosófica gnóstica em ascensão no primeiro século, os quais diziam que aeon (a divindade), na união hipostática de Cristo, apossou-se de Jesus na hora de Seu nascimento e deixou-o na hora de Sua morte. In: Brunelli, W.  Teologia para Pentecostais: Uma Teologia Sistemática Expandida – Volume 2: Cristologia – Estudo sobre o passado de Cristo. Rio de Janeiro, RJ: Editora Central Gospel, 2016, p. 64.

[2] O termo grego ebionaioi é a transliteração do verbo hebraico ebionim, que significa “pobres”. Os ebionitas apareceram no ano 107 da Era Cristã e eram […] judeus-cristãos. Essa seita tinha um ensino exagerado sobre a pobreza. Como judeus, eles tinham dificuldade de aceitar a divindade de Cristo – devido ao monoteísmo judaico […] Negavam a divindade de Jesus e o nascimento virginal, pois o Velho Testamento ordena que somente a Deus deve-se adorar […] Para eles, Jesus foi um homem como outro qualquer, mas que observou a lei de forma especial, sendo assim escolhido por Deus para ser o Messias. Jesus teria sido capacitado pelo Espírito Santo, no batismo, para o cumprimento de uma tarefa divina, assim, logicamente, Jesus não tem como ser preexiste. In: AZAMBUJA, Lindsay (Ed.). Teologia Sistemática [Livro eletrônico]. Curitiba, PR: InterSaberes, 2014, p. 55.

[3] Negavam a deidade de Cristo.

[4] Teólogo alemão (20/08/1884 – 30/07/1976), tornou-se famoso por desenvolver uma teologia sobre a demitologização da Bíblia. Influenciou muito o pensamento teológico do século 20 […] Sua teologia consiste em descobrir um conceptualismo em que pudessem aproximar a mensagem do Novo Testamento a uma cosmovisão moderna e científica. In: BRUNELLI, Walter. Teologia para Pentecostais: Uma Teologia Sistemática Expandida – Volume 2: Cristologia – Estudo sobre o passado de Cristo. Rio de Janeiro, RJ: Editora Central Gospel, 2016, p. 110.

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