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O chamado e suas implicações

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“Apronte-se e vá à grande cidade de Nínive. Anuncie meu julgamento contra ela, pois vi como seu povo é perverso. Jonas se aprontou, mas foi na direção contrária, a fim de fugir do Senhor. Desceu ao porto de Jope, onde encontrou um navio que estava de partida para Társis. Comprou a passagem e embarcou para Társis, a fim de fugir do Senhor.”

Jonas 1.2,3

O profeta recebia um chamado da parte de Deus para comunicar a mensagem divina, ou seja, repousava sobre ele um propósito específico. Ao lermos no Antigo Testamento sobre a rejeição de Jonas ante a instrução divina de ir pregar aos ninivitas, somos confrontados, pois a desobediência dele tipifica a nossa própria desobediência. Mas o que há por trás desse tipo atitude?

Desde os primeiros relatos bíblicos não são poucas as referências em que homens e mulheres são chamados por Deus. O Deus que chama sempre se relacionou com a sua criatura de forma pessoal. “Quando soprava a brisa do entardecer, o homem e sua mulher ouviram o Senhor Deus caminhando pelo jardim e se esconderam dele entre as árvores. Então o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: ‘Onde você está? ’.” Gênesis 3.8,9. Esse relato não deixa dúvida da interação e proximidade divina com o primeiro casal. Quando eles pecaram, o criador não enviou um anjo, porém, pessoalmente, sentenciou-os e ao mesmo tempo descortinou o plano de salvação. (Gênesis 3.15,21) Foi com esse caráter pessoal que Deus também elegeria os seus para o serviço profético.

Ao chamar Noé e lhe dar a incumbência de fazer a arca, manifesta-se o Deus que não só daria atribuições de cuidar de um jardim, mas também daria a incumbência de sua criatura ser coadjuvante na ação de juízo e de salvação. (Gênesis 6. 14-18) Noé adverte seus contemporâneos, imersos na corrupção, sobre o julgamento divino. “Pela fé, Noé construiu uma grande embarcação para salvar sua família do dilúvio. Ele obedeceu a Deus, que o advertiu a respeito de coisas que nunca haviam acontecido. Pela fé, condenou o resto do mundo e recebeu a justiça que vem por meio da fé.” Hebreus 11.7 Ele constrói o refúgio, lugar de salvação para ele e sua família. “Não poupou o mundo antigo, mas protegeu Noé, que proclamava a justiça, e sete pessoas de sua família, quando destruiu com um dilúvio o mundo dos perversos.” 2 Pedro 2.5

Desde o início, Deus deixou ordens claras ao homem não para privá-lo, mas para protegê-lo. “Mas o Senhor Deus lhe ordenou: Coma à vontade dos frutos de todas as árvores do jardim, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Se você comer desse fruto, com certeza morrerá.” Gênesis 2.16,17 A própria natureza recebeu seus limites para que tudo estivesse em harmonia. “Quem estabeleceu os limites do mar quando do ventre ele brotou, quando eu o vesti com nuvens e o envolvi em escuridão profunda? Pois o contive atrás de portas com trancas, para delimitar seus litorais. Disse: ‘Daqui não pode passar; aqui suas ondas orgulhosas devem parar! ’.” Jó 38.8-11

O seu amor, longanimidade, misericórdia se fizeram presentes em todo tempo, manifestando assim sua graça no decorrer da história. No entanto a sua santidade não pode tolerar o pecado para sempre. 

Noé também é um modelo de aceitação ao chamado divino, posteriormente, nos deparamos também com o chamado do patriarca Abraão. “Pela fé, Abraão obedeceu quando foi chamado para ir à outra terra que ele receberia como herança. Ele partiu sem saber para onde ia.” Hebreus 11.8 Não existe recusa ao serem convocados pelo Senhor. Eles não questionam nem argumentam. São exemplos de uma submissão sem reservas.

No entanto o chamado de Moisés no monte Sinai preconiza o chamado profético de outros profetas, como também se pode estabelecer um paradigma entre a objeção dele, diante de sua grande missão, e a objeção de outros frente ao chamado divino. Moisés verbaliza a sua objeção diante de Deus. E Deus refuta seus argumentos. (Êxodo 3,4)

Todavia o profeta Jonas não faz uma recusa verbal; não argumenta, vai além. Ele foge da presença de Deus e do seu próprio chamado, indo para outro lado. Deus vai além de uma contra argumentação verbal como fez com Moisés. Jonas manifesta sua recusa de modo concreto. Da mesma forma, Deus se manifesta na concretude de uma tempestade e de um grande peixe. Depois de três dias nas profundezas do abismo, Jonas, dentro das entranhas do peixe, rompe o silêncio com uma oração. Deus escuta seu clamor e manda o peixe vomitá-lo. Então o profeta torna a ouvir a mesma mensagem do Deus imutável “Depois disso, o Senhor falou com Jonas pela segunda vez: “Apronte-se, vá à grande cidade de Nínive e transmita a mensagem que eu lhe dei’.” Jonas 3.1,2

A tarefa de Jonas não era fácil, parece que ele conduz o próprio inimigo à salvação e não à condenação. Como ele mesmo sabia, Deus seria misericordioso. Ele podia dizer de experiência própria, pois sua nação, Israel, era uma prova da longanimidade divina. Num primeiro momento não parecia haver nada épico na sua missão de pregar aos ninivitas. Os assírios eram inimigos memorosos de Israel, conhecidos por sua crueldade, principalmente, no que dizia respeito ao tratamento dos prisioneiros de guerra. Porém Israel foi chamado para dar testemunho do Deus verdadeiro na terra, então não seria um ato inovador Jonas ter sido enviado a esse povo. “E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.”

Em outro momento histórico Isaias profetizou a queda do inimigo e o triunfo de Judá diante das ameaças de Senaqueribe, incentivando o povo a confiar no Senhor para livrá-los. “Então Isaías, filho de Amoz, enviou esta mensagem a Ezequias: “Assim diz o Senhor , o Deus de Israel: Visto que você orou a mim a respeito de Senaqueribe, rei da Assíria, o Senhor proferiu esta palavra contra ele: ‘A filha virgem de Sião o despreza e ri de você. A filha de Jerusalém balança a cabeça com desdém enquanto você foge’. ”(Isaias 37.21,22).

No entanto, mais tarde, em outro momento crucial para o povo judeu, profeta Jeremias recebeu a difícil tarefa de anunciar que sua nação deveria sujeitar-se ao julgamento do Senhor submetendo-se ao cativeiro da Babilônia, um paradoxo. Algumas profecias pareciam ser desprovidas de prestígio, mas o Deus onisciente sempre esteve no controle de todas as coisas. (Jeremias 21,22)

No Novo Testamento podemos destacar o descontentamento de Tiago e João, eles desejaram que descesse fogo do céu e consumisse os samaritanos por não receberem Jesus. “Contudo, os habitantes do povoado não receberam Jesus, porque parecia evidente que ele estava a caminho de Jerusalém. Percebendo isso, Tiago e João disseram a Jesus: ‘Senhor, quer que mandemos cair fogo do céu para consumi-los? ’.” Lucas 9.53,54 O tempo entre Jonas os discípulos de Jesus é grande, porém o sentimento é bem parecido.

O Senhor Jesus nos deu o seu exemplo, Ele deve ser o nosso parâmetro. O apóstolo Paulo inspirado pelo Espírito Santo escreve que devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo, assim poderemos cumprir a carreira que nos foi proposta “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Filipenses 2. 7,8

Concluímos que por trás da atitude de desobediência do profeta Jonas está o velho “eu” sempre preocupado consigo mesmo, insubmisso. Hoje como Jonas continuamos a lutar com nós mesmos, continuamos a encarar nossos próprios ninivitas. Eles podem ser pessoas difíceis, lugares desconfortáveis de estar, sentimentos conflitantes, entre tantas outras questões. O que permanece é que o Espírito Santo continua a nos chamar para manifestar a vontade do Pai, não só através da palavra falada ou escrita, mas através de nós mesmos, através de nossas atitudes que devem mostrar a longanimidade, o amor, a misericórdia de Deus: a sua graça! Diante de uma geração perversa, para que o Reino de Deus seja implantado na terra. “Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim…” Gálatas 2.20a

O tempo se encerrou para a geração do dilúvio, para Nínive e para o Império Babilônio. A porta da graça também se fechará, e todos terão que comparecer não diante de um profeta, mas diante do Senhor, juiz dos vivos e dos mortos.                                  

Referências: BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Almeida Revista e Atualizada. Barueri-SP. Editora Cultura Cristã, 2009. 1984 p.

https://www.bibliaonline.com.br/nvt

House, Paul R. Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Editora Vida, 2005.760 p.

Ellisen, Stanley A.Conheça Melhor o Antigo Testamento, São Paulo: Editora Vida, 2007. 424p.

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